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Novo remédio para restaurar o desejo sexual não é um Viagra feminino!

Aprovada nos EUA contra o transtorno do desejo sexual hipoativo, a droga ganhou um apelido inadequado e levantou o debate sobre o prazer da mulher no sexo

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 2 dez 2019, 17h15 - Publicado em 28 jun 2019, 15h46

O FDA (Food and Drug Administration), órgão que regula os medicamentos nos Estados Unidos, liberou recentemente a venda do Vyleesi, um composto que promete recuperar a libido de mulheres com transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH).

Esse problema é caracterizado pela diminuição das fantasias sexuais e da vontade de ter relações sem justificativa aparente. Segundo dados da Clínica Mayo, uma rede de assistência médica americana, estima-se que até 10% do público feminino passe pela situação, o que a torna o distúrbio sexual mais comum entre elas.

Para que seja considerada uma condição médica, contudo, é preciso que a falta de vontade de transar reflita no dia a dia de maneira negativa, gerando angústia, raiva, baixa autoestima ou tristeza.

Diferentemente do clássico Viagra e de outros remédios contra a disfunção erétil masculina, que facilitam a chegada de sangue ao orgão sexual, a nova droga atua no sistema nervoso. Seu alvo são os receptores de melanocortina, hormônio envolvido em diversas funções cerebrais, do controle da fome à excitação sexual.

Liberado, mas com ressalvas

No estudo que levou à aprovação, mais de 1 200 mulheres foram divididas entre as que tomariam o fármaco e as que receberiam uma versão sem qualquer efeito (placebo). Após 24 semanas de avaliação, 25% das voluntárias que foram medicadas de verdade relataram um aumento considerável no tesão, contra 17% do grupo placebo.

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Fora isso, 35% das que tomaram o Vyleesi reportaram uma redução no estresse em decorrência da falta de sexo, ante 31% da outra turma. “É importante ressaltar que o número de relações consideradas satisfatórias não aumentou. Isso indica que seu efeito é só para iniciar o ato, e não no prazer como um todo”, comenta Ana Paula Aquino, médica ginecologista e especialista em reprodução assistida da Huntington Medicina Reprodutiva.

A melhora discreta é o primeiro “senão” do novo medicamento. Vamos combinar que esses números não são lá tão impressionantes.

O modo de uso é outra limitação: são injeções que devem ser aplicadas pela mulher na coxa ou na barriga 45 minutos antes do sexo. Os efeitos colaterais também chamam atenção: 40% das voluntárias relataram náuseas após a primeira dose, sendo que 13% precisaram de remédios para controlar esse sintoma.

O composto ainda manteve a pressão arterial de algumas participantes elevada por 12 horas depois da aplicação. Logo, é contraindicado para portadores de doenças cardiovasculares ou quaisquer indivíduos com um risco alto de manifestá-las.

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A novidade foi testada para mulheres que ainda não entraram na menopausa. Depois dela, as flutuações hormonais interferem na libido e nos mecanismos fisiológicos da excitação feminina – daí transtorno do desejo sexual hipoativo deveria ser manejado de uma maneira diferente.

A busca pelo viagra feminino

Essa é a segunda tentativa da indústria farmacêutica de tratar o TDSH em mulheres. A primeira foi o comprimido Addyi, aprovado em 2015 nos Estados Unidos. Ele não emplacou em vendas, talvez porque seus resultados tenham deixado a desejar.

O Vyleesi foi recebido com certo ceticismo pela imprensa e pela comunidade médica internacional. Primeiro porque não foi submetido ao crivo de um painel de especialistas, uma conduta clássica do FDA. Depois que seus estudos de eficácia e segurança são curtos: o mais longo chegou a 24 semanas, com um período extra de acompanhamento voluntário de um ano.

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Acima disso, o transtorno do desejo sexual hipoativo é um quadro complexo e misterioso. Logo, é difícil que um único medicamento o resolva.

Mas o desafio atrai esforços da ciência e da indústria. Em 2016, o FDA lançou diretrizes para as farmacêuticas sobre a criação de remédios para recuperar a perda da libido feminina.

“Há mulheres que passam por diminuições no desejo que impactam negativamente a saúde mental, e que podem se beneficiar de uma abordagem farmacológica segura”, declarou à imprensa Hylton Joffe, diretor do setor do FDA responsável pelos medicamentos reprodutivos.

O que é o transtorno do desejo sexual hipoativo

É uma condição médica caracterizada pela perda ou queda brusca no interesse em transar sem causa conhecida – certas doenças ou desequilíbrios hormonais podem esfriar o apetite por sexo. “Existem diversas possíveis explicações, como alterações biológicas ou ansiedade, estresse e influências socioculturais”, comenta Ana Paula.

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O TDSH é muito diferente da disfunção erétil, transtorno sexual mais comum na vida do homem, que é a dificuldade de manter uma ereção por motivos fisiológicos ou, com menos frequência, psicológicos. “O problema masculino é que o pênis não reage. O da mulher é mais complexo, envolve desejo e vontade”, diferencia a ginecologista.

Parece plausível que essa condição resulte de vários fatores, como a depressão. Inclusive, estudos já mostraram que o cérebro de mulheres deprimidas responde de maneira diferente a pistas sexuais (imagens eróticas, por exemplo). Umas das hipóteses para isso é uma ativação excessiva de mecanismos inibitórios na mente, que reduziriam a excitação.

Daí a ideia de usar remédios que buscam melhorar as funções dos neurônios para resgatar o desejo. Hoje, a perda da libido é tratada com psicoterapia, terapia sexual e, em alguns casos, até com antidepressivos.

“Podemos usar outras substâncias neurotransmissoras que estimulam o contato entre os neurônios e intensificam a ação deles no córtex, no hipotálamo e em outras estruturas envolvidas no prazer”, complementa Alberto D’Áuria, ginecologista e obstetra da Maternidade Pro Matre Paulista.

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Agora, se por um lado a química cerebral até deve ter algum envolvimento na libido feminina, por outro é apenas peça de um quebra-cabeça de extensão desconhecida.

“Provavelmente, muitas das vias de excitação da mulher sequer foram descobertas. O que o novo remédio tenta fazer é atuar em uma delas”, resume Ana Paula.

A falta de desejo sexual é um problema?

Não necessariamente. E é essa uma das principais discussões suscitadas pelo lançamento de uma droga do tipo. Qualquer intervenção na vida íntima deve ser feita somente quando a pessoa se incomoda pra valer com a falta de tesão e percebe prejuízos pessoais em decorrência disso.

“Existem pessoas normo, hipo e hiperssexuadas, cada uma com um comportamento diferente que não necessariamente é negativo”, reflete D’Áuria. “O que precisa de avaliação é a queda brusca de um desejo que sempre foi satisfatório”, completa o médico.

Se algo do tipo ocorrer, procure o especialista. Ele iniciará uma investigação em busca das possíveis causas para o desânimo. Descartados os motivos sistêmicos – desequilíbrios hormonais, doenças psiquiátricas ou outras – é hora de investir na mudança dos fatores ambientais e emocionais ligados ao sexo. E vamos combinar que não são poucos.

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