Um raio x da cabeça dos trabalhadores
Levantamento com milhares de brasileiros escancara índices preocupantes de sintomas de burnout, ansiedade e depressão
O cuidado com a saúde mental entrou (ou deveria entrar) de vez nas empresas, não só pelo bem-estar dos funcionários mas também pelos seus efeitos no balanço e na sobrevivência das corporações.
Em apresentação durante o último Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em Fortaleza, o médico Wagner Gattaz, professor da Universidade de São Paulo (USP), compartilhou a estimativa de que o custo atual com transtornos mentais pelo mundo gira em torno de 3 trilhões de dólares, sendo que 2/3 desse valor vêm indiretamente pela perda de produtividade das pessoas.
A fim de entender a realidade brasileira, a Gattaz Health & Results, consultoria dirigida pelo psiquiatra, conduziu uma pesquisa de ampla abrangência para apurar o estado mental dos trabalhadores no país. Confira:
Os achados preocupam — tanto pela prevalência dos sintomas como pelo subdiagnóstico dos problemas. Segundo Gattaz, os principais fatores de risco para transtornos ligados ao ambiente corporativo são baixa autoestima profissional, pouco apoio social, comunicação deficiente e demandas além da conta. Não à toa, empresas que investem em suporte psicossocial são aquelas que apresentam os melhores indicadores.
Uma rotina puxada e os desgastes após a pandemia abalaram a saúde emocional dos educadores de escolas públicas e privadas. De acordo com uma pesquisa da plataforma Nova Escola e do Instituto Ame Sua Mente com 5 420 profissionais de todo o país, 60% encaram sensação intensa e frequente de ansiedade, 48% admitem estar cansados ou com baixo rendimento, 36% afirmam conviver com sentimentos de tristeza e 42% enfrentam problemas com o sono.
Diante desses números, chama ainda mais atenção o dado de que sete em cada dez desses professores não contam com o suporte de psicólogos ou psiquiatras para cuidar da saúde mental — a situação é um pouco melhor no sistema privado de ensino. O levantamento constata que os educadores não só necessitam de apoio especializado como também precisam ser preparados para trabalhar o assunto com seus alunos.
Quase três anos de lutas, sofrimentos e restrições diante da Covid-19 degradaram o bem-estar mental dessa categoria. Um estudo do grupo de educação médica Afya com 3 489 profissionais brasileiros documenta que 70% já tiveram sinais de depressão ao longo da carreira, 23% apresentam sintomas atualmente mas não fazem acompanhamento especializado e 27% possuem o diagnóstico da doença — ele foi feito no último ano em 34% desse público.
O trabalho também evidencia que quase oito em cada dez médicos convivem com sintomas de ansiedade e 62% já expressaram sinais de esgotamento.
Em comparação com outros países, os profissionais do Brasil também estão com um nível de estresse ocupacional mais alto. No entanto, 75% deles relatam que a instituição onde trabalham não oferece suporte em caso de adoecimento ou sofrimento emocional.