Contar calorias é coisa do passado: agora contamos carbono
Falar de alimentação saudável envolve, necessariamente, a discussão sobre mudanças climáticas e o que podemos fazer a respeito delas
Foi-se o tempo em que a nutrição falava apenas sobre corpos e comidas. Hoje, a nossa grande missão é ajudar a preparar o planeta e seus habitantes para um futuro de recursos limitados.
Nunca foi tão importante discutir sobre disponibilidade de alimentos, já que, além do crescimento exponencial da população (talvez sejamos 10 bilhões até 2050!), estamos em pleno Antropoceno. O conceito, que ainda não é consenso entre especialistas, define o período marcado por uma devastadora interferência humana no meio ambiente — esta sim bem estabelecida pela ciência.
Entre os resultados desta ação, estão a extinção de espécies, o desmatamento, o acúmulo de lixo, o aquecimento global e o risco de esgotamento de recursos naturais.
Mas, parafraseando Barack Obama, “somos a primeira geração que sente as consequências das mudanças climáticas e a última que tem a oportunidade de fazer algo para detê-las”. E a boa notícia é que já estamos fazendo.
Empresas, governos, ONGs, ativistas e consumidores têm se comprometido em criar maneiras sustentáveis de consumo, com menor impacto no meio ambiente. Como se diz por aí, ser saudável não se trata mais de contar calorias, mas sim de contar emissão de carbono.
Com exceção das marcas que ainda acham que ESG é apenas uma maneira de fazer bonito no mundo corporativo (o greenwashing), há duas práticas corporativas emergentes que levam a sério o ecossistema e você pode ficar de olho para apoiar com suas escolhas. São elas:
- Empresas sustentáveis: aquelas que adotam iniciativas para compensar seu impacto ambiental com economia circular e iniciativas de agricultura regenerativa, prezam pelo “desperdício zero”, fazem uso de insumos sustentáveis, apoiam a reciclagem e até o mercado de plant based;
- Empresas regenerativas: as que já nascem com o propósito de não causar impacto e de reutilizar materiais, contribuindo para a recuperação ambiental em processos ditos “coevolucionários”.
E como nós, consumidores, podemos atuar para construir esse futuro?
Zerando o desperdício
Mais de um bilhão de refeições vão para o lixo todos os dias e 1/3 da produção global de alimentos é desperdiçada.
Para ajudar a evitar o que toda essa comida seja jogada fora, minha dica é adotar e divulgar iniciativas como Comida Invisível, Too Good to Go, Refood, FoodToSave, B4waste e Fruta Imperfeita. Elas viabilizam a doação ou a venda a um valor bastante acessível de alimentos que seriam descartados.
Outra opção é consumir produtos com selos de programas eficientes de economia circular e reciclagem. Alguns exemplos dessas certificações: eureciclo, Certificação B, Carbon Free, Rainforest Alliance, Fairtrade, Selo IBD Orgânico e Sisorg.
E, claro, ficar sempre atento às “futurices” do universo foodtech. Já são uma realidade, por exemplo, o Stixfresh, adesivos para frutas que fazem com que durem mais tempo na geladeira; as embalagens inteligentes, que postergam a degradação de produtos frescos e podem até mesmo ser comestíveis; e o Silo by Amazon, utensílio para guardar alimentos com vedação a vácuo, que informa o momento certo da reposição de cada item estocado.
+ Leia também: Startup alia oferta de orgânicos e combate ao desperdício
Novo olhar
Não é à toa que eu digo que a sustentabilidade se tornou o novo olhar da saúde. Por isso é tão importante conhecer a história dos alimentos que chegam até nossa mesa, saber como as empresas cuidam dos produtores e dos recursos naturais que utilizam.
Durante o SXSW deste ano, o maior festival de inovação do mundo, por exemplo, conheci o Tony, um empreendedor holandês do mercado de chocolates. Fiquei maravilhada ao descobrir que a marca Tony’s Chocolonely garante uma cadeia de fornecimento de cacau 100% livre de trabalho escravo e infantil, promovendo transparência, pagamentos justos e práticas agrícolas sustentáveis.
No Brasil, uma iniciativa parecida é o movimento Cocoa Plan, da Nestlé.
Aproveite e diversifique
Combater o desperdício não é só evitar que comida boa vá para o lixo: é criar maneiras de aproveitá-la integralmente. Com esse pensamento, diversas empresas e iniciativas nacionais têm desenvolvido produtos inovadores a partir do reaproveitamento de alimentos que antes seriam descartados.
Separei alguns exemplos:
- Do suco ao bagaço: imagine que, a cada castanha de caju torrada e salgadinha que você saboreia, um fruto inteirinho vai para o lixo? Pois chega disso: uma startup do Piauí vem usando a fibra do caju para criar novos produtos alimentícios e até etanol.
- A cara do Brasil: desenvolvido pela Embrapa, o cupulate é feito com sementes de cupuaçu e substitui o chocolate convencional, com menor pegada de carbono e impacto positivo nas comunidades ribeirinhas produtoras do fruto.
- Na rede: o índice de desperdício do pescado em nível mundial chega a 70%. Organizações ao redor do planeta, muitas delas brasileiras, vêm transformando resíduos da filetagem de peixe em óleo, farinha, adubo e mais, beneficiando consumidores e pescadores.
- Com colarinho: sabe aquela espuma da cerveja que divide opiniões? Pois para uma startup norte-americana ela é essencial, já que serve de matéria-prima para barrinhas de cevada. A empresa chega a produzir até 15 mil dos snacks por dia. Não é demais!?
São ideias simples, mas de impacto imensurável, que mudam a vida de milhares de pessoas diariamente. Afinal, sustentável mesmo é alimentar a todos, garantindo o futuro dos recursos.
Quer saber de mais inovações como estas? Fique de olho no nosso site e visite o empório de saudáveis mais perto de você, já vestindo essas lentes da sustentabilidade.