Você provavelmente já ouviu falar da melatonina como o “hormônio do sono”. E faz sentido mesmo. Quando chega o fim do dia, a baixa da luminosidade faz com que a gente passe a produzir e liberar mais dessa substância – e isso prepara o nosso corpo para descansar. Embora esse seja o efeito mais conhecido da molécula, não é o único. A ciência já vinha demonstrando que ela parece ser uma boa guardiã do cérebro. Agora, pesquisadores da Universidade Deakin, na Austrália, em parceria com colegas do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona, na Espanha, puderam entender melhor como se dá essa ação protetora para o Alzheimer.
Para isso, eles deram melatonina a animais saudáveis e também àqueles com alterações genéticas características do Alzheimer por seis meses – o que corresponde à vida adulta das cobaias. A dose usada foi de 10 miligramas por quilo de peso corporal. “É um valor muito maior do que normalmente se utiliza em seres humanos”, avisa Bárbara Rita Cardoso, pesquisadora brasileira e coautora da investigação.. Isso porque a ideia era elucidar mecanismos de ação – e, assim, gerar informações para futuros estudos com gente de verdade.
De acordo com Bárbara, após o fim da intervenção, os dois grupos de cobaias apresentaram menos sintomas de ansiedade e melhor memória quando comparadas aos animais que não receberam o hormônio. “Em uma análise detalhada do tecido cerebral, percebemos que o tratamento com a melatonina se associava a um menor processo inflamatório e maior capacidade de eliminar proteínas que já não funcionam adequadamente no cérebro”, informa. “Isso é muito importante quando se trata de Alzheimer, já que uma das características da doença é o acúmulo de proteínas disfuncionais, que passam a causar dano cerebral”, completa.
Já posso investir na melatonina?
De olho nos indícios de que o hormônio auxiliaria na prevenção do Alzheimer, dá vontade de apostar na substância desde já, certo? Mas pode ter calma! Antes, é preciso realizar estudos de longo prazo com seres humanos para, assim, confirmar os achados do trabalho. “Ainda não temos todo o embasamento científico necessário para indicar a suplementação de melatonina como estratégia para reduzir o risco dessa doença”, afirma Bárbara.
Mas, se a suplementação é precipitada nesse momento, o que a gente pode fazer com toda a segurança é dar condições para o nosso organismo fabricar melatonina naturalmente. A pesquisadora brasileira da Universidade Deakin sugere, por exemplo, dormir em quarto escuro de verdade – para isso, tem que desligar até aquele pequeno ponto de luz dos equipamentos que estão em stand by. “Outra estratégia importante é reduzir a exposição à luz artificial à noite, incluindo a da televisão, do tablet e do celular”, ensina Bárbara.