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O que é esquizofrenia: sintomas, diagnóstico e tratamento

Saiba tudo sobre esse transtorno psiquiátrico mais comum do que se imagina. Quais os sinais que ele apresenta? Há remédio e como tratar?

Por André Biernath
Atualizado em 25 fev 2019, 15h48 - Publicado em 14 set 2018, 09h56
Sintomas da esquizofrenia e o que é
Manias de perseguição e teorias da conspiração são sinais típicos da esquizofrenia (Ilustração: Veridiana Scarpelli/SAÚDE é Vital)
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Os cientistas do final do século 19 foram buscar inspiração na língua grega arcaica para caracterizar um transtorno psiquiátrico que, até então, ficava jogado no limbo da loucura. Por meio da junção dos termos esquizo, “dividir” no idioma dos filósofos clássicos, e frenia, algo próximo de “mente”, eles deram um nome perfeito para a doença. A esquizofrenia, ou distúrbio da mente dividida, é marcada por surtos em que o mundo real acaba substituído por delírios e alucinações. O transtorno afeta 2 milhões de brasileiros, mas a falta de conhecimento sobre ele só reforça estigmas. Hora de saber tudo sobre a condição que afeta 1% da população no planeta, dos sintomas ao tratamento.

Os sintomas

Geralmente a esquizofrenia se inicia com uma simples apatia no final da adolescência e no começo da vida adulta, na faixa dos 18 aos 30 anos. Aos poucos, o indivíduo abandona as atividades rotineiras e se isola. Suas reações ficam estranhas e desajustadas – ele não esboça os sentimentos esperados diante de fatos tristes ou felizes.

Do nada, surge uma sensação de que algo está errado e alguém prejudica a sua vida. O passo seguinte é a transformação dessa inquietação nas fantasias sensoriais e nas teorias da conspiração. São as alucinações e os delírios que mencionamos antes.

Fique atento a estes sinais:

  • Dificuldades no aprendizado desde a infância
  • Apatia
  • Pouca vontade de trabalhar, estudar ou interagir com os outros
  • Não reagir diante de situações felizes ou tristes
  • Vozes que surgem na cabeça e outras alterações nos órgãos dos sentidos
  • Mania de perseguição inexplicável

O que causa esquizofrenia e como diagnosticar?

Ela é investigada há décadas, mas segue cheia de mistérios. Ainda não se sabe, por exemplo, o que acontece no cérebro desses sujeitos. “Estudos apontam que ocorre algum defeito na produção ou na ação de um neurotransmissor chamado dopamina”, conta o psiquiatra Ary Gadelha de Alencar, da Universidade Federal de São Paulo. O especialista participou de uma conferência sobre o tema no último Congresso Cérebro, Comportamento e Emoções (Brain 2018), realizado em junho na cidade gaúcha de Gramado.

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Na busca por explicações mais certeiras para a doença, algumas pesquisas foram vasculhar o DNA dos pacientes à procura de mutações genéticas. Não acharam nada que fosse significativo. Levantamentos até mostraram uma relação entre infecções ao longo da gestação ou traumas no parto a um maior risco de desenvolver a esquizofrenia. Mas nenhum desses achados é considerado decisivo na gênese do problema.

Tamanha falta de informação é um dos fatores que contribuem para um terrível atraso no diagnóstico. “Há uma demora de sete anos entre os primeiros sinais e a detecção do transtorno”, calcula o psiquiatra Wagner Gattaz, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq-HC).

Um flagra precoce leva a um tratamento mais efetivo e com um prognóstico favorável no longo prazo. Mas, infelizmente, essa não é a realidade na grande maioria dos casos. Ficar atento a algumas características, como uma repentina perda de vontade ou uma exagerada mania de perseguição, especialmente em jovens, é a melhor atitude para ir atrás da ajuda profissional, se necessário.

O tratamento

Os remédios que silenciam a paranoia existem desde os anos 1970 e evoluíram enormemente de lá para cá. Os antipsicóticos do passado causavam muitos efeitos colaterais. “Como mexem com a dopamina, esses fármacos estão relacionados a manifestações típicas do Parkinson, como tremor involuntário e rigidez muscular”, esclarece a geriatra Maira Tonidandel Barbosa, da Universidade Federal de Minas Gerais.

As medicações mais recentes, conhecidas genericamente como segunda geração, provocam menos eventos adversos graves – isso porque interferem em outras substâncias da química cerebral, como a serotonina, o que traria uma proteção neuronal extra. Por essa razão, o ideal é dar preferência a essas opções mais novas durante as primeiras incursões terapêuticas.

Caso a tentativa inicial não dê conta do recado, aí, sim, o médico parte para as drogas antigas (primeira geração). Se nem mesmo essas funcionarem, o plano C é a clozapina, a medicação pioneira no campo da esquizofrenia. Como ela pode afetar os glóbulos brancos, o protocolo de uso exige fazer um exame de sangue todas as semanas para ver se está tudo ok.

Uma boa-nova na luta contra a esquizofrenia foi a chegada das injeções de longa ação. Elas utilizam os mesmos princípios ativos dos comprimidos, que foram por muito tempo a única alternativa disponível na farmácia. Uma simples picada fornece uma dose que dura duas semanas ou até um mês, dependendo do tipo e do fabricante.

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No exterior, já existe uma versão aprovada desses produtos que atua por 90 dias. Além delas, uma opção, que está na última fase de testes antes da liberação, fica no organismo ao longo de um semestre inteiro. Por mais que a ideia de tomar agulhadas periódicas não seja lá muito agradável para alguns, a certeza de que o paciente recebeu o remédio e está devidamente medicado por um período mais prolongado é uma garantia contra a desistência do tratamento e futuras recaídas.

Inclusive, uma pesquisa assinada por especialistas do Instituto Karolinska, na Suécia, com apoio do laboratório Janssen, reuniu dados de 29 mil esquizofrênicos e concluiu que os fármacos injetáveis reduzem a mortalidade em 33% na comparação aos comprimidos tomados diariamente. “Seguir a terapia à risca ajuda a estabilizar o quadro e permite cuidar melhor de outros parâmetros de saúde, prevenindo a obesidade e as doenças cardiovasculares“, afirma Gattaz.

Quando pílulas ou injeções não foram capazes de equilibrar o cérebro, resta ainda a eletroconvulsoterapia, que envolve a aplicação de correntes elétricas em determinadas regiões da cabeça. O método mudou demais e não é mais aquele festival de choques do passado, que novelas e filmes teimam em repetir. Hoje em dia ela é segura, fica restrita a algumas áreas do crânio e produz muito menos traumas.

Outra ideia estudada em algumas universidades é o emprego da estimulação transcraniana, um aparelho emissor de ondas magnéticas que traria um efeito parecido. Mas ainda faltam evidências para comprovar que a proposta é realmente boa. Deve demorar mais alguns anos para que ela vire uma realidade.

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A psicologia e os ajustes no estilo de vida

O contato com o psicólogo é outro pilar fundamental no controle e na recuperação da esquizofrenia. As sessões de terapia cognitivo-comportamental são indicadas para entender as emoções, ponderar os pensamentos e, principalmente, identificar os gatilhos que podem desencadear os surtos.

“O estresse e o uso de drogas como o álcool e a maconha são os dois dos principais disparadores dos novos episódios de paranoia”, aponta o psiquiatra Helio Elkis, coordenador do Programa de Esquizofrenia do IPq-HC.

Nesse contexto, não dá pra se esquecer do raciocínio desses indivíduos. Eles apresentam perda de memória e baixa concentração, o que dificulta a realização de tarefas ou o aprendizado de novas informações.

A psicóloga inglesa Til Wykes, do King”s College de Londres, criou um programa de computador que mira justamente essas funções prejudicadas. Ela veio ao Brain 2018 para compartilhar os resultados inéditos de seu experimento. “Vimos melhoras não só nas habilidades cognitivas mas nos próprios sintomas”, relata. Além dos treinamentos mentais regulares, a atividade física também é indicada por estimular a liberação de neurotransmissores benéficos.

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Porém, de nada vai adiantar esse monte de estratégias se a sociedade, da qual eu e você fazemos parte, não se despir de preconceitos e passar a acolher e respeitar quem tem esquizofrenia. Imagine que eles descobrem a doença numa fase de formação universitária e entrada no mercado de trabalho. Sem essa base, fica difícil para qualquer um arranjar emprego e viver com as próprias pernas.

Por outro lado, se o distúrbio está bem controlado, é possível ter uma vida praticamente normal. O suporte da comunidade é a cereja no bolo do tratamento. É assim que a mente, antes dividida, volta a ser uma coisa só.

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