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Tabus do sexo fazem mal à saúde

Livrar-se de mitos e preconceitos ligados à sexualidade faz bem para o corpo e a mente e ajuda inclusive a espantar DSTs

Por Karolina Bergamo
Atualizado em 6 set 2019, 10h53 - Publicado em 20 abr 2017, 11h00
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Falar abertamente sobre sexo é o primeiro passo para combater uma série de doenças físicas e emocionais (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)
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Consumir o fruto proibido foi o pecado original da humanidade. Não se sabe exatamente se foi pera, uva, maçã ou salada mista. O fato é que Adão e Eva não foram os únicos a ter problemas por causa de frutas. Há poucos meses, a artista plástica americana Stephanie Sarley foi expulsa três vezes (não do Paraíso, mas…) do Instagram, rede social de compartilhamento de fotos e vídeos, devido ao seu trabalho Forbidden Fruit (fruto proibido, em português), composto de filmagens de frutas sendo acariciadas suavemente pelos dedos da artista – como a mexerica ao lado. Seu perfil foi tirado do ar porque, segundo a plataforma, o conteúdo era “sexualmente sugestivo” e infringia as normas de utilização da rede, ainda que não expusesse partes do corpo de uma pessoa.

A censura à obra de Stephanie é uma evidência de quanto o sexo e a masturbação em particular (principalmente a feminina) continuam nutrindo tabus. “A prática sexual é historicamente reprimida, sobretudo em relação à mulher, como se não fosse legítimo vivenciar o sexo apenas por prazer”, analisa a médica Lúcia Alves, presidente da Comissão Nacional Especializada de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Essa visão tende a gerar angústia e sabotar o próprio autoconhecimento do corpo. “Sabemos que mulheres que se masturbam se conhecem melhor e têm uma experiência sexual mais saudável”, nota a psiquiatra Alessandra Diehl, da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana. “Falamos de uma questão íntima que deve ocorrer em ambiente privado, mas que acaba rejeitada até nesse âmbito”, completa.

A masturbação é só um dos temas controversos dessa trama, também cercada de tabus quando o assunto envolve o sexo a dois. Falta de diálogo, medo de julgamentos, dificuldade de relaxar, ansiedade… Esses são alguns dos fatores que estorvam a relação e dão margem ao aparecimento de problemas de ordem física e mental. “Tudo isso é consequência de uma visão em que o sexo é encarado como algo velado, não permitido e até sujo”, argumenta Lúcia. “A meu ver, o que mais prejudica é esse clima de pecado e transgressão que pode levar as pessoas a vivenciarem o sexo de forma clandestina”, aponta a especialista.

Nessa marginalidade, por assim dizer, é a saúde que vira vítima da situação. “Os tabus geram comportamentos de risco, deixando as pessoas mais vulneráveis a condições como doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), gravidez não planejada e até depressão”, afirma a psicóloga Kay Francis Leal Vieira, do Centro Universitário de João Pessoa, na Paraíba. Um dos motivos disso é que, com receio de se expor, o indivíduo negligencia qualquer tipo de orientação.

Nesse contexto, a sempre citada camisinha não raro fica em segundo plano. “Deveria ser simples: sem preservativo, sem sexo! Quando não tiver, é melhor investir numa relação sem penetração e, consequentemente, sem riscos”, defende a ginecologista Sandra Scalco, que também integra a Comissão Nacional de Sexologia da Febrasgo. Na prática, sabemos que não é bem assim – e que é expressiva a quantidade de jovens que ainda deixa o método de lado. O resultado desse comportamento é o recente recrudescimento no número de casos de HIV e sífilis nessa população.

É claro que os tabus de hoje não têm o mesmo peso e verniz de cinco décadas atrás, tempos em que mal se falava de sexo em casa. No entanto, embora o assunto esteja na boca do povo, no WhatsApp e nos programas de TV, ainda reina uma expressão de falsa naturalidade no rosto das pessoas quando algum tópico mais quente surge.

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Em geral, figuram como piada ou tema que deveria ser banido de qualquer conversa séria. “São bloqueios como esses que limitam o exercício sexual saudável e perpetuam a presença de doenças”, alerta Sandra. Quer um exemplo? Disfunção erétil. “A maioria dos homens com a condição não fala com o médico e sofre em silêncio. E hoje existem ótimos recursos para tratá-la”, diz a profissional da Febrasgo.

Na ala feminina não é diferente. Uma pesquisa realizada a pedido da farmacêutica Teva com 1 007 brasileiras com idade a partir dos 16 anos descobriu que um quinto das entrevistadas nem sequer sabia o que era ressecamento vaginal, problema mais comum com a idade e capaz de provocar dor e ardência durante a relação sexual. Sim, apesar de tanto avanço, homens e mulheres continuam derrapando no autoconhecimento.

Para começar a descascar esse abacaxi, é bom ter em mente que o ato sexual em si é apenas um dos aspectos da sexualidade humana. “Quando pensamos em sexo, tratamos o tema de forma muito genitalizada”, denuncia Sandra. Além da questão biológica, fatores psicológicos, sociais e culturais mesclam-se nessa história. “Falar do assunto apenas do ponto de vista corporal é um dos tabus mais predominantes”, ressalta Alessandra.

Rever as relações de gênero também é preciso se quisermos superar esses dilemas. “O homem sempre foi mais livre para exercer sua sexualidade e mostrar seus desejos e fantasias. A mulher, por outro lado, vem sendo continuamente reprimida”, afirma a psicóloga Priscila Veiga, de João Pessoa. Sem contar que a tarefa de cuidar da prevenção – tanto de doenças como da gravidez – é frequentemente relegada a elas.

E olha que muitas vezes as moças ainda têm de negociar com o parceiro o uso do preservativo, elemento-chave na proteção contra DSTs. “O homem que mantém relação com várias mulheres precisa admitir a possibilidade de contaminação. Ninguém vive numa bolha”, reforça a psicanalista Diana Lichtenstein Corso, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Ou seja, também é dever dele zelar pela própria saúde e pela da companheira.

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A visão de que macho que é macho não carece de limites e cuidados parece começar cedo. Em estudo da Universidade Federal do Ceará com 15 adolescentes entre 15 e 18 anos, os garotos já compartilham da crença de que o homem tem instintos sexuais mais intensos e, assim, pode agir promiscuamente. “A legitimidade de múltiplas parceiras e da vivência prazerosa do sexo para o homem está no inconsciente coletivo”, corrobora Lúcia.

Contudo, essa liberalidade fomenta, além de várias doenças, a cultura do estupro e da violência contra a mulher. Além do machismo, o ideal de amor romântico também pode deturpar concepções e comportamentos. Não usar a camisinha como “prova de amor” é o que tantas vezes abre as portas para as DSTs – transmitidas inclusive em relacionamentos ditos mais sólidos.

É evidente que a ala feminina não padece desses tabus sozinha. “A sociedade estipula um padrão para o exercício sexual, dando a impressão de que apenas gente jovem, saudável e fisicamente atraente pode transar”, critica Kay. Idosos, pessoas acima do peso ou com deficiência, homossexuais… Tem muita gente sofrendo com preconceito e desinformação.

Superar esse cenário exige uma mudança social e cultural. “Precisamos compreender que ninguém tem o direito de impor o que é normal e o que deveria ou não ser feito”, diz Sandra. Todo mundo pode ter uma vida sexual prazerosa, desde que seja de forma responsável e com consentimento mútuo. Sem enfiar o pé na jaca e com respeito às diferenças, todas e todos podem desfrutar de uma bela salada de frutas entre quatro paredes.

Sexo oral se faz com camisinha

Um levantamento da Universidade do Pacífico, na Inglaterra, indica que a prática ainda é cercada de mitos entre os jovens. Mas o maior tabu, e mais nocivo, é o de não ter de usar preservativo. Algumas infecções, como herpes e HPV, podem passar da boca para as genitais (e vice-versa). “É preciso tornar esse uso um hábito lúdico e gostoso.

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Camisinha com sabor é um exemplo de como resolver a questão”, propõe a médica Alessandra Diehl. No sexo oral na mulher, a camisinha feminina ou a masculina cortada e aberta são bem-vindas. “Há uma resistência inicial para tudo que é novo, mas fica mais fácil quando se está consciente e educado”, afirma Sandra Scalco.

Por que sexo faz tão bem para…

…O corpo?

Existem evidências de que a prática protege o sistema cardiovascular e levanta a imunidade.

…A mente?

A explosão de hormônios do bem-estar faz dormir melhor e reduz o risco de ansiedade e depressão.

…A sociedade?

Sexo saudável favorece a satisfação pessoal e a convivência social. Nas famílias, aumenta a intimidade e o diálogo.

Mitos e falta de informação aumentam a propagação de DSTs

Sífilis

O Brasil vive uma epidemia do mal causado pela bactéria Treponema pallidum, que ataca os genitais e pode se alastrar.

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HIV/Aids

A transmissão do vírus ainda é um problema mundo afora, e a maioria nem sequer sabe que está infectada.

HPV

O papilomavírus humano, causador dessa infecção, gera verrugas e é fator de risco para diversos tipos de câncer.

Clamídia

Em geral sem sintomas, é a DST mais comum em todo o mundo. Provocada por bactéria, não raro fica sem diagnóstico.

Candidíase

O causador da coceira e da secreção branca que atingem as mulheres é um fungo. O tratamento inicial é simples.

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