Quando e como aplicar repelente (contra febre amarela)
Esses produtos podem ajudar a conter surtos de doenças causadas por mosquitos. Mas tem que saber aplicar – usar na cama é besteira, por exemplo
O surto de febre amarela deve abrandar com o fim do verão – mas é importante seguir se protegendo para evitar sua disseminação (e sua propagação em 2019). Se a vacina segue como principal arma contra a doença, o fato é que ela tem um aliado: o repelente.
Mas como usar? Há produtos melhores ou piores? E, no fim das contas, quem deve mesmo aplicar o repelente todo dia?
Resolvemos essas e outras dúvidas em uma entrevista com Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto Emilio Ribas e membro da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses (SBDA). Veja abaixo:
SAÚDE: As pessoas já estão parando de falar em febre amarela. É normal isso?
Jean Gorinchteyn: É normal, mas não deveria ser. Essa discussão tem que continuar o ano inteiro, até para que em 2019 o surto não seja pior. A prevenção é fundamental e envolve a vacinação, eventualmente com uso de repelente, até porque ele não protege apenas contra a febre amarela.
O Ministério da Saúde anunciou que o Brasil inteiro virou área de recomendação para a vacina. É uma boa ideia?
É uma postura muito cabível, uma vez que pequenos municípios e até grandes cidades estão apresentando casos. Não se sabe direito o motivo, mas a febre amarela chegou a locais onde antes não era uma ameaça e, com a vacina, podemos impedir essa evolução.
Fora que a vacinação para todos diminuiria o risco de a transmissão dessa doença ser feita pelo Aedes aegypti. Essa seria a febre amarela urbana.
Mas há risco de urbanização?
Eu diria que precisamos ter atenção e adotar medidas que impeçam isso. Dizer que o risco de febre amarela é irrisório é um pouco leviano. Atingir 90% de vacinação entre a população impediria a urbanização.
E devemos também de controlar o Aedes aegypti com aquelas medidas conhecidas. Temos de combater a água parada.
É ruim quando vemos uma pessoa tomar todos os cuidados, mas seu vizinho possui uma piscina com água não tratada e exposta. Esse sujeito precisa entender que está colocando a sua vida e a de outras pessoas em risco. De novo, não estamos só falando de febre amarela, mas também de dengue, zika e chikungunya.
E o repelente nessa história?
Antes de tudo, o repelente ajuda a dar mais segurança. A vacina contra a febre amarela é ótima, mas em poucos casos ela não gera uma resposta adequada. Ou seja, o indivíduo toma e segue suscetível a doença.
De novo, isso não é nada comum, mas, querendo ou não, o repelente vira uma segunda barreira. Além disso, a vacina leva pelo menos dez dias para fazer efeito. Durante esse período, o uso de repelentes evita que o mosquito com o vírus da febre amarela pique a pessoa.
E um estudo mostrou que os repelentes corporais à base de icaridina também surtem efeito contra o Sabethes e o Haemogogus, que transmitem a febre amarela em regiões perto de matas. Antes, nós só sabíamos com certeza que ele funcionava contra o Aedes aegypti.
Como usar o repelente?
O repelente corporal deve ser usado durante o dia. E ao longo do tempo vou reaplicando conforme especificado no rótulo de cada produto.
Não é para passar por debaixo da roupa. O repelente funciona justamente quando evapora um pouco, o que cria uma camada de proteção. E isso não acontece quando há uma calça ou camisa por cima.
Até por isso falei de usar durante o dia. À noite, se a pessoa usa um cobertor ou lençol, essa evaporação não acontece direito. Fora que, ao rolar na cama, o repelente sai do corpo.
O que fazer à noite então?
Dá para usar o repelente elétrico, a dois metros de distância da cabeceira da cama.
Quem deve usar repelentes em geral?
Isso depende de alguns aspectos. Para pessoas que moram em áreas rurais, com mais mosquitos, seria interessante usar todo dia mesmo. Gente que vive em locais com surtos de doenças transmitidas por mosquitos também.
Agora, se a pessoa não vive em uma região dessas, talvez não precise aplicar repelente todo dia. Esse é um assunto que pode ser debatido com o médico, até porque há particularidades, como o caso do vírus zika nas gestantes.