A gonorreia é uma das infecções sexualmente transmissíveis (IST) mais conhecida. E não é para menos, uma vez que seus sintomas, em especial entre os homens, podem ser bem incômodos.
A seguir, conheça mais sobre a doença, por que ela surge e como deve ser combatida.
O que é gonorreia
Gonorreia é uma IST causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, popularmente chamada de gonococo. Ela também pode passar da mãe para o bebê.
O problema, frequente em homens e mulheres, costuma afetar a uretra e o colo do útero — bem como o reto e a garganta quando se pratica sexo anal e oral, respectivamente. Nas crianças recém-nascidas, atinge principalmente os olhos, com potencial de deflagrar a perda de visão.
O período de incubação da Neisseria gonorrhoeae é de até uma semana. Ou seja, ela pode permanecer sete dias no organismo antes de disparar sintomas.
Estima-se que entre 1% e 2% da população mundial carregue essa bactéria no corpo. Como não é uma doença de notificação compulsória no Brasil, desconhecemos sua incidência exata por aqui.
Ainda existe um estigma que liga a gonorreia a um comportamento, digamos, devasso. Mas qualquer pessoa sexualmente ativa que não use camisinha está vulnerável a ela.
O que causa a gonorreia?
Via de regra, a doença é causada por relações sexuais desprotegidas, que fazem com que a bactéria se dissemine.
Nos bebês, é transmitida pelo corpo da mãe, pelas bactérias do canal vaginal durante o parto.
Sintomas de gonorreia
Dependendo da porta de entrada, a gonorreia causa diferentes encrencas em ambos os sexos. Entre elas, temos:
- Dor e ardência na região genital
- Coceira, secreção e sangramento no ânus
- Dor de garganta
- Dificuldade para engolir
- Dor ao evacuar
- Dores na parte inferior do abdômen
- Urgência para urinar ou vontade frequente de fazer xixi
- Corrimento exacerbado ou secreção no pênis
Como é feito o diagnóstico de gonorreia?
Em geral, a detecção na população masculina é mais simples. O médico descobre a doença a partir dos sintomas e de uma conversa sobre as últimas relações sexuais do paciente. Quem foram os parceiros? Houve sexo oral e anal? Você usou preservativos?
“Com as mulheres, o ideal é sempre fazer um exame de biologia molecular com coleta de secreção ou urina”, orienta Kreitchmann. Essa é uma tecnologia similar ao teste de PCR usado para detectar o coronavírus — e pode ser indicada de tempos em tempos ou se surgir alguma suspeita, a depender também dos hábitos da mulher e de uma análise do profissional de saúde.
O problema com esse método é que ele nem sempre está disponível na rede pública por ser caro. Nessas situações, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma análise do material coletado no colo do útero ou da uretra.
Gonorreia tem cura? Saiba como funciona o tratamento
O tratamento da gonorreia consiste no manejo dos sintomas e das complicações e, principalmente, na utilização de antibióticos. Atualmente, há uma tendência de injetar um desses remédios na veia do paciente, em dose única. A droga está disponível gratuitamente no SUS e também deve ser administrada nos parceiros sexuais recentes.
No entanto, o tipo de antibiótico e a forma de aplicação mudam constantemente. Isso porque a Neisseria gonorrhoeae possui alta capacidade de mutação. “Ela tem se tornado resistente a certos antibióticos. Já sabemos de casos na Ásia que não respondem aos medicamentos convencionais”, alerta Kreitchmann.
Nessas situações, ela é chamada de super-gonorreia ou gonorreia multirresistente. E já é considerado um problema de saúde pública.
Fora isso, o contágio por gonococo frequentemente vem associado à clamídia, outra IST que é até mais prevalente. “A gente costuma fazer o tratamento para às duas em conjunto”, aponta Kreitchmann.
Se tudo der certo, o tempo de cura da gonorreia pode ser em menos de uma semana. Mas você pode voltar a se infectar. Mais uma razão para fazer sexo protegido.
Prevenção da gonorreia
Não tem segredo: para evitar essa chateação, aposte na camisinha. “Também é importante realizar o diagnóstico precoce e tratar, mesmo quando não há sintomas”, diz o membro da Febrasgo.
Com isso, o risco de transmissão da gonorreia para outras pessoas cai consideravelmente.
Gonorreia masculina x gonorreia feminina
O ginecologista Regis Kreitchmann, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infecto-Contagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), conta que essa IST se manifesta de formas diferentes em homens e mulheres.
A começar pelo fato de que a infecção em geral não provoca sintomas no sexo feminino, mas no masculino, sim. “Nos homens, pode vir acompanhada de pus e ardência para urinar”, informa o especialista. Dor ou inchaço nos testículos também ocorrem.
Quando os sinais da gonorreia aparecem na ala feminina, tendem a envolver secreção vaginal e dor ao transar e fazer xixi. Dor pélvica e sangramento fora do período menstrual eventualmente dão as caras.
Quais são as complicações da gonorreia
Cabe destacar que elas costumam decorrer da falta de diagnóstico ou de um tratamento inadequado. E, aqui, as mulheres são mais atingidas.
No sexo feminino, as complicações incluem doença inflamatória pélvica e infertilidade. Elas acontecem devido à invasão da bactéria em outras partes do corpo.
Nos homens, há o risco de ocorrer uma prostatite. Trata-se de uma inflamação na próstata que desencadeia dores, incontinência ou retenção urinária, febre, mal-estar…
E tanto em mulheres como homens, há a possibilidade de surgir a chamada artrite infecciosa. Sim, estamos falando de perda de mobilidade e incômodos nas articulações.
Kreitchmann vai além. “Quando uma mulher infectada está grávida e faz um parto vaginal, o bebê pode desenvolver conjuntivite neonatal”, avisa. Sem tratamento, o quadro leva à cegueira.
Para evitar esse problema, as maternidades brasileiras aplicam um colírio de nitrato de prata assim que as crianças nascem. Mas há profissionais que recomendam adotar o tratamento apenas nos filhos das mães com casos confirmados de gonorreia. Converse com seu médico.
“Além disso, durante a gestação, a enfermidade provoca infecção do líquido amniótico, rompimento da bolsa antes do tempo e parto prematuro”, complementa Kreitchmann.