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O que a ciência nos diz sobre sonhos e pesadelos

Médica explica por que sonhamos e quando os sonhos e a qualidade do sono podem sinalizar alguma preocupação para a saúde

Por Rosana Cardoso Alves, neurologista*
Atualizado em 3 fev 2021, 16h28 - Publicado em 3 fev 2021, 10h39
foto de homem dormindo e sonhando
É natural ter vários sonhos por noite, mas não se lembrar deles depois. (Foto: GI/Getty Images)
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Os sonhos sempre despertaram a curiosidade do ser humano e esse é um assunto que tem sido abordado de forma filosófica, romântica e artística há milhares de anos.

Na mitologia grega, os sonhos tinham um papel essencial, pois eram considerados um modo de comunicação entre o mundo etéreo e o terreno, por meio do qual os deuses passavam mensagens aos mortais. Séculos depois, a ciência e a medicina se debruçam sobre o universo onírico. E vou compartilhar com vocês a importância dos sonhos dentro de uma concepção fisiológica e o que os estudos falam a respeito deles.

Sonhamos todas as noites. Em qualquer idade. E a maioria dos sonhos acontece durante a chamada fase REM (do inglês rapid eye movement), um sono profundo caracterizado pelo movimento rápido dos olhos. Mas eles também podem ocorrer durante o sono de ondas lentas, ainda que de forma menos frequente.

Durante o sono REM, há o relaxamento completo dos músculos do corpo, o que é fundamental para nos proteger, pois isso evita que tenhamos movimentos e outros comportamentos motores enquanto dormimos e sonhamos.

Sonhar não é um privilégio do ser humano. Diversos estudos mostram que animais — como gatos, cachorros, macacos, ratos e até golfinhos — também sonham. Registros eletrofisiológicos apontam que as fases do sono dos animais são muito parecidas com as das pessoas.

A maioria dos nossos sonhos é visual, mas (olha que curioso!) também podemos ter sonhos auditivos, olfativos e até com diversas sensações ao mesmo tempo.

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Sonhando em ciclos

Sonhamos toda santa noite, várias vezes, e isso acontece porque o sono é cíclico. Pesquisas com exames de eletroencefalograma mostram que temos de cinco a seis ciclos de sono e cada ciclo passa pelas fases 1, 2, 3 e REM. Quando atingimos a fase REM, sempre temos pelo menos um sonho. Dessa forma, em média, sonhamos de cinco a seis vezes por noite.

O sonho integra um complexo fisiológico e se acredita que é importante para a consolidação da memória e a execução de muitas atividades mentais. Em todas as espécies animais, quanto mais jovem o indivíduo, maior tende a ser a quantidade de sono REM e de sonhos. Daí a hipótese de que eles sejam cruciais para o desenvolvimento do sistema nervoso central.

Talvez você tenha se espantado com o número de sonhos por noite. Calma, é normal não lembrar de todos eles. O fato de que só de vez em quando sabemos o que sonhamos se deve a um esquecimento natural. Mas podemos lembrar dos sonhos quando somos despertados durante o sonho em si ou dentro dos primeiros 10 ou 15 minutos após seu término. Quanto mais precocemente despertamos em relação ao sonho, mais perfeita será sua reconstituição.

Na maioria das vezes, os sonhos estão relacionados aos acontecimentos diários. Dessa forma, se você dorme bem e tem um sono de qualidade, o mais habitual é que não se lembre de todos seus sonhos.

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E os pesadelos?

Eles nada mais são do que sonhos com conteúdos desagradáveis e muitas vezes acontecem quando passamos o dia ansiosos e preocupados, ruminando pensamentos negativos que podem provocar uma instabilidade do sono.

Também podem acontecer após assistirmos a filmes com imagens ruins e violentas. Sabemos, ainda, que pessoas que vivenciaram tragédias podem sofrer com estresse pós-traumático e o pesadelo é um sintoma desse quadro.

Dependendo do conteúdo e da frequência dos pesadelos, a pessoa pode ter uma sensação muito vívida e desagradável, capaz de levá-la a episódios de insônia, sonolência excessiva diurna e ainda mais ansiedade e até medo de dormir.

Crianças em idade pré-escolar, principalmente entre os 4 e os 6 anos, são mais sensíveis a pesadelos. Por isso, é importante evitar que sejam expostas a conteúdos e imagens violentas, ainda mais próximo do horário de dormir.

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Neste período da pandemia, muitas pessoas têm relatado aumento da ocorrência de pesadelos relacionados ao tema.

Sinais de alerta do sono

Acordar muito durante os sonhos pode ser um indício de que a qualidade do sono não vai bem. Além de sintoma de estresse e ansiedade, isso está relacionado a quadros de insônia, ronco e apneia obstrutiva do sono. Nesse último caso, a pessoa acorda por causa da pausa respiratória provocada pela apneia e são comuns relatos de que o sujeito tem a sensação de sufocamento ou sonhava que estava se afogando.

Outra questão que gera dúvida e apreensão são os sonhos vívidos. São aqueles em que o indivíduo apresenta alguns comportamentos, em geral motores, quando está sonhando. Ele sonha que está fazendo algo e seu corpo reproduz o movimento, o que pode ser extremamente perigoso para a pessoa ou seu parceiro.

Imagine alguém sonhando que a casa está pegando fogo e pulando da cama em direção à janela. Ou sonhando que precisa se defender de algo e fazendo um gesto abrupto em relação ao companheiro na cama.

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Apesar de ainda não entendermos todas as causas dos sonhos vívidos, sabemos que eles estão vinculados a certos quadros neurológicos, consumo abusivo de álcool ou suspensão abrupta de algumas medicações (como antidepressivos). Nesses casos, é importante buscar um médico para o diagnóstico e tratamento adequado.

Os sonhos vívidos são raros e tendem a ocorrer mais em idosos. Também podem fazer parte do transtorno comportamental do sono REM. Estudos recentes mostram que algumas pessoas com essa condição têm predisposição a desenvolver doenças neurológicas, caso do Parkinson.

Finalizo esta exposição sobre os sonhos com o conselho de cuidarmos bem do nosso sono. Isso ajuda inclusive a ter sonhos mais agradáveis, ainda que não lembremos deles depois. E, caso você esteja acordando sempre à noite e recordando com frequência dos seus sonhos, convém ficar atento a sinais de cansaço, sonolência diurna, insônia e outros transtornos e, se for o caso, procurar um médico.

* Rosana Cardoso Alves é neurologista especializada em neurofisiologia clínica e membro da Associação Brasileira do Sono

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