O sistema de faxina cerebral
Descoberto há uma década, ele pode mudar a compreensão e o combate de doenças neurodegenerativas
Nosso cérebro possui um serviço especial de limpeza, conhecido tecnicamente como sistema glinfático.
Decupando o nome, fica mais fácil entender o que ele faz. Glinfático é a junção de “glia”, um grupo de células do sistema nervoso que trabalha para fazer uma faxina no pedaço e resguardar os neurônios, com “linfático”, referência à rede que drena impurezas do organismo e mantém e disponibiliza células de defesa diante de um pedido de socorro.
Esse sistema engenhoso e ainda pouco compreendido do corpo humano protagonizou uma das sessões do Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções, em Gramado.
Na ocasião, o neurologista Manoel Sobreira Neto, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), contou o que já se sabe e o que se especula em torno do sistema glinfático, descrito pela primeira vez há dez anos por Maiken Nedergaard e Jeffrey Iliff, pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.
A descoberta foi feita em ratos, cujo cérebro é biologicamente semelhante ao nosso, e depois confirmada em humanos — trabalho que, na visão de Sobreira Neto, coloca os dois cientistas como candidatos a um Prêmio Nobel.
O professor da UFC explicou que o sistema glinfático é provavelmente essencial para varrer proteínas cujo acúmulo está por trás de doenças como Parkinson e Alzheimer — e seu desempenho pode modular a apresentação desses quadros.
Existe a perspectiva de que, no futuro, medicamentos possam ser criados para potencializar o trabalho do sistema glinfático e tratar problemas neurodegenerativos, impedindo sua evolução e piora.
Mais atividade no sono
A ideia de que boas noites de descanso fazem uma faxina mental tem lá sua validade científica, inclusive se pensarmos no sistema glinfático. Pois tudo leva a crer que ele trabalha em dobro quando estamos dormindo.
“O sistema glinfático pode nos ajudar a explicar por que transtornos do sono, como a apneia, aumentam o risco de degeneração do sistema nervoso”, comentou Sobreira Neto em sua exposição no congresso.
Mas há muito a destrinchar nesse terreno: por exemplo, até que ponto há uma relação de causa e efeito ou coexistência entre esses fenômenos?
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