Tireoide: por mais bom senso na indicação de exames e tratamentos
Na data mundial de conscientização sobre os problemas na tireoide, especialista explica por que "menos" pode ser "mais" no diagnóstico e controle
Todos os anos, ao redor do dia 25 de maio, ocorre a Semana Internacional da Tireoide, na qual abordamos e compartilhamos informações relevantes sobre a saúde dessa glândula tão importante para o bom funcionamento do corpo todo.
Em 2022, o tema escolhido pelo Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) para ser esclarecido junto à população é a necessidade de parcimônia na indicação de exames e tratamentos para a glândula. O lema deste ano é: “Menos é Mais”.
Os problemas mais frequentes que acometem a tireoide são o hipotireoidismo e os nódulos. A prevalência dos nódulos vai depender da população avaliada e do método utilizado para sua detecção, sendo mais comuns em mulheres e com o passar da idade.
São observados, à palpação, em cerca de 5% dos pacientes, e, com a ultrassonografia, em até 60% dos indivíduos. Além da elevada frequência, o risco de malignidade contribui para prestarmos atenção a eles na prática clínica. O exame mais sensível para investigar se um nódulo pode tratar-se de um câncer é a punção aspirativa por agulha fina.
Porém, é importante ressaltar, como coloca a campanha da Sbem deste ano, que a grande maioria dos nódulos é benigna. Ou seja, quanto mais exames de imagem são realizados, mais nódulos de tireoide são detectados, muitos dos quais não terão repercussão alguma sobre a saúde.
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O hipotireoidismo, caracterizado pela redução na produção dos hormônios tireoidianos e pela lentificação de vários processos do organismo, também apresenta prevalência significativa e variável. É outra condição mais comum em mulheres e com o avançar da idade.
Em testes laboratoriais, a disfunção é identificada por concentrações reduzidas nos níveis de tiroxina (T4) e elevadas do hormônio estimulador da tireoide (TSH) no sangue. Os pacientes podem apresentar uma série de manifestações clínicas, que incluem lentidão de raciocínio, redução da memória, diminuição da frequência cardíaca, obstipação intestinal, entre outras.
Apesar de poderem impactar a qualidade de vida, nem sempre as alterações tireoidianas demandam maiores procedimentos para investigação e tratamento. E, quando indicados, estes devem ser realizados na medida exata em que são necessários.
Quanto à investigação dos nódulos de tireoide, por exemplo, a ultrassonografia somente deve ser solicitada na suspeita de lesão anatômica na glândula. Da mesma forma, nem todo nódulo detectado na ultrassonografia necessita ser puncionado. Para tal decisão, fatores relacionados ao estado do paciente e às características do nódulo precisam ser considerados.
Para pacientes com suspeita de hipotireoidismo, por sua vez, a solicitação das dosagens sanguíneas de TSH e T4 livre são, em geral, suficientes para confirmar o diagnóstico, não sendo necessárias outras dosagens hormonais ou exames mais invasivos.
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No entanto, nem todos os pacientes com alteração discreta nas concentrações de TSH no sangue possuem, de fato, hipotireoidismo. Os idosos podem apresentar concentrações sanguíneas de TSH mais elevadas do que a população em geral. Dessa forma, tratá-los sem uma indicação adequada poderia implicar em riscos.
Além disso, nos casos que precisam de tratamento, é necessária cautela a fim de evitar excesso de medicação, situação capaz de resultar em um quadro conhecido como tireotoxicose medicamentosa.
Durante o acompanhamento dos pacientes com hipotireoidismo em tratamento, recomenda-se contar com exames de controle a cada seis meses, não sendo necessário um monitoramento mais constante, a menos que haja indicação clínica.
Em resumo, na abordagem das alterações na tireoide, o bom senso deve prevalecer. E ele manda evitar os exames que não vão acrescentar informações relevantes, bem como levar a excessos terapêuticos. Lembrando: muitas vezes, “menos é mais”.
* Gláucia Mazeto é endocrinologista, membro do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e professora da Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp