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Vem aí o primeiro remédio específico para enxaqueca

Em novo estudo, o medicamento tão aguardado por quem sofre desse mal cortou as crises ao menos pela metade - e, de quebra, melhorou a qualidade de vida

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 11 dez 2019, 10h44 - Publicado em 6 dez 2017, 18h10
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  • Quem tem enxaqueca sabe como é difícil fazer a dor de cabeça ir embora. Pois um novo remédio batizado de erenumabe acaba de se mostrar eficaz no controle das crises – e com a grande vantagem de apresentar poucos efeitos colaterais.

    Aplicado via injeção, ele cortou pela metade esses momentos de tortura em voluntários com uma média de oito crises de enxaqueca por mês. O resultado foi obtido pelos pesquisadores do King’s College de Londres, que analisaram 955 pacientes.

    Na investigação, dois terços dos participantes tomaram injeções mensais do medicamento, enquanto o restante ficou no placebo. Quatro meses depois, o grupo que levou as picadas com a nova molécula viu a ocorrência das crises cair para menos de quatro a cada 30 dias. Além disso, o impacto dessas ocorrências na qualidade de vida diminuiu significativamente, o que sugere uma menor intensidade.

    “Para quem está acostumado com o sofrimento desses indivíduos, é um avanço animador”, comenta Fernando Kowacs, neurologista que coordena o Departamento de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia. A novidade é ainda mais comemorada, porque, no momento, não existem remédios específicos para a enxaqueca.

    “Hoje, quem tem um quadro crônico deve tomar medicações feitas para outros problemas, como epilepsia, depressão e até doenças cardíacas”, explica Kowacs. “Elas funcionam, mas podem ter efeitos colaterais importantes”, arremata.

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    Entre as reações adversas das armas empregadas atualmente contra a enxaqueca, podemos elencar déficit cognitivo, queda de cabelo, alterações no peso… “Talvez o maior mérito da nova classe seja praticamente não oferecer efeitos colaterais”, analisa o neurologista.

    Como funciona o novo medicamento

    O fármaco do trabalho britânico, pertencente ao laboratório Novartis, é um anticorpo monoclonal sintetizado em laboratório. O nome não quer dizer que atue no sistema imune, vale dizer. “São anticorpos direcionados para uma molécula específica do sistema nervoso, a CGRP, que sabemos estar ligada à enxaqueca”, desvenda Kowacs.

    Não dá para dizer que a tal CGRP é responsável pelo aparecimento da doença – que é multifatorial, com boa parcela de culpa da genética. Mas silenciá-la é a principal aposta da ciência para dar um basta às crises.

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    Uma vez no organismo, a nova molécula se une à CGRP e impede a propagação dos estragos. “Em um estudo menor, mas com maior tempo de acompanhamento, o erenumabe chegou a zerar as crises de alguns indivíduos”, destaca o médico.

    Além dessa opção, outros três princípios ativos com efeito similar estão sendo testados. “Os medicamentos usados hoje atuam em outros locais do organismo, enquanto os anticorpos monoclonais têm uma ação bem específica”, diz Kowacs “Por isso oferecem menos reações adversas”, conclui Kowacs. Apesar disso, ele ressalta que são necessários acompanhamentos a longo prazo para confirmar essa benesse.

    Estima-se que tais medicamentos cheguem ao público em cerca de um ano e meio, no formato de injeções mensais, com valor e indicação ainda a serem definidos.

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