O futuro da cardiologia
Avanços tecnológicos estão mudando o tratamento das doenças cardiovasculares, as que ainda mais matam no mundo
Genética, robótica, inteligência artificial… A tecnologia começa a revolucionar os cuidados com o coração. Para trazer um panorama do que vem por aí, VEJA SAÚDE conversou com três experts no assunto.
O médico israelense Rafi Beyar, autoridade na área que esteve recentemente no Brasil para apresentar tendências, destaca o progresso nas cirurgias menos invasivas para desobstruir artérias com mais eficiência e agilidade.
O cardiologista Alexandre Abizaid, diretor do Departamento de Cardiologia Intervencionista do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, se empolga com o uso da inteligência artificial nos procedimentos.
E seu colega Diandro Marinho Mota, médico responsável pela arena de inovação e tecnologia do 43º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), adianta alguns dos temas a serem discutidos no evento em junho — caso da utilização de pulseiras e relógios inteligentes para captar informações sobre o peito.
Marca-passos biológicos
O marca-passo transformou o tratamento de arritmias décadas atrás. Agora, cientistas buscam novas formas de equilibrar os batimentos cardíacos. Já existem estudos recrutando células-tronco geneticamente modificadas para se tornarem reguladoras do ritmo do coração.
Outra linha de pesquisa busca a utilização de células sensíveis à luz de uma alga para controlar o órgão por meio de pulsos luminosos.
Robótica em ascensão
Cresce o uso de robôs em procedimentos para desobstruir as artérias. No caso, um braço robótico insere o stent (pecinha flexível que “abre” o vaso), e um médico opera o sistema a uma distância segura, sem se expor à radiação da máquina de raios X.
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Agora, testes estão sendo feitos para tratar pessoas remotamente. Em uma etapa, cinco operações foram feitas com sucesso por profissionais a 35 km de distância dos pacientes.
Aneurisma amarrado
Rafi Beyar aposta em métodos menos invasivos para tratar o aneurisma de aorta (dilatação da parede de uma artéria no abdômen que pode provocar seu rompimento).
Por meio de um cateterismo, é possível “selar” o espaço dilatado com stents. A vantagem é não precisar abrir o peito do paciente.
Beyar lembra, contudo, que o ideal mesmo é tentar prevenir o problema controlando sua principal causa, a hipertensão.
Mundo de wearables
Os dados registrados por celulares, relógios, pulseiras e roupas podem ser bem úteis ao médico. Já existem trabalhos mostrando que alguns deles oferecem medidas confiáveis de batimentos cardíacos e são capazes até de identificar arritmias.
Diandro Mota, da Socesp, ressalta que é preciso cuidado na hora de escolher, pois nem todo dispositivo à venda foi certificado e estudado para esse fim. E há opções piratas no mercado.
Inteligência artificial
O InCor é o primeiro centro da América Latina a incorporar algo que deve se tornar praxe daqui a uns anos: o uso de inteligência artificial na instalação de stents.
Um software processa as imagens da placa que obstrui a artéria, colhidas por um tipo específico de cateter.
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Em tempo real, ele emite um diagnóstico da situação e sugere a melhor abordagem para o caso. Isso otimiza recursos e diminui complicações.
Genética no colesterol
Controlá-lo melhor é urgente. Em alguns países, já foram aprovadas terapias à base de RNA (molécula que envia uma instrução às células do corpo) para interferir na produção de colesterol pelo fígado.
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E, em 2022, começou um estudo em humanos com uma terapia para silenciar o gene responsável pela síntese da gordura. Essa abordagem seria válida nas situações em que a origem do colesterol alto é uma desordem genética.
Estilo de vida faz diferença
Cada vez mais, os manuais e diretrizes de cardiologia reforçam o papel dos hábitos na saúde cardíaca. Exercícios físicos, boa alimentação, controle do estresse e qualidade do sono são tão importantes que devem ser prescritos como remédios.
Um estudo recém-publicado no periódico Circulation mostrou que pessoas que adotam medidas como essas, além de controlar peso e pressão, vivem até nove anos a mais do que as que as negligenciam.