Comer adequadamente é um direito. Se informar, também
Especialistas argumentam que é, sim, necessário apontar quais alimentos são mais ou menos adequados para a busca por saúde
Falar sobre alimentação saudável e adequada nunca foi tão necessário. A notícia é fresca, e não se trata de fake news: a geração nascida entre os anos 1980 e 1990 está a caminho de se tornar o grupo com maior incidência de sobrepeso da História. Estamos deixando a subnutrição no passado para enfrentarmos uma crescente e assustadora crise global de obesidade – e todas as consequências fatais desse quadro.
É consenso na comunidade científica – aquela que lidera pesquisas idôneas, sem conflitos de interesse – de que o aumento da presença de produtos ultraprocessados na dieta está diretamente ligado ao ganho de peso. Isso porque esse tipo de alimento, de uma maneira geral, tem altas quantidades de sódio, açúcar e gorduras, além de apresentar conservantes e aditivos químicos sobre os quais se sabe pouco a respeito de seus efeitos no longo prazo.
Alguns defendem que não existem alimentos bons ou ruins, mas a verdade é que muitos produtos ultraprocessados colocam em risco nossa saúde e bem-estar. Uma latinha de refrigerante, por exemplo, contém 9,5 colheres de chá de açúcar, quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de uma ingestão de no máximo 6 colheres de chá por dia.
Um empanado de frango congelado é capaz de oferecer 306% da quantidade de sódio indicada por dia para uma criança de 4 anos. Um cereal matinal tem cerca de 40% de toda a sua composição baseada no açúcar. Esses – e outros – são produtos que claramente oferecem risco à saúde, e é direito do consumidor saber o que come.
Cada indivíduo é livre para escolher o que quer ingerir e a que riscos quer expor a sua saúde. É inadmissível o cerceamento de liberdades individuais. Porém, é igualmente inadmissível esconder informações necessárias e relevantes em termos técnicos, letras miúdas e porcentagens incalculáveis para a maior parte da população.
É como pedir que as pessoas comprem e comam sem saber o que de fato há dentro de cada produto. Oferecer informação correta e compreensível é dar liberdade para que os indivíduos tomem suas decisões.
Assim pensam as mais importantes entidades de saúde, nutrição e bem-estar do Brasil. Juntas, em parceria com a Aliança pela Alimentação Saudável e Adequada, elas defendem um rótulo mais claro para todos os brasileiros.
Ou seja, uma advertência que sinalize na parte da frente das embalagens, de forma direta, a presença em excesso de nutrientes prejudiciais à saúde. Não se trata aqui de demonizar esse ou aquele item, mas de garantir que todos tenham acesso à mesma informação e estejam conscientes de suas escolhas.
Rótulos mais claros, por si só, não resolvem o problema da obesidade – uma questão complexa e multifatorial. Eles precisam estar alinhados a outras estratégias, como as que promovem a divulgação de informação de qualidade e a educação da população para a gestão da própria alimentação, além de coibir a propaganda enganosa. Essas são ações complementares e não excludentes.
Por fim, voltando ao início desse texto, falar sobre alimentação saudável e adequada é mais importante do que nunca. E, se na era do fake news é sempre recomendado verificar a veracidade da informação, é importante checar, também, as credenciais e intenções de quem se pronuncia. Informação é como água: se estiver contaminada, não serve.
Em tempo: a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável reúne organizações da sociedade civil de interesse público, profissionais, associações e movimentos sociais com o objetivo de desenvolver e fortalecer ações coletivas que contribuam para a saúde e o bem-estar de todos.
Nossa agenda, nossa carta de princípios e a lista de organizações-membro estão divulgadas de forma transparente e acessível em nosso site, assim como a proposta de rotulagem que foi apresentada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Aliança não é apoiada por nenhuma empresa do setor de alimentos por entender que isso configuraria claro conflito de interesse.
*Artigo elaborado pelo Comitê gestor da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável