O cuidado com a saúde mental amplia a qualidade de vida, potencializa capacidades e previne o desenvolvimento e agravamento de transtornos como depressão e ansiedade. O psiquiatra é o médico a ser procurado quando algo não vai bem com a mente.
Alguns sinais sugerem que é hora de buscar ajuda especializada, como a diminuição significativa de energia e o aparecimento de cansaço excessivo. São comuns alterações de sono, redução da concentração e dificuldade para fazer planos e manter compromissos organizados.
Problemas de saúde mental também podem se manifestar como falta de prazer, irritabilidade exagerada, dores e desconfortos sem causa física aparente e queda no autocuidado e na higiene.
A consulta com um médico psiquiatra é importante para correto diagnóstico e tratamento. Porém, a falta de conhecimento e a desinformação contribuem para a criação de mitos em torno da especialidade.
“Existe um preconceito com relação à psiquiatria, que às vezes ainda é vista como uma especialidade de ‘loucos’. Essa ideia vem do século 19, quando pessoas que tinham sofrimento mental grave eram hospitalizadas e o psiquiatra vivia nesses locais”, explica o psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nardi ressalta que, desde a década de 1950, a psiquiatria mudou inteiramente, com a chegada de medicamentos mais eficazes, uma visão mais humanista do sofrimento subjetivo e com diferentes tipos de psicoterapia.
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O que faz um psiquiatra?
O psiquiatra é o médico que se especializa no diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais e cuida de aspectos psicológicos e emocionais da saúde.
“O trabalho desse especialista envolve várias atividades, incluindo avaliação em que realizam entrevistas clínicas detalhadas e utilizam instrumentos padronizados para diagnosticar transtornos mentais; prescrição de medicamentos, bem como o monitoramento da sua eficácia e ajustes nas dosagens conforme necessário, além do acompanhamento ao longo do tempo”, explica o psiquiatra Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
A atuação do psiquiatra costuma ser associada a outros profissionais de saúde mental, como psicólogos e assistentes sociais, com o objetivo de oferecer uma abordagem abrangente de tratamento.
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Como é a formação de um psiquiatra?
O caminho para a formação de psiquiatras começa pelo curso de graduação em medicina, com duração de 6 anos.
Após a conclusão, os formados podem ingressar em uma residência médica em psiquiatria, que normalmente tem a duração de 3 anos. É uma etapa de especialização em tempo integral, na qual os residentes recebem treinamento prático e psicológico em psiquiatria.
Para os médicos que não fizeram residência, é possível se tornar um psiquiatra através da aprovação na Prova de Título de Especialista em Psiquiatria da Associação Médica Brasileira (AMB) e da ABP.
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O ramo da psiquiatria conta ainda com subespecialidades, como psicoterapia, psicogeriatria, infância e adolescência e forense (que se dedica ao estudo da saúde mental e relação com temas jurídicos).
“O psiquiatra pode obter uma certificação específica para cada uma destas subespecialidades, por meio do ano adicional da residência médica ou da habilitação e aprovação na prova de atuação na área pela AMB e ABP”, explica Geraldo.
Doenças psiquiátricas
A psiquiatria lida com diversos transtornos mentais, sendo a ansiedade e a depressão as condições mais frequentes.
“A depressão é uma doença muito comum, crônica e recorrente. É caracterizada pela persistência de sintomas como tristeza, desânimo, falta de energia, alterações de apetite ou peso e sono, dificuldade de concentração, sentimento de culpa e pode levar a consequências graves como suicídio”, explica Geraldo.
Já os transtornos de ansiedade são caracterizados por manifestações intensas e prolongadas que paralisam o indivíduo e atrapalham o seu funcionamento, completa Geraldo.
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Outros transtornos como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e os distúrbios causados pelo uso de substâncias também são tratados por essa especialidade. O TDAH é um transtorno que afeta crianças e adultos que se apresenta na forma de desatenção, impulsividade e hiperatividade.
Depressão
A depressão é um transtorno comum associado a sintomas que interferem na qualidade de vida, como humor deprimido, perda de prazer e satisfação, alterações no sono e pensamentos sobre morte. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 280 mil pessoas no mundo sofrem com o problema.
Diferentemente de oscilações emocionais comuns, como experimentar momentos de tristeza e alegria, a condição pode ser de longa duração e com intensidade moderada ou grave.
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O transtorno tem origem em fatores múltiplos, incluindo componentes genéticos e biológicos, além de questões que envolvem o histórico de vivências e as relações de cada indivíduo.
As abordagens de tratamento incluem a psicoterapia e o uso de medicamentos antidepressivos, de acordo com o nível de severidade do transtorno.
Transtornos de ansiedade
Medo, preocupação em excesso e distúrbios de comportamento são algumas das características dos transtornos de ansiedade.
O quadro se difere da sensação comum de expectativa que as pessoas podem experimentar ao longo da vida diante de algum evento importante, por exemplo. Os sintomas são graves e podem levar a um sofrimento intenso, além de prejuízos para a rotina escolar, de trabalho e de relacionamento interpessoal.
Mais de 26% dos brasileiros já foram diagnosticados com o transtorno, de acordo com o levantamento nacional Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), que ouviu 9 mil pessoas de todas as regiões.
A condição pode se manifestar de diversas maneiras, como o transtorno de ansiedade generalizada, definido pela preocupação excessiva. Há também casos de pânico, ansiedade social e de separação, caracterizado pelo medo forte gerado pela distância de indivíduos com quem se tem um vínculo emocional profundo.
O tratamento também pode ser realizado a partir de acompanhamento psicológico e psiquiátrico, associado ou não com o uso de medicação controlada.
Esquizofrenia
A esquizofrenia é uma transtorno mental grave que afeta o modo de pensar, sentir e agir de uma pessoa. Os impactos podem ser psicológicos, depressivos e cognitivos, associados ao desenvolvimento e aprendizagem.
Os sintomas variam de uma pessoa para outra e podem se manifestar como alucinações, delírios, distúrbios de pensamento e de movimento. A perda de contato com a realidade representa um fator de angústia para os indivíduos, familiares e amigos.
O acompanhamento e tratamento adequados permitem a integração com atividades na escola ou trabalho, além do desenvolvimento de relacionamentos pessoais.
A terapia medicamentosa, consultas com psicólogo e a prevenção ao abuso de álcool e drogas são algumas das medidas utilizadas para tratar a esquizofrenia.
Transtorno bipolar
O indivíduo com transtorno bipolar vivencia uma alternância de episódios de depressão e euforia intensa — chamada tecnicamente de “mania”. As causas não são totalmente esclarecidas, mas hipóteses sugerem uma associação de questões genéticas, biológicas e psicossociais.
A bipolaridade afeta negativamente a qualidade de vida. Os altos e baixos no humor podem ser confundidos com problemas de personalidade, trazendo prejuízos para as relações. A identificação precoce, na infância ou na juventude, favorece o controle da condição.
O diagnóstico pode ser feito pelo médico psiquiatra a partir do contexto histórico de uma pessoa, além de sinais mencionados ou observados na avaliação.
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A definição do tratamento considera fatores como a gravidade e as características de cada paciente. O cuidado inclui terapia psicológica, suporte familiar e medicamentos que atuam na estabilização do humor.
Quando buscar um psiquiatra?
Os sinais de transtornos mentais são diversos e podem se manifestar de maneira distinta entre as pessoas. É normal sentir-se triste, desanimado ou ansioso. Porém, quando essas emoções negativas são persistentes e atrapalham a vida, é um sinal de alerta.
Além dos sintomas já descritos, relacionados a cada transtorno, outras queixas podem indicar que é hora de procurar ajuda. Dores de cabeça sem motivo aparente, dificuldade de concentração, falta ou excesso de sono e irritabilidade intensa indicam a necessidade de assistência especializada, por exemplo.
“Primeiramente, é importante ter atenção às nossas funções básicas. O sono, por exemplo, é ligado ao sistema nervoso e um marcador importante. Então, em vários transtornos mentais ele fica comprometido, em geral para menos. A capacidade de prestar atenção ao que está ao nosso redor e de responder às demandas do dia a dia de forma adequada também é um indicador. Outro ponto relevante é a sensação de prazer no cotidiano, em dormir, se alimentar, estar com a família e com amigos, que pode ser prejudicada em vários quadros”, afirma Nardi.
Qual a diferença entre psicólogo e psiquiatra?
Psicólogos e psiquiatras atuam no cuidado com a saúde mental. No entanto, existem algumas diferenças significativas entre as duas profissões, incluindo a formação, abordagens de tratamento e habilidades clínicas.
“O psiquiatra é um profissional formado em medicina, que fez residência e se especializou em alguma área da psiquiatria. Já o psicólogo tem a formação na faculdade de psicologia e se concentra na compreensão dos processos mentais, comportamentais e emocionais que ajudam os pacientes a desenvolverem habilidades e estratégias para lidar com seus problemas”, explica o presidente da ABP.
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Uma diferença pontual entre as duas profissões é que psicólogos não podem prescrever medicamentos aos pacientes, apenas o médico psiquiatra.
“Ambos os profissionais desempenham papéis importantes no cuidado da saúde mental e podem colaborar para fornecer uma abordagem abrangente e eficaz aos pacientes”, diz Geraldo.
Quanto tempo dura o tratamento com o psiquiatra?
A médica Vanessa Favaro, diretora do Serviço de Ambulatórios do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), explica que a expectativa, em geral, é de que os indivíduos tenham alta.
“Quando o paciente chega, nossa intenção é instituir um tratamento, de modo que os sintomas e o transtorno possam ser manejados para que ele não precise mais da nossa ajuda. Queremos que o acompanhamento tenha começo, meio e fim, mas nem sempre isso é possível. Existem alguns transtornos que são crônicos e outros que são intermitentes, ou seja, eles melhoram, a pessoa fica um tempo sem vir e depois precisa retornar”, detalha.
Como é a atuação da psiquiatria infantil?
O psiquiatra que atua neste campo trata os transtornos mentais que ocorrem nas diferentes etapas do desenvolvimento de crianças e adolescentes. Os sintomas normalmente são percebidos no ambiente escolar e familiar, sendo as condições mais comuns nessa faixa etária depressão, ansiedade, TDAH e transtorno do espectro autista (TEA).
“Existem alguns sinais de alerta, como uma criança que muda drasticamente de comportamento. Se ela ia bem na escola, tinha amigos, gostava de esportes e passa a ficar isolada, por exemplo, é um ponto de atenção importante. Assim como manifestações sobre o valor da própria vida, incluindo intenções e comportamentos que possam colocá-la em risco”, explica Vanessa.
Para o diagnóstico de depressão, por exemplo, os especialistas consideram um conjunto de sintomas que inclui perda ou ganho de peso acentuado, distúrbios do sono, agitação ou lentidão motora, fadiga e perda de energia, sentimento de inutilidade ou culpa em excesso, redução na capacidade de pensar e de se concentrar, além de pensamentos recorrentes sobre morte.
“Quando isso acontece, é indicado a busca por um psiquiatra da infância e adolescência que acolherá esse paciente, fazer o diagnóstico e oferecer um tratamento adequado e individualizado”, detalha Geraldo.