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O que o tipo sanguíneo tem a ver com a gravidade do coronavírus

Estudo sugere que o tipo sanguíneo A eleva o risco de sintomas graves e complicações da Covid-19. Entenda o elo entre o sangue, coronavírus (e outros males)

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 30 set 2020, 12h16 - Publicado em 29 jun 2020, 15h41
coronavirus tipo sanguineo
Os tipos sanguíneos podem influir na gravidade da Covid-19.  (Foto: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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A variedade das manifestações da Covid-19 — com sintomas leve para alguns pacientes e complicações agressivas em outros — ainda suscita dúvidas entre os médicos. Afinal, quem está em maior risco de parar na UTI por causa do coronavírus (Sars-CoV-2)? Além dos grupos de risco mais conhecidos, um estudo europeu iniciou um debate sobre o possível papel do tipo sanguíneo no agravamento do problema.

Os pesquisadores publicaram seus achados no prestigiado periódico The New England Journal of Medicine. Eles analisaram os genes de cerca de 4 mil pessoas. Entre elas, havia indivíduos com sinais graves, moderados ou leves da Covid-19, além de um pessoal livre da infecção.

A ideia era encontrar alterações genéticas comuns aos casos mais sérios. De fato, os experts detectaram mutações semelhantes em seis genes do cromossomo 3, uma parte do DNA responsável pela imunidade e com papel na resposta inflamatória, que pode ser exacerbada na Covid-19.

Entretanto, a descoberta mais curiosa envolveu os genes que determinam o tipo sanguíneo. Ora, os portadores do tipo A apresentavam um risco 45% maior de desenvolverem quadros mais graves. Em quem possuía o tipo O, o efeito foi oposto — o perigo caiu 35%. Eles são os mais frequentes na população.

O fator Rh, que determina aquele sinal de positivo ou negativo do tipo sanguíneo, não foi avaliado.

Meu tipo sanguíneo é A, e agora?

“O estudo apenas indica que pode haver uma associação entre duas coisas. Ele não mostra uma relação direta de causa e efeito”, aponta João Prats, infectologista e consultor da oncohematologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A pesquisa não avaliou, por exemplo, outros fatores de risco para complicações da Covid-19, como tabagismo, hipertensão e diabetes. E isso poderia interferir nos resultados.

No mais, uma possível elevação no risco de casos severos não significa que todo sujeito com tipo sanguíneo A vai parar na UTI caso pegue o coronavírus. Nem que detentores do tipo O podem sair por aí despreocupados.

A relação entre tipo sanguíneo e saúde é investigada há tempos. Muita coisa já foi dita sobre o tema, embora o grau de evidência ainda deixe a desejar.

“Pesquisas mostram, por exemplo, que o tipo O oferece alguma proteção contra problemas cardíacos”, comenta Prats. Outros experimentos sugerem que indivíduos no grupo A estão ligeiramente protegidos da cólera e do norovírus, causador de úlceras gástricas, enquanto os do grupo O parecem mais vulneráveis aos ataques da H. pylori, ligada aos tumores no estômago.

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Aliás, um membro da família dos coronavírus já entrou nessa linha de pesquisas. Como destacam os autores do estudo europeu, tal relação foi observada no Sars-CoV-1, por trás de uma epidemia em 2002.

Recentemente, outro trabalho chinês ligou o grupo A a uma maior vulnerabilidade aos ataques do Sars-Cov-2. Esse artigo, no entanto, ainda não foi publicado em uma revista científica — o que significa que não foi avaliado criteriosamente por outros especialistas.

Por que um tipo sanguíneo pode tornar os sintomas do coronavírus mais graves?

O que determina o tipo sanguíneo são proteínas que revestem as hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue. “Todas essas proteínas são criadas a partir de uma parte de DNA”, explica Prats.

Só que esse mesmo trecho do código genético determina está envolvido com outros fatores do organismo. Ou seja, embora seja possível que o novo coronavírus tenha alguma predileção por proteínas específicas do tipo sanguíneo A, existe também a hipótese de outras características presentes nessa porção do DNA estarem por trás de uma maior suscetibilidade à Covid-19. Nesse cenário hipotético, o problema não seria o sangue em si, mas sim o código genético que o define.

“O tipo sanguíneo é um marcador do perfil de DNA que você herdou. E ele pode conter alguma alteração que determine sua resposta inflamatória”, exemplifica Prats. Mais estudos deverão esclarecer a real influência do tipo sanguíneo no aparecimento de doenças, em especial na infecção do novo coronavírus.

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