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A transmissão do coronavírus por pessoas assintomáticas e pré-sintomáticas

Veja a diferença entre pacientes com coronavírus que são assintomáticos, pré-sintomáticos ou que têm sintomas leves. E como isso afeta a disseminação

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 10 dez 2020, 12h18 - Publicado em 9 jun 2020, 15h47

Durante uma apresentação no dia 8 de maio, a líder de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, chegou a dizer que pessoas com casos assintomáticos de coronavírus (Sars-CoV-2) raramente transmitem a infecção para frente. A declaração pegou especialistas de surpresa e, acima disso, serviu de argumento para grupos contrários a um isolamento social mais abrangente. Mas isso não faz sentido — e vamos explicar o porquê.

Pra começo de conversa, a afirmação de Maria Van Kerkhove carece de evidências robustas. Pelo Twitter, ela chegou a defender sua postura inicial recorrendo a um guia técnico da OMS sobre o uso de máscaras, que afirma: “As evidências disponíveis […] sugerem que indivíduos assintomáticos são muito menos propensos a transmitir o vírus do que aqueles que desenvolvem sintomas”.

Verdade: se estiverem em um mesmo ambiente, o risco de uma pessoa que não apresenta sintomas transmitir o vírus da Covid-19 provavelmente é menor em comparação com o de outra que está tossindo e espirrando. Até porque essa última fica espalhando perdigotos.

Porém, a probabilidade de alguém assintomático passar a infecção não parece ser nula, de acordo com o mesmo documento citado pela técnica da OMS: “Vírus viáveis foram isolados […] em pacientes pré-sintomáticos ou assintomáticos, sugerindo que essas pessoas podem transmitir a doença a outras”. Uma revisão de estudos do Scripps Research Institute, nos Estados Unidos, reforça a tese.

Nesse momento, não há como saber qual a magnitude da capacidade de transmissão do coronavírus em sujeitos assintomáticos e, mais importante do que isso, qual o potencial desse modo de disseminação no progresso da pandemia.

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“Para saber isso, precisaríamos examinar aleatoriamente pessoas e separar várias que testaram positivo para o Sars-CoV-2, mas que não manifestaram sintomas nem com o passar do tempo”, introduz a bióloga Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência. “Aí, deveríamos verificar no laboratório se o vírus presente nessas pessoas é capaz de gerar a doença em outras, ao mesmo tempo em que avaliamos os indivíduos que convivem com esses voluntários para checar se eles foram”, arremata. Esse processo todo ainda não foi realizado em estudos confiáveis.

Em uma reunião divulgada ao vivo nas redes sociais no dia 9 de maio, Maria Van Kerkhove recuou e prestou esclarecimentos, como mostra VEJA. Na mesma ocasião, o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, voltou ao tema: “Estamos convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo. A questão é saber quanto”.

Só diante disso, já seria temerário sugerir o fim da quarentena — principalmente diante das várias evidências que mostram sua eficácia na redução de mortes. Mas a história não para por aí.

A diferença entre pessoas assintomáticas e pré-sintomáticas

O conceito é simples: uma, mesmo tendo sido infectada, nunca vai sofrer com febre, perda de olfato etc. Já a outra está com o vírus não corpo, porém ele só não teve tempo de causar estragos.

E, para esse segundo caso, há evidências mais fortes de uma capacidade considerável de transmissão mesmo antes de os sintomas aparecerem. Em um estudo publicado no periódico Nature Medicine, pesquisadores acompanharam a cadeia de transmissão de 94 pacientes com Covid-19. Eles estimaram que 44% das infecções secundárias — que foram causadas diretamente por esse pessoal — ocorreram antes que qualquer tosse ou espirro fosse dado.

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O artigo diz: “Medidas de controle devem ser ajustadas para considerar prováveis transmissões pré-sintomáticas”. Abdicar do isolamento é sinônimo de colocar na rua todo esse pessoal que simplesmente não teve tempo de sofrer as consequências do coronavírus, mas que ainda assim consegue disseminar a enfermidade.

A questão dos pacientes com sintomas leves

Por fim, há quem pegue o Sars-CoV-2 e desenvolva uma coriza fraquinha ou um pouco de tosse. Acontece que, nessa situação, é comum não relacionar tais sinais ao coronavírus. “Imagine uma pessoa com rinite que é infectada, mas apresenta sintomas respiratórios mínimos. É provável que ela ache que isso tem a ver com a alergia, e não com a Covid-19”, explica Natalia.

Sem isolamento, essa turma também sairia transmitindo o vírus. “Houve um erro de comunicação por parte dos membros da OMS. Mas também falta bom senso de parte das autoridades para interpretar certas declarações à luz do que já sabemos sobre o coronavírus”, conclui a presidente do Instituto Questão de Ciência.

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