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Nutrindo futuros

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Com o olhar lá na frente, a nutricionista e expert em tendências Cynthia Antonaccio aborda neste espaço os movimentos de lifestyle que impactam a vida dos consumidores, a rotina dos profissionais e o mercado de saúde

COP30 pede virada: a saúde do planeta está em jogo no seu prato

Em tempos de mudanças climáticas, é preciso decolonizar o prato e valorizar os sabores locais da Amazônia

Por Cynthia Antonaccio
30 ago 2025, 04h00
dieta-amazonica
Com a dieta amazônica, população da região passa dos 80 anos com muita disposição (Ilustração: Rômolo/SAÚDE é Vital)
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O Antropoceno, a era discutida pela ciência onde o homem altera o curso da natureza, já não é mais um conceito acadêmico: ele é o nosso dia a dia. A COP30 — maior conferência global sobre clima — faz um chamado ao Brasil e a você, que faz parte da última geração capaz de salvar a vida planetária.

Embora o evento aconteça em Belém, ninguém precisa ir até o Pará para começar a colocar em prática a proposta do encontro global. Basta olhar para o próprio prato e se perguntar: de que lado você está quando escolhe o que vai comer?

Industrializamos o comer. Saímos do campo em nome da pressa e da conveniência. Foi um movimento cultural, necessário em outro momento histórico. Mas, hoje, algo em nós pede outra coisa.

Nosso corpo pede retorno às origens, pede reintegração, pede solo. Pede alimentos que carreguem biomas, territórios e histórias. Pede o cheiro de terra molhada, o azedo de um fermentado que passou de geração em geração, o peixe de água doce que traz rio e cultura no mesmo sabor.

Queremos praticidade e prazer — eu, como nutricionista do comportamento alimentar, sei que isso faz parte da vida. Mas queremos também natureza, e natureza pede presença.

+Leia também: Cozinhe pelo seu bem: entenda como esse hábito pode salvar sua saúde

Uma nova agenda alimentar

“Sustentabilidade mantém; regeneração repara, cura e recria.”

Essa foi uma das maiores lições que reaprendi durante os cinco meses de imersão na rede internacional Gaia Viva.

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Por isso, acredito que a COP30 precisa marcar a virada de uma agenda de mitigação para uma agenda regenerativa, em que o Brasil mostre todo o seu protagonismo: nossa Amazônia, nossos conterrâneos, nosso potencial de não apenas alimentar o mundo, mas de regenerar ecossistemas e culturas.

E isso só será real se governos, indústrias e comunidades construírem juntos uma nova narrativa alimentar, capaz de regenerar vidas, negócios e territórios — sem abrir mão da tecnologia como aliada.

Minha Amazônia pessoal e profissional

Sou manauara, radicada em São Paulo. Cresci entre o Rio Negro e espinhas de peixe catadas na boca. Para mim, falar de comida na COP30 é falar de casa: floresta, tambaqui, taperebá, ingá e tacacá. E também de nutrição, clima, ciência — e, por que não, de tecnologia e bionegócios?

Numa visita recente a Manaus, conheci o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) e vi pesquisas que mostram como o açaí, a pupunha e o cupuaçu — sabores do meu quintal — carregam potenciais para a saúde global. Ali, no encontro entre ciência e floresta, confirmei meu mantra inspirado em Ailton Krenak:

“O futuro é ancestral. E é tecnológico.”

No Gaia Viva, aprofundei esse olhar ao mergulhar nas palavras de Nego Bispo: vivemos um período único de decolonização — das pessoas, das relações e, portanto, do prato e da política alimentar.

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+Leia também: Um futuro possível é um futuro ancestral

Decolonizar o prato é estratégia de sobrevivência

Falar de alimentação na COP30 é decolonizar nossos sistemas alimentares: reconhecer saberes originários, reparar danos e garantir que biodiversidade e cultura caminhem juntas.

É dar lugar ao manejo indígena que mantém a floresta viva, aos sistemas agroflorestais que equilibram produção e ecologia, às receitas que carregam memória e território.

Decolonizar não é nostalgia: é estratégia de sobrevivência. Saúde planetária não é só carbono ou métricas climáticas: é corpo, comunidade e cultura. Não existe saúde individual em um planeta doente.

Industrializamos o comer, mas não o prazer. Não é só sobre ultraprocessados, mas sobre termos transformado cultura em logística. Apressamos a comida e, no caminho, perdemos histórias. O corpo pede equilíbrio: pede o sabor que vem da terra, da sazonalidade e dos nossos biomas únicos. O corpo e a alma pedem comida que nos lembre quem somos.

+Leia também: Dieta planetária: é boa para a Terra, é boa para a cabeça

Indústria, Estado e comunidades: a mesa onde a mudança se serve

Não basta trocar rótulos. O que está em jogo é o ato mais íntimo e coletivo que existe: comer.

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A indústria pode ser ponte — se temperar lucro com ética e impacto regenerativo.

O Estado pode acelerar — com políticas que coloquem alimentos de múltiplos solos e biomas na mesa de todos.

Mas nenhuma lei substitui o que cada comunidade planta, o que cada família cozinha e o que cada um de nós mastiga. A mudança começa no prato — que também é emoção, cultura, corpo e planeta.

Um convite da Amazônia para o seu garfo

Meu convite é simples:

  • Programe uma viagem ao Amazonas. Sinta o Rio Negro, visite o CBA, prove açaí direto do igarapé.
  • Sente-se à mesa de um restaurante amazônico. Se for de um chef local, melhor ainda — mande um abraço meu. E se deleite! Coloque floresta no seu garfo: tucupi, jambu, pacu, com farinha do Uarini e pimenta murupi, acompanhando uma matrinxã bem “ticada”, de preferência sem espinhos.
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Cada escolha alimentar é também política climática. Em Manaus, vivemos a maior cheia dos rios após uma estiagem histórica. Cada refeição pode regenerar solos, culturas e relações.

O tempo de esperar passou. O seu prato é agora.

Cynthia Antonaccio, nutricionista e manauara

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