Você certamente ficou sabendo que o governo federal do Brasil anunciou uma parceria com a Universidade de Oxford, na Inglaterra, a embaixada britânica e o laboratório AstraZeneca para receber a tecnologia de uma vacina contra o coronavírus (Sars-CoV-2), caso ela se mostre efetiva. O mesmo acordo prevê a compra antecipada de insumos para a produção nacional de 30 milhões de doses. Caso estudos finais com o imunizante demonstrem eficácia e segurança, materiais para a fabricação de outras 70 milhões de doses serão adquiridos.
Isso significa que, se tudo der certo e pintarem resultados positivos já em outubro, teremos, entre o fim deste ano e o começo de 2021, 100 milhões de imunizantes para evitar o coronavírus à disposição dos brasileiros. Se possuímos uma população com mais de 200 milhões de habitantes, quem vai receber as vacinas contra a Covid-19 primeiro?
De acordo com a infectologista Lessandra Michelin, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o esquema de vacinação deve focar em um grupo muito similar ao que receber as injeções contra a gripe na rede pública. “Ao menos essa é a previsão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa”, informa.
Estamos falando de idosos, crianças, grávidas, puérperas, profissionais da saúde, indígenas, professores, doentes crônicos, pessoas privadas de liberdade, funcionários do sistema prisional, caminhoneiros… Por quê? Ou essas pessoas têm um maior risco de complicações da Covid-19, ou uma probabilidade especialmente alta de entrar em contato com o vírus (caso de professores e profissionais de saúde, por exemplo).
Conforme mais doses forem sendo produzidas no nosso país, as autoridades devem ampliar o acesso a mais gente.
Estudos no Brasil com essa vacina
Depois de passar pelas primeiras etapas de pesquisa em humanos, a vacina de Oxford entrou no teste de fogo: o estudo de fase 3, que avalia sua real capacidade de reduzir o risco de infecção em milhares de pessoas.
E parte dos voluntários que receberão o imunizante estarão no Brasil, por meio de uma parceria com a Universidade Federal de São Paulo e outras instituições. Entre os motivos para sermos um dos países a receber a pesquisa está o fato de que, por aqui, o ritmo de novos casos segue alto. Em um ambiente onde o coronavírus circula com intensidade, é mais fácil saber se uma vacina funciona ou não. Além disso, nosso país tem um histórico de produção de imunizantes.
“Os integrantes do estudo serão acompanhados por um ano”, relata Lessandra. Ué, mas se essa investigação vai durar tudo isso, como é que há a possibilidade de darmos as injeções à população geral entre o final de 2020 e o começo de 2021?
A médica relata que, em situações de urgência, dados preliminares já são suficientes para a validação do produto pelas agências regulatórias, em caráter de emergência. Ou seja, se o trabalho trouxer primeiros resultados positivos na prevenção da infecção, é bem provável que a Anvisa libere sua distribuição e siga acompanhando a evolução da pesquisa.
Acredita-se que o imunizante precisará alcançar a eficácia de no mínimo 70% para ser aprovado. Em outras palavras, de cada 100 indivíduos, ao menos 70 teriam que ficar protegidos da doença ao tomarem sua dose.
Bom, mas e se os levantamentos mostrarem que a vacina de Oxford não funciona? Segundo o Ministério da Saúde, parte daqueles insumos necessários para a produção de 30 milhões de doses pode ser reaproveitada em outras áreas ou pesquisas.