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A cura do diabetes ainda não é uma realidade

Médica, que também é diabética, esclarece questões sobre as perspectivas e as promessas de remissão da doença

Por Dra. Solange Travassos*
Atualizado em 13 nov 2018, 18h31 - Publicado em 18 ago 2017, 11h57

O diabetes é uma doença crônica que atinge 14,3 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes. E a incidência vem aumentando de forma preocupante. Se tratada inadequadamente, a doença gera graves consequências à saúde, com enormes gastos financeiros e sociais em todo o mundo.

Há dois tipos mais frequentes de diabetes. O tipo 1, de caráter imunológico, corresponde de 5 a 10% dos casos e não pode ser evitado ou curado até o momento. O início da doença costuma ser súbito, muito sintomático e pode ocorrer em qualquer idade, embora seja mais comum na infância e na adolescência.

O tipo 2 corresponde à grande maioria dos casos e está associado ao excesso de peso, ao sedentarismo e à presença de casos da doença na família. O início é insidioso, com poucos sintomas. Frequentemente ocorre um atraso de anos no diagnóstico. Apesar de ser mais prevalente após os 40 anos, o problema vem sendo diagnosticado cada vez mais cedo em função de um estilo de vida inadequado.

A boa notícia é que o tipo 2 pode ser prevenido com a adoção de hábitos saudáveis e, em alguns casos e dependendo da fase da doença, entrar em remissão por meio de mudanças drásticas como perda de peso significativa, aliada à atividade física, ou realização de cirurgia para a obesidade.

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É importante entender a diferença entre os tipos de diabetes quando o assunto é a possibilidade da cura. No tipo 1, o sistema imunológico passa a reconhecer as células do pâncreas produtoras de insulina como estranhas ao organismo, desencadeando um processo de autoagressão, que leva à perda da capacidade de secretar esse hormônio. Quando mais de 30% dessas células são afetadas, começam os sintomas. Daí é necessário recorrer à administração de insulina.

Reverter esse processo é algo extremamente complexo, uma vez que o sistema imunológico tem uma memória, o que mantém sua capacidade de atacar as células do pâncreas no longo prazo. No diabetes tipo 2, por sua vez, não há envolvimento direto da imunidade, mas uma resistência à ação da insulina e outros defeitos que fazem com que o pâncreas perca a capacidade de produzir o hormônio lentamente.

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E a cura?

A cura do diabetes tipo 1 é um assunto recorrente nas redes sociais e em outras mídias, mas o fato é que ainda não existem tratamentos clinicamente aprovados para acabar de vez com a doença. Várias abordagens terapêuticas já foram avaliadas ou estão sendo estudadas em uma grande variedade de pesquisas em todo o mundo, mas, para se ter certeza da sua eficácia e, principalmente, da sua segurança, é preciso que elas sejam replicadas em muitos centros e os pacientes sejam acompanhados por anos.

Na verdade, desde a década de 1920, com a descoberta da insulina, já se fala em cura do diabetes. De início, achou-se que a administração do hormônio curaria a condição. Com o tempo, ficou claro que a administração da insulina não resolveria todos os problemas. Muitos pacientes morreram de hipoglicemia e na década de 1940 começaram a aparecer as complicações da doença.

Lembro que, quando fiquei diabética em 1986, já se falava que a cura chegaria em cinco ou no máximo dez anos. Muito se evoluiu desde então e são evidentes os avanços tecnológicos. Duas grandes linhas de pesquisa se destacam na busca da “cura” do diabetes: uma envolve o desenvolvimento do pâncreas artificial e a outra o transplante de células-tronco e a terapia celular.

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O pâncreas artificial

A primeira versão comercial do pâncreas artificial já está disponível nos Estados Unidos e consiste em uma bomba de insulina que opera em conjunto com um sensor que mede a glicose no líquido entre as células. De acordo com o resultado da glicemia do sensor, a bomba ativa e suspende a infusão de insulina para prevenir hipoglicemias, interrompendo automaticamente a administração de insulina 30 minutos antes de atingir os limites de glicemia baixa pré-selecionados. Também reinicia automaticamente a infusão quando os níveis de glicose se normalizam.

Além disso, ajusta de forma automática a infusão de insulina a cada cinco minutos para manter a glicemia na faixa alvo. O sistema é híbrido e ainda necessita da ação do paciente, que precisá-lo e enviar insulina antes das refeições de acordo com o conteúdo de carboidratos da alimentação.

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Um avanço enorme, um sonho, mas ainda não dá para falar em cura. No Brasil, já temos o modelo que faz a suspensão por previsão de hipoglicemia. Além da bomba, o uso de novas tecnologias de monitorização da glicemia, aliadas ao uso de insulinas mais modernas, possibilitam a obtenção de um bom controle glicêmico com menos hipoglicemia e um pouco menos de esforço. O problema é que tais recursos têm um alto custo e não estão disponíveis para a maioria da população.

Terapia celular

O Brasil é pioneiro nas pesquisas com células-tronco em seres humanos com diabetes tipo 1, sendo o primeiro transplante realizado no início de 2004 pela equipe de transplante de células-tronco do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Nesse estudo, os cientistas desligam “quase totalmente” o sistema imunológico usando quimioterapia endovenosa e o “reinicia” usando células-tronco da medula óssea do próprio paciente. O transplante é de células tronco do sistema imunológico e não de células pancreáticas, e não tem liberação para ser realizado em crianças e menores de idade.

Somente podem ser incluídos indivíduos adultos com tempo de diagnóstico inferior a seis semanas. Envolve riscos inerentes à quimioterapia como infecções agudas e crônicas, queda de cabelos, náuseas, vômitos e até mesmo morte. Dos 25 pacientes incluídos, 21 ficaram livres das injeções diárias de insulina por algum momento, sendo que dois pacientes estão livres de insulina atualmente. Para todos os pacientes, livres ou não de insulina, são recomendadas a prática de um estilo de vida saudável e a monitorização diária de glicose.

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Enfim, existem vários grupos de cientistas no mundo trabalhando com o objetivo de curar o diabetes e nunca estivemos tão perto da cura, mas o fato é que ela ainda não é uma realidade. Por isso, é importante que o diabético e seus familiares saibam que a cura não estará disponível em breve.

É possível, sim, controlar bem o diabetes e ter uma vida saudável e produtiva. Para isso, é fundamental manter o foco no hoje, aprender o máximo sobre a doença, ter uma boa relação médico-paciente, ser persistente e buscar o acesso ao tratamento, mesmo que seja necessário recorrer a outras instâncias. A conduta mais inteligente é manter o bom controle do diabetes para evitar as complicações da doença e poder se beneficiar da cura quando ela realmente estiver ao nosso alcance e for comprovada e respaldada por entidades reconhecidas na área médica.

* Dra. Solange Travassos é endocrinologista, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e diabética tipo 1 há 31 anos

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