Nada é tão ruim que não possa piorar. É desta forma que a maioria das doenças cardiológicas de alta complexidade se desenvolve. O que no início era apenas um colesterol alto, que poderia ser regularizado com alimentação balanceada e prática de exercícios físicos, por exemplo, quando não tratado, pode acabar evoluindo para um infarto agudo do miocárdio.
Isto porque o organismo passa a acumular “placas de gordura” nas artérias, o que dificulta ou impede a passagem de sangue, levando a uma “morte” dos tecidos que eram irrigados por elas e causando o colapso do coração. A condição é de extrema gravidade e a maior causa de morte no país. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que, no Brasil, ocorram de 300 mil a 400 mil casos anuais e que a cada 5 a 7 casos aconteça um óbito.
Os sobreviventes ainda correm o risco de precisar lidar com mais uma condição cardiológica de alta complexidade: a insuficiência cardíaca. Caracterizada pela dificuldade de bombear sangue adequadamente, a doença se desenvolve, principalmente, a partir do infarto agudo do miocárdio, da hipertensão descontrolada, de problemas nas válvulas cardíacas (mais típicas do envelhecimento) e da miocardite (infecção viral que afeta o músculo do coração).
No Brasil, há, aproximadamente, dois milhões de pessoas com insuficiência cardíaca e 240 mil novos casos são diagnosticados a cada ano.
+Leia também: Insuficiência cardíaca: fôlego para o coração cansado
Também existe o perigo de os infartados desenvolverem arritmia cardíaca, assim como aqueles que não têm hábitos saudáveis, sofrem de estresse, ansiedade, desregulação do hormônio da tireoide, obesidade, entre outros.
Em um ritmo normal, o coração de uma pessoa em repouso bate de 50 a 90 vezes por minuto. Quando as batidas estão mais lentas, aceleradas ou irregulares, temos o diagnóstico. A doença atinge mais de 20 milhões de brasileiros e gera mais de 300 mil mortes súbitas ao ano no país, segundo a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).
Ainda que a maioria dos casos de doenças cardiológicas de alta complexidade evoluam ao longo de anos de negligência de cuidados com a saúde, também existem as malformações estruturais no coração, chamadas de cardiopatias congênitas.
A condição afeta 10 a cada 1.000 nascidos vivos, cerca de 30 mil crianças por ano, de acordo com o Ministério da Saúde. Por causa das complicações, as cardiopatias congênitas são responsáveis por cerca de 8% dos casos de mortalidade infantil no Brasil.
Diagnóstico e tratamento das cardiopatias congênitas
O diagnóstico dessas condições, geralmente, envolve exames de imagem, como ecocardiogramas e ressonâncias magnéticas, além de testes de esforço e cateterismos. O avanço tecnológico tem sido um grande aliado na identificação precoce e precisa dessas doenças, o que é crucial para o sucesso do tratamento.
Os tratamentos variam conforme a condição, mas podem incluir medicamentos, intervenções cirúrgicas, como angioplastias e outras técnicas e, em casos mais graves, o transplante cardíaco. O uso de dispositivos, como marca-passos e desfibriladores implantáveis, também é comum em pacientes com arritmias severas.
+Leia também: Com o coração nas nossas mãos: aprenda a cuidar melhor dele
Importância da prevenção
Apesar dos avanços médicos, a prevenção continua sendo a melhor estratégia. Adotar uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos regularmente, controlar o estresse, o diabetes e a hipertensão arterial, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool são medidas essenciais para manter o coração saudável.
Essas doenças, além de serem prevalentes, têm um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas e na economia da saúde. O tratamento de doenças cardíacas representa uma grande parte dos gastos em saúde pública e privada. De acordo com dados recentes, as doenças cardiovasculares consomem aproximadamente 20% do orçamento global de saúde, o que reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para a prevenção.
As doenças cardiológicas de alta complexidade são um desafio global e demandam atenção tanto da comunidade médica quanto da população em geral. Prevenir é sempre melhor que remediar e a conscientização sobre os riscos e formas de prevenção é o primeiro passo para uma vida mais saudável e longa.
Fábio Jatene, líder médico da área de Cardiologia do Hcor e Dra. Ieda Jatene, líder médica de Cardiopatias Congênitas e Cardiologia Pediátrica