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Nutrientes na veia: conheça a soroterapia e seus riscos

Aplicação de vitaminas e minerais direto na corrente sanguínea promete turbinar a imunidade, melhorar a aparência e aliviar o estresse. Método é perigoso

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 10 Maio 2023, 10h15 - Publicado em 9 Maio 2023, 17h51
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Pela via injetável, as vitaminas são absorvidas mais rapidamente - isso é útil a pessoas com certas doenças ou condições, mas arriscado quando adotado por pessoas saudáveis, sem recomendação médica  (Foto: Diana Polekhina/Unsplash/Divulgação)
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O consumo indiscriminado de vitaminas e minerais em cápsulas, gomas e afins – que são vendidos sem prescrição nas farmácias – sempre preocupou profissionais de saúde. Afinal, doses extras de nutrientes nem sempre se traduzem em benefícios ao organismo.

Agora, uma nova modalidade de suplementação acende um alerta ainda mais enérgico. Trata-se da chamada soroterapia, caracterizada pela aplicação intramuscular ou endovenosa de uma série de substâncias.

As promessas variam: vão desde turbinar a imunidade e aumentar a energia até melhorar a memória e a aparência. Devido à popularidade das questões estéticas, muitas vezes a injeção é inclusive chamada de “soro da beleza”.

O assunto chamou a atenção quando veio à tona a história de uma grávida de 8 meses que morreu após tomar um coquetel de vitaminas em uma farmácia de Cuiabá (MT).

O objetivo era reforçar a imunidade, já que a mulher estava com sintomas gripais. O bebê também não resistiu.

Aplicações na veia precisam de indicação real

Se os profissionais de saúde já pedem prudência em relação ao consumo de vitaminas e minerais via oral, imagine quando se fala em suplementação direto na veia, que culmina na absorção das substâncias de forma praticamente instantânea.

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“Há riscos de intoxicação, arritmia e outras complicações”, alerta a médica Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

A gestante que morreu em Cuiabá teve suspeita de choque anafilático, quando ocorre uma reação alérgica grave e letal. Ela recebeu um coquetel formado pelas vitaminas C e do complexo B.

Em nota, o Conselho Federal de Farmácia destacou que a mistura é contraindicada em caso de gravidez.

Não significa, porém, que a suplementação endovenosa não tenha valor em absolutamente nenhum cenário.

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“A soroterapia é útil quando o indivíduo necessita dessa rápida absorção por algum motivo, como no caso de pacientes que fizeram uma cirurgia bariátrica ou que possuem doenças inflamatórias intestinais. Essas condições impedem o sistema digestivo de metabolizar os nutrientes tomados via oral” informa Marcella.

“É como utilizar um remédio para hipertensão: é preciso ter prescrição e contar com acompanhamento médico”, compara Andrea Bottoni, nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Ou seja, não é para qualquer pessoa.

+ Leia também: Suplementos vitamínicos não previnem doenças

“O problema é que isso foi banalizado e, hoje, há misturas voltadas a questões estéticas, imunidade…”, analisa a nutróloga.

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Ela lembra que essa “moda” se disseminou a partir da pandemia do coronavírus. No desespero de aprimorar as defesas naturais do organismo, muitos caíram no conto da soroterapia.

Além de ser fundamental ter uma indicação clara para recorrer a esse método de suplementação, o processo precisa acontecer em ambiente hospitalar ou em clínica credenciada – justamente devido aos riscos envolvidos.

“Esses locais são fiscalizados e seguem um protocolo para ter a permissão de oferecer a soroterapia. Ao menor sinal de problema, é essencial contar com uma equipe de emergência”, ressalta Marcella.

Também há farmácias credenciadas para realizar esse tipo de serviço, mas, segundo o Conselho Federal de Farmácia, nunca em pacientes grávidas.

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Por que até a ingestão oral de nutrientes exige cautela

Nas farmácias, há prateleiras lotadas de suplementos de todos os tipos (com misturas de vitaminas e minerais ou substâncias isoladas) e em vários formatos (cápsula, pó e goma são exemplos).

E ninguém precisa de prescrição médica para levar um produto desses para casa.

Mas o fato de o consumo ocorrer via oral não significa que os riscos são nulos. Veja: quando não há deficiência comprovada de algum nutriente, apostar na suplementação pode levar a uma situação de excesso.

Por exemplo: o abuso de vitamina C, popular entre quem quer manter a imunidade em alta, pode levar a problemas como diarreia e distúrbios gastrointestinais.

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Antes de recorrer a produtos desse tipo, o ideal é consultar um profissional de saúde e verificar se realmente há uma questão de déficit nutricional para ser corrigido.

Para não sofrer com baixas nutricionais, a melhor saída é investir em uma alimentação equilibrada e diversificada. “Quem come vegetais de todas as cores e evita produtos ultraprocessados dificilmente terá alguma deficiência. É preciso valorizar o que é natural”, aconselha Bottoni.

“Uma casa firme é construída tijolo a tijolo. Para ficarmos mais bonitos, fortes e saudáveis, devemos construir bons hábitos e conquistar esses ganhos com o tempo”, completa o nutrólogo.

Em resumo, é crucial não acreditar em milagres – sejam eles vendidos em forma de injeções, cápsulas, shots e afins.

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