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Varíola símia: conheça a vacina em negociação pelo Ministério da Saúde

Imunizante é produzido por um laboratório dinamarquês e usa a tecnologia de vírus vivo atenuado

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein*
12 ago 2022, 15h29
varíola dos macacos
Vírus da varíola dos macacos captado em telescópio; há grandes chances de doença ser bem controlada no Brasil (Foto: CDC/Divulgação)
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Em meio ao surto mundial de varíola dos macacos (ou varíola símia) – com mais de 33 mil casos confirmados até o dia 10 de agosto –, autoridades de saúde tentam adquirir a vacina principalmente para as pessoas de alto risco de infecção ou complicações. O ministro da saúde Marcelo Queiroga afirmou que está negociando a compra de 50 mil doses do imunizante com a Organização Panamericana da Saúde (Opas). Elas serão aplicadas primeiramente em profissionais de saúde que lidam diretamente com a doença. Mas, afinal, como funciona essa vacina? Quem a fabrica? O Brasil pretende produzi-la?

A vacina que o Ministério da Saúde pretende comprar é a Jynneos/Imvanex (ela recebe nomes diferentes dependendo do país em que é comercializada), produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic. Trata-se de uma vacina que contém uma forma atenuada (enfraquecida), não replicante e modificada do vírus Vaccínia Ankara (MKA), que está relacionado com o vírus da varíola e da varíola símia. Nesse formato, o MKA não é capaz de se reproduzir e causar a doença em quem recebe a dose, mas estimula o sistema imunológico a produzir defesas contra ele.  

Essa vacina é um pouco diferente da versão original contra a varíola, que foi amplamente usada na década de 1970 e ajudou a erradicar a doença globalmente. Segundo o infectologista pediátrico Alfredo Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein, essa primeira era produzida com o vírus vivo replicante – ou seja, em poucos ela poderia causar a doença e tinha mais efeitos colaterais.

“Essa vacina de agora não foi produzida de uma hora para outra, nem especificamente para casos de varíola símia. Ao longo do tempo, foram desenvolvendo outras versões até chegarem nessa de vírus vivo atenuado e com menos efeitos colaterais”, explica Gilio. “Mas, como a varíola original está erradicada, a vacina em questão não é produzida em larga escala. Ela era usada apenas para situações específicas”, completa.

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Proteção em animais

Como os vírus da varíola humana e da varíola símia são semelhantes, acredita-se que a Jynneos/Imvanex também proteja contra essa segunda enfermidade. Historicamente, a vacinação contra a varíola comum protegeu as pessoas também contra a símia.

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Segundo dados da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), estudos mostraram que ela é eficaz na produção de anticorpos contra a varíola, mas ainda não é conhecida a duração da proteção. Já pesquisas em animais apontaram proteção contra a varíola símia em primatas expostos ao vírus. 

“Teoricamente, essa é uma vacina que causa proteção para a vida toda, como a do sarampo. E o que temos visto no surto de varíola símia é que a maioria dos infectados são pessoas jovens, com menos de 40 anos e que não receberam a vacina da varíola”, diz Gilio. No Brasil, provavelmente só quem nasceu antes de 1975 recebeu uma dose contra a varíola.

Leia também: Pólio: um vírus marcado para a extinção (só que ainda não!)

Escassez no mundo

A recomendação do fabricante é que as pessoas recebam duas doses de 0,5 ml, com intervalo de 28 dias entre as aplicações. Mas por causa da escassez do imunizante no mundo, a FDA (agência americana que regulamenta o uso de fármacos e alimentos) autorizou o uso emergencial da vacina em doses fracionadas – cada frasco será dividido em 5 com o objetivo de ampliar a quantidade de aplicações. 

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“Ela é produzida por um único laboratório que não tem capacidade para atender toda a demanda. A intenção do fracionamento é otimizar ao máximo as doses e diminuir a velocidade de disseminação da doença”, alerta Gilio.

Os efeitos secundários mais frequentes são dores de cabeça, náuseas, fadiga e reações no local da injeção (dor, vermelhidão, inchaço). 

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Segundo a Agência Europeia de Medicamentos, o fabricante vai acompanhar os benefícios e os potenciais efeitos adversos no contexto da varíola símia a partir de um estudo observacional, que será feito a partir do atual surto da doença. 

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“Acreditamos que a varíola símia não vai se espalhar como a Covid-19, que tem uma transmissão respiratória muito importante. Mas a rapidez do avanço dos casos é preocupante ainda assim”, pondera Gilio.

O Ministério da Saúde confirmou à Agência Einstein, por meio da assessoria de imprensa, que está em negociação a aquisição de 50 mil doses da vacina e que a expectativa é receber uma parte em setembro e outra em outubro. O governo não definiu como será o plano de vacinação e nem se pretende fracionar as doses – isso só será definido após a confirmação do recebimento dos lotes. 

O Instituto Butantan informou que, ao menos por enquanto, não há nenhuma negociação para produção do imunizante no Brasil.

Em 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de varíola símia uma emergência de saúde pública de importância internacional. O atual surto começou em meados de maio e até agora afetou 89 países ao redor do mundo.

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*Este conteúdo é da Agência Einstein.

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