O futebol é considerado o esporte mais popular do planeta. Além de um fenômeno que movimenta praticantes e torcedores o ano inteiro, a chegada da Copa do Mundo se torna um momento propício para discutir e repensar algumas coisas envolvidas com essa prática esportiva.
Me refiro especialmente às cabeceadas, situações em que o atleta passa a bola a um companheiro ou projeta a bola para o campo adversário. A jogada não é isenta de riscos para os futebolistas profissionais.
Um estudo britânico, publicado no periódico científico Journal of Neuropsychology, acompanhou 26 jogadores aposentado,s hoje com idade média de 60 anos. E constatou que eles tiveram alterações importantes nas estruturas cerebrais quando comparados a pessoas que nunca jogaram futebol.
O principal problema apontado nesse contexto é a chamada encefalopatia traumática crônica: trata-se de uma degeneração progressiva de células cerebrais provocada por diversas e repetidas lesões na cabeça. Ela pode comprometer a memória e o raciocínio e levar a doenças como Parkinson. E já foi associada a outros esportes, como boxe e futebol americano.
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No caso do futebol que conhecemos, sabemos que cabecear a bola faz parte do jogo. No entanto, há evidências de que os impactos repetitivos no crânio elevam a propensão a doenças neurodegenerativas, especialmente entre atletas com carreiras mais longas ou que atuam em posição com maior probabilidade de impactos na cabeça.
Trazer essa discussão à tona e investir em tecnologias e dispositivos de proteção é, portanto, fundamental para resguardar os jogadores sem comprometer sua performance. Pelo bem-estar do atleta, precisamos pensar em táticas mais seguras e menos danosas no curto e no longo prazo.
Até porque o esporte em si faz bem à saúde física e mental, só precisamos evitar ou contornar riscos envolvidos, como documenta um artigo publicado na prestigiada revista Nature. As pesquisas mostram que tanto a atividade física como a intelectual são de extrema importância na preservação das funções neurológicas.
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Com esse alerta, é fundamental que as confederações que regulam o futebol e outros esportes reconheçam a necessidade de (re)pensar maneiras de prevenir danos cerebrais aos atletas. O foco não é só protegê-los de traumatismos cranianos, mas de diversos fatores capazes de afetar sua qualidade de vida após a aposentadoria.
Essa abordagem inclui controle do peso e da saúde em geral, prevenção do tabagismo e do consumo excessivo de álcool, acompanhamento médico e exames neurológicos periódicos.
* Feres Chaddad é professor e chefe da Disciplina de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da Neurocirurgia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo