Novo estudo reforça que não existe “uma” causa para o autismo
Pesquisa internacional mostra que o momento do diagnóstico do autismo está ligado a variações genéticas e diferentes trajetórias de desenvolvimento
Caminhos distintos podem levar a um mesmo destino. Estradas que passam por paisagens diferentes, expõem cenários distintos, com belezas e acidentes geográficos variados, mas que terminam por chegar ao mesmo ponto.
Esses percursos diferentes também demoram tempos diferentes para serem realizados. Saindo dos Alpes, dos Apeninos, do Tirreno ou do Adriático, os caminhos levam a Roma.
Na medicina há um caminho longo entre o reconhecimento de uma condição clínica e a decifração dos fatores e elementos que levam ao surgimento do quadro descrito. Durante esse percurso podemos nos deparar com diferentes origens que podem levar ao cenário clínico, manifesto, em aparência, de uma mesma maneira.
Uma hepatite, por exemplo, pode ser causada por tipos diferentes de vírus, com sequelas distintas, mas também por ingestão excessiva de álcool, intoxicação por substâncias e medicamentos ou ainda ser uma agressão autoimune do corpo contra si mesmo.
Com o autismo, não é diferente, mesmo que não estejamos aqui tratando de uma condição gerada por um vírus, como é o caso da doença do fígado. Um artigo recém-publicado na revista Nature, por um consórcio de centros de pesquisa internacionais, identificou que o autismo diagnosticado em fases precoces da infância difere geneticamente do autismo diagnosticado no início da adolescência.
Ou seja, o fato de uma pessoa receber o diagnóstico muito cedo ou mais tarde na vida não tem a ver somente com questões de acesso aos serviços de saúde ou ao nível de conhecimento e sensibilidade dos pais sobre o tema, mas é expressão de uma diferença genética que faz com que seus sintomas se tornem mais facilmente perceptíveis em uns do que em outros, mudando o tempo do diagnóstico.
Duas trajetórias genéticas no espectro autista
Essa pesquisa revelou duas trajetórias entre os indivíduos estudados: uma com dificuldades persistentes na infância e outra com dificuldades que aumentam na adolescência. As análises mostraram que a correlação genética entre esses dois diferentes grupos de autistas varia conforme a idade do diagnóstico.
Os fatores associados a essas diferenças também determinam correlações genéticas distintas com condições de saúde mental e cognitivas. O fator associado a diagnósticos precoces tem correlações genéticas baixas com condições como TDAH e desempenho educacional. Já o fator associado a diagnósticos tardios está ligado a taxas mais altas de depressão e ansiedade.
Ou seja, as comorbidades observadas em certas pessoas do espectro e não em outras têm de ser pensadas também como um aspecto biológico e não somente biográfico — e essa diferença pode determinar o fato de o diagnóstico ser recebido em outro momento da vida.
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Os autismos são plurais
A importância dessa pesquisa é demonstrar que o autismo é esse território de relevo tão variado quanto os caminhos que conduzem até ele. Nesse sentido, discursos que prometem a cura do autismo, como se bastasse encontrar um único mecanismo responsável pela produção de todas as sutis diferenças que compõem o mosaico completo do que é o autismo de cada autista, são falaciosos e desconsideram o que a clínica já mostrava, mas que a genética reafirma.
Pessoas autistas, como todas as pessoas, são plurais. Os autismos também.
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