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Como você está?

Essa pergunta é mais usada como cumprimento do que de maneira genuína. Mas levá-la a sério (e ampliá-la para a comunidade) é vital para o bem-estar mental

Por Guilherme Spadini, psiquiatra e professor na The School of Life*
4 jan 2024, 09h41

Variações da pergunta que está no título são algumas das frases mais usadas em nossa língua: “Como vai?”; “Tudo bem?”; “E aí?”. E justamente por serem tão comuns, são aquelas que respondemos no automático – tanto a pergunta quanto a resposta são só rituais desconectados do que está sendo, de fato, dito.

Acaba que não são muitos os momentos em que paramos para responder a essa pergunta com calma e reflexão. E quando o assunto é saúde mental, que é o momento em que essa questão deveria ser central, acaba que nos perdemos em conversas abstratas. 

Palavras que deveriam falar diretamente às angústias da condição humana, como depressão e ansiedade, foram transformadas em diagnósticos médicos, com listas de sintomas, valores de prevalência, fatores de risco e proteção, prognóstico e tratamentos. 

Aproveitando que estamos no Janeiro Branco, o mês da campanha global de conscientização sobre a importância da saúde mental, que tal você parar agora, respirar fundo e responder, de verdade, como você está?

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Bom, talvez você esteja ótimo. Ou talvez esse foco individualista não lhe agrade. Mas tudo bem, o exercício é introspectivo, não precisa ser egoísta. 

Como estão as pessoas que você ama, aquelas com quem você convive? E os seus vizinhos, as pessoas que você sempre encontra na padaria ou no parque? Sua comunidade pode ser tão grande ou pequena quanto quiser, mas, como vão todos?

+Leia também: TDAH: o que é, como diagnosticar, e quais são os tratamentos

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Textos como este são sempre escritos por psiquiatras (é o caso deste) ou psicólogos. Às vezes, por sociólogos ou filósofos. Quem lê o conteúdo, em geral, espera algum insight especial, uma leitura da situação que nos tenha escapado, presos que estamos nas engrenagens do dia a dia. Só que, ultimamente, as interpretações do cenário em que estamos vivendo não são muito animadoras. 

O cenário econômico não é promissor. Nas últimas décadas, as novas gerações têm piores perspectivas que seus antecessores, demoram mais para conquistar independência financeira e possuem mais dificuldades para atingir estabilidade econômica. 

Há uma intensa transformação no mercado de trabalho, com o desenvolvimento de inteligências artificiais surgindo como um novo desafio. Há incertezas e ansiedades legítimas.

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O impacto de novas tecnologias na saúde mental também é sempre difícil de dimensionar, e a literatura científica, desde que as mídias sociais se tornaram parte integral de nossas vidas, traduz essa dificuldade. Dizem os estudos que, embora haja evidências de ganhos e de perdas, parece que existe uma associação entre redes sociais e problemas de saúde mental, especialmente entre jovens. 

Mesmo que não haja evidências de uma associação causal, é fato que os índices de tratamento psiquiátrico, automutilação e tentativas de suicídio vêm aumentando em crianças e adolescentes nas últimas décadas.

Outro fenômeno bem documentado é a intensificação da polarização política. Apesar de frequentemente atribuída às redes sociais, o impacto delas pode ser menor do que o que se supõe – o que só indica que existem outros fatores, talvez ainda mais difíceis de resolver, implicados no fenômeno. 

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A polarização não é só ideológica, mas também afetiva, levando a um aumento de conflitos interpessoais com sérias repercussões na saúde mental dos envolvidos. Como se não bastassem guerras terem voltado à moda no cenário mundial, ainda transformamos os almoços de família em campos de batalha.

Não faltam razões para ficarmos ansiosos. Há a desigualdade, injustiça, preocupações ecológicas (o aquecimento global é frequentemente citado por jovens americanos como uma das maiores angústias existenciais que enfrentam). 

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Minha intenção é destacar que, ainda que nossas preocupações não possam ser esquecidas, elas não precisam ser paralisantes. Ao contrário. Elas podem nos infundir de propósito e determinação.

Mas, por mais que sejam questões importantes, precisamos reconhecer o quanto elas estão, em grande parte, fora do nosso controle. Por isso a importância da pergunta: “como você está?”. Você e as pessoas à sua volta. 

O que você pode fazer para cuidar melhor de si, dos seus relacionamentos e da sua comunidade? Como injetar mais carinho, afeto e cuidado no seu dia a dia?

Isso não é voltar as costas para as grandes questões. É apenas um primeiro e humilde passo para tentar garantir mais segurança e saúde mental. É buscar mais estrutura, apoio e força para, então, enfrentarmos melhor as grandes questões a que escolhermos nos dedicar.

Comece pequeno. Cuide-se.

*Guilherme Spadini é professor e psiquiatra na The School of Life. É psicoterapeuta de adultos e adolescentes, com orientação em psicodrama, psicoterapia existencial e filosofia clínica. É professor do curso de pós-graduação em psiquiatria forense do Instituto de Psiquiatria da USP, onde leciona sobre livre-arbítrio

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