Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

O Futuro do Diabetes

Por Blog Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e criador do Endodebate e do Diacordis. Aqui ele mapeia os cuidados e os avanços para o controle do diabetes
Continua após publicidade

O peso da perda de peso na remissão do diabetes

Em artigo especial, nosso colunista esmiúça como o emagrecimento e novos tratamentos para a obesidade impactam o controle do diabetes

Por Carlos Eduardo Barra Couri
Atualizado em 18 nov 2022, 11h10 - Publicado em 18 nov 2022, 09h47
  • Seguir materia Seguindo materia
  • No ano passado, após décadas de discussão, a Associação Americana de Diabetes (ADA) validou o uso do termo “remissão” para o diabetes tipo 2. O que isso significa? Muita calma antes de tirar conclusões precipitadas! Remissão não é nem sinônimo de cura nem de reversão da doença.

    É como se o diabetes estivesse tão sob controle que aparentemente tivesse desaparecido em um período. E isso tem muito a ver com o peso. Estudos recentes mostram que a eliminação sustentada de cerca de 15% do peso corporal original é capaz de promover a remissão do diabetes tipo 2. Tudo porque, em grande parte das pessoas com o problema, os desarranjos no organismo começam silenciosamente quando elas engordam.

    Mas perder 15% do peso é muito? De fato, é! Imagine uma pessoa com 90 quilos eliminando mais de 13 quilos. Só que não pense que é fácil cumprir (e manter) essa meta. A genética humana não foi programada, ao longo dos milênios, para se adaptar à fartura, mas para sobreviver em meio à escassez.

    Para o corpo do Homo sapiens, a perda de peso é vista como sinal de perigo. Ocorre que o mundo e os hábitos mudaram, e a oferta de comes e bebes hoje costuma suplantar a demanda de calorias. Junte a alimentação desequilibrada ao sedentarismo e o resultado será o ganho de peso.

    O ponto é que não é preciso emagrecer demais para ganhar saúde em troca. Pequenas perdas de peso, desde que sustentadas, já trazem grandes benefícios.

    As pesquisas sugerem que cortar ao redor de 10% do peso original melhora o controle da artrose de joelho (a articulação é sobrecarregada pelos quilos extras), gordura no fígado, hipertensão, apneia do sono, níveis elevados de triglicérides no sangue etc.

    Continua após a publicidade

    Uma maneira de atingir a tão sonhada perda de 15% do peso para a remissão do diabetes tipo 2 — algo que propicia outras vantagens para o organismo — é se engajar numa mudança intensiva de estilo de vida. Isso contempla, pelo menos, um padrão alimentar saudável associado à atividade física regular.

    Mas não adianta seguir essa rotina só por um tempo. Os hábitos e a perda de peso devem ser sustentados!

    + ASSISTA: Fórum discute como melhorar o controle do diabetes no Brasil

    Para cravar a remissão do diabetes, o indivíduo precisa estar sem tomar remédios para o controle da glicemia por pelo menos três meses e estar com o exame de hemoglobina glicada menor que 6,5% — este é uma espécie de dedo-duro da doença, fornecendo uma média da glicose no sangue nos últimos três, quatro meses.

    Vários estudos clínicos constataram que, sim, é possível perder mais de 15% do peso com mudanças no estilo de vida. Só que não é fácil. Não é fácil nem mesmo dentro de um programa de pesquisa, com acompanhamento e tudo, que dirá no mundo real!

    Continua após a publicidade

    Outra forma de atingir esse patamar de redução do peso se dá por meio de procedimentos cirúrgicos — realizados via endoscopia, laparoscopia, com suporte de robôs ou a céu aberto. A cirurgia bariátrica ou metabólica chega a promover perdas de peso superiores a 15%, podendo chegar a números próximos a 40%. Quando bem indicadas, elas trazem qualidade de vida e contribuem para a remissão de diversos males, entre eles o diabetes tipo 2.

    Há um terceiro caminho para eliminar cerca de 15% do peso original — e, que fique claro, nenhuma via exclui a adoção de hábitos saudáveis. É a prescrição e o uso de medicamentos antiobesidade. São comprimidos ou injeções que modulam o apetite e estimulam o emagrecimento.

    Em 2023, teremos o lançamento no Brasil de alguns remédios capazes de promover perdas de peso nunca antes vistas. Um deles é a combinação fixa de dois princípios ativos na mesma pílula, naltrexona com bupropiona. Num seguimento de seis meses, a redução média de peso foi de 8% em pessoas com obesidade.

    Também teremos a chegada de duas medicações utilizadas uma vez por semana com injeção subcutânea. A semaglutida em nova dosagem (2,4 mg) promoveu, nos estudos clínicos, uma perda média de 17% do peso em um ano e meio em voluntários com obesidade.

    Continua após a publicidade

    E a tirzepatida é uma molécula que, numa população semelhante, levou à perda média de 21% do peso, um feito inédito entre medicamentos.

    A indicação do remédio, dos novos às opções que já temos no mercado, é feita sempre pelo médico, pesando fatores individuais — e até é possível combinar drogas com mecanismos de ação diferentes. Mais uma vez, isso não dá carta branca para uma vida desregrada.

    Pesquisas em andamento buscam confirmar se o tratamento da obesidade com esses novos fármacos ainda reduz o risco de ameaças ligadas ao excesso de peso e ao diabetes, como infarto, derrame cerebral e insuficiência cardíaca.

    + LEIA TAMBÉM: O que está mudando no tratamento do diabetes

    BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

    DISTRIBUÍDO POR

    Consulte remédios com os melhores preços

    Favor usar palavras com mais de dois caracteres
    DISTRIBUÍDO POR
    Continua após a publicidade

    Desafios persistentes

    Na minha visão, o desafio com esses novos remédios toca em algo que já testemunhamos de longa data: o engajamento do paciente no tratamento de longo prazo. É comum ver pessoas abrindo mão da terapia e retornando aos maus hábitos assim que perdem um percentual do peso.

    Ou trocando o certo pelo duvidoso, partindo para dietas ou chás falsamente milagrosos.

    Os médicos também influenciam na falta de engajamento para a perda de peso. A primeira edição da pesquisa Receita de Médico, realizada com 654 profissionais brasileiros (a maioria endocrinologistas e cardiologistas), revela que 47% deles não consideram que o tratamento da obesidade deve ser algo constante, permeando a vida toda.

    O estudo, recém-apresentado no congresso híbrido Diacordis 2022, mostra que 33% dos médicos suspendem o tratamento quando acreditam ter conseguido uma boa redução de peso.

    Continua após a publicidade

    Enquanto não podemos falar em cura definitiva do diabetes tipo 2, temos cada vez mais certeza de que a alimentação balanceada, a atividade física regular e, se necessário, o uso de medicamentos ou a cirurgia bariátrica são o roteiro para angariar uma vida com qualidade e livre de complicações e sequelas.

    Essa é a rota indicada pela ciência para a remissão do diabetes tipo 2. Só devemos ter sempre em mente o desafio de manter a rotina de cuidados, o engajamento no tratamento e a parceria médico-paciente para evitar a volta do peso perdido — e das doenças.

    Compartilhe essa matéria via:
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY
    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês

    ou
    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.