Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Como enganar a si mesmo faz mal à saúde

A mente humana faz de tudo para manter nossas crenças, mesmo que elas não sejam verdadeiras. Um estudioso do assunto destaca os riscos disso

Por Luiz Gaziri, administrador e autor de livros*
Atualizado em 15 jan 2024, 15h50 - Publicado em 14 jan 2024, 08h25
saude-mental-mente-saudavel-manipulacao
Mente humana faz de tudo para manter nossas crenças, mesmo que elas não sejam verdadeiras (Ilustração: storyset/Freepik/Divulgação)
Continua após publicidade

Em janeiro de 1997, membros do culto Heaven’s Gate pagaram 3 600 dólares por um telescópio, com o intuito de enxergar a salvação. Seu líder acreditava que uma nave espacial, que estava colada a um cometa que orbitava próximo à Terra, iria coletar suas almas e transformá-los em seres super evoluídos. Para isso, todos deveriam livrar-se de seus “receptáculos terrestres.”

Curiosamente, alguns dias depois os membros voltaram à loja para devolver o telescópio. Quando a gerente do local perguntou pelo motivo, um deles afirmou: “O telescópio está com defeito. Conseguimos enxergar o cometa perfeitamente, mas não a nave espacial que está atrás dele”.

Dias mais tarde, os 39 membros do culto foram encontrados mortos, vítimas de suicídio coletivo.

+ Leia também: Janeiro Branco: saiba o que dizer para alguém com depressão

O fenômeno que fisgou os membros do Heaven’s Gate é conhecido como dissonância cognitiva – o desconforto causado quando somos expostos a cognições conflitantes. Veja:

“Eu acredito que uma nave espacial viajando atrás do cometa vai coletar a minha alma e me transformar em um ser mais evoluído.”

É conflitante com:

“Eu comprei um telescópio, procurei a nave espacial, mas só enxerguei o cometa.”

Continua após a publicidade

Para reduzir o desconforto e voltar a se sentir bem, a pessoa tem duas opções:

  1. Deixar de acreditar no culto.
  2. Usar algum subterfúgio para manter sua crença: “o telescópio está com defeito.”

+ Leia também: Saiba como reconhecer os sinais de um relacionamento abusivo

Décadas de evidências científicas revelam que, para mantermos uma imagem de que somos inteligentes, honestos e bons decisores, fabricamos as mais bizarras justificativas.

O lendário cientista Kurt Lewin demonstra em suas pesquisas que o ser humano é expert em construir narrativas para ficar de bem consigo mesmo.

Continua após a publicidade

Um exemplo: todos nós temos um amigo que acumula louças sujas, que usa roupas manchadas de gordura e por aí vai.

Você pode definir esse seu amigo como relaxado, mas, se perguntar como ele define a si mesmo, verá que ele se define como um cara zen, que não liga para o que os outros pensam. Nas mais variadas circunstâncias, as pessoas interpretam seus comportamentos de modo a proteger a autoestima.

A fome constante de manter uma imagem positiva de nós mesmos ainda nos leva a um outro comportamento. Uma vez munidos de uma crença, nossa tendência é procurar exclusivamente por informações que confirmam que estamos certos. Esse fenômeno é conhecido como viés da confirmação.

+ Leia também: As reflexões por trás da pergunta “como você está?”

O viés de confirmação é forte dentro daqueles grupos de aplicativos compostos somente por pessoas que comungam as mesmas opiniões e que consomem informações apenas de veículos que satisfazem suas preferências, e geram medo.

Continua após a publicidade

O problema é que essa dieta de informação composta por medos fabricados por manipuladores aumenta constantemente a liberação do neurotransmissor epinefrina e do hormônio cortisol, que elevam os batimentos cardíacos, o fluxo dos vasos sanguíneos e o açúcar no sangue.

Se o seu objetivo é escapar de predadores, nada melhor do que um sistema que detecta ameaças, gera energia e direciona esforços para preencher os músculos das suas pernas. Mas se a meta é escapar da verdade, o acionamento desnecessário desse mecanismo pode sobrecarregar o sistema circulatório e gerar condições como AVC, aterosclerose, diabetes e obesidade.

Enganar a si mesmo traz alívio e aumenta a autoestima no curto prazo, enquanto ser sincero consigo mesmo é dolorido e expõe friamente suas imperfeições. Mas essa segunda opção também vai te transformar verdadeiramente em um ser mais evoluído e saudável. Qual é a vida que você quer?

*Luiz Gaziri é autor de A Arte de Enganar a Si Mesmo e outros três livros, professor de pós-graduação na Unicamp e FAE Business School, palestrante e consultor empresarial.

Continua após a publicidade

A arte de enganar a si mesmo

saude-literatura-arte-enganar-a-si-mesmo

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.