Cadê o suco de laranja lima do bebê?
Nossa colunista explica as recomendações atuais que indicam priorizar frutos em vez de sucos antes do primeiro ano de vida
Muitos dos bebês que estão em suas primeiras experiências alimentares não estão tomando o suquinho de laranja lima que, provavelmente, foi o primeiro alimento ofertado aos seus pais. Atualmente, a diretriz é que bebês menores de 1 ano não tomem o suco, mas, sim, comam a fruta in natura. Mas você sabe o que motivou essa nova recomendação, que tem sido feita pelos pediatras e nutricionistas?
Um dos fatores é o espaço que a amamentação vem conquistando. Desde 1979, a Organização Mundial da Saúde (OMS) sugeria que o aleitamento materno exclusivo fosse mantido até os 4-6 meses de vida. Em 2001, uma nova orientação enfatizou a necessidade de apoiar o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e proporcionar uma alimentação complementar segura e apropriada, em paralelo à amamentação, até os 2 anos de idade.
Nesse sentido, alinhado com a OMS, o Brasil investiu no incentivo ao aleitamento materno e é possível constatar que os índices aumentaram gradativamente por aqui. Pesquisas nacionais apontam que, em 1986, somente 3,6% das crianças eram amamentadas de forma exclusiva até o quarto mês de vida e, em 2008, ainda longe do ideal, mas num salto expressivo, 41% dos lactentes estavam em aleitamento materno exclusivo até o sexto mês.
O processo de alimentação complementar, também conhecido como introdução de sólidos, deve ocorrer quando o bebê estiver apto a desenvolver as habilidades necessárias para o ato de comer e tolerar e aproveitar o alimento e seus nutrientes. Essa prontidão física, neurológica e imunológica ocorre por volta dos 6 meses, em concordância com o marco delimitado pela OMS.
O Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também indicam a introdução de sólidos aos 6 meses, mas sabemos que há uma grande variabilidade de recomendações entre os países. Como a alimentação tem um forte componente cultural, é esperado que as práticas alimentares, desde as primeiras experiências, variem de acordo com cada nação e se modifiquem com o passar do tempo.
Nesse novo cenário brasileiro, pensando em um bebê que mama até os 6 meses e começa a comer com mais condições para tal, o suco de laranja, que fez sentido em outra época, perdeu seu lugar para um alimento sólido, com o qual o bebê pode interagir e aprender a desenvolver sua autonomia.
Paralelamente, nos últimos 40 anos tivemos uma diminuição dos índices relacionados à desnutrição e um aumento na prevalência de excesso de peso e obesidade, inclusive entre crianças. Esse processo, conhecido como “transição nutricional”, motivou algumas mudanças nas recomendações alimentares, caso da restrição ao consumo de açúcar, que deve ser evitado até os 2 anos de vida.
O suco de frutas, que parece uma opção bacana, tem bem menos fibras do que a fruta in natura e deixa o açúcar da fruta em solução, o que poderia acelerar sua absorção. Ainda pensando no risco de excesso de peso, é bem pouco provável que um bebê coma três laranjas de uma vez, mas não é difícil tomar um copinho de suco feito com três laranjas espremidas. Com isso, a partir de 2012, a SBP passou a recomendar que o suco seja evitado para bebês menores de 1 ano.
Ora, se com 6 meses o bebê já está pronto para sentar, interagir com o alimento e mastigar, podemos explorar os diferentes sabores e texturas, rumo à formação de um bom hábito alimentar.