Por que devemos ter equipamentos de proteção para a saúde mental
Jornalista lança movimento por medidas que zelem pela bem-estar no trabalho, priorizando a prevenção de casos de assédio e a flexibilidade no dia a dia
Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Ministério da Previdência Social, Justiça do Trabalho… Será que todas essas instituições estão erradas quando reforçam a importância da saúde mental no ambiente de trabalho?
Será que estão mentindo quando revelam o impacto da falta de cuidados no crescente índice de afastamento dos trabalhadores?
Será que o Centro de Pesquisa de Política Econômica da União Europeia se equivoca quando demonstra que pessoas com diagnóstico de burnout podem sofrer danos graves e duradouros em sua carreira — e as mulheres são três vezes mais suscetíveis a essas consequências?
Ou que as repercussões do esgotamento estendem-se à família, reduzindo o rendimento do cônjuge e até mesmo o desempenho escolar dos filhos? Será que a Constituição Federal de 1988, que garante o direito à saúde mental a todo cidadão, está obsoleta?
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E o que dizer das perdas de quase 400 bilhões de reais por ano no Brasil devido a desafios psíquicos e emocionais, de acordo com pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais?
Dados e constatações não faltam para nos alertar que a educação em saúde mental é uma demanda urgente para enfrentar um fenômeno concreto, doloroso e caro para toda a população. Mesmo assim, onde estão os EPIs da saúde mental? Sim, equipamentos de proteção individual!
Para evitar riscos físicos, trabalhadores dispõem de capacete, bota, luva, protetor auricular etc. Inclusive há campanhas para o uso deles nas fábricas e multa para quem descumpre as regras. Mas e os riscos psicológicos?
Mesmo sentada, sem me expor a perigos visíveis, posso adoecer se negligenciar sinais sobre meus limites cognitivos e emocionais. Como ainda tem gente que prefere ignorar os fatos e continuar pensando como no século passado, cansei!
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Cansei de ficar de braços cruzados diante de tanto conhecimento acumulado. Cansei de ouvir as mesmas desculpas preguiçosas sobre tabus e preconceitos em torno do tema.
Por isso — e por todas as pessoas que já foram questionadas e julgadas por suas dores invisíveis e diagnósticos não respeitados —, lanço o primeiro manifesto mundial em prol da criação dos EPIs da saúde mental.
A partir de agora, vou jogar mais luz nas ideias e projetos que já estão funcionando, nos aprendizados que podem ser compartilhados e adaptados entre as empresas. Vou organizar dados e encontros buscando fazer e mudar a história.
Mas o que seria um EPI da saúde mental? É o letramento da liderança em segurança psicológica, é a prevenção de qualquer tipo de assédio, é o direito à desconexão, é a flexibilidade de tempo e local de trabalho, é o acesso a sessões de terapia, é a possibilidade de realizar uma jornada de autoconhecimento ou turismo interno, como chamo o processo de atualização de identidade.
Não adianta reclamar de ambiente tóxico se tenho comportamentos tóxicos. É preciso desenvolver autorresponsabilidade — por você e pelos outros. Saúde mental é um direito, não um privilégio. É hora de escolher se continuaremos perdendo tempo negando o inegável ou estaremos à altura dos novos desafios.
*Izabella Camargo é jornalista e idealizadora dos movimentos Produtividade Sustentável e EPIs da Saúde Mental.