Falta de saneamento básico causa 273 mil internações em um ano no Brasil
Levantamento do Instituto Trata Brasil aponta ainda que, em 2019, mais de 2,3 mil pessoas morreram por não terem acesso à água tratada
Em uma época de avanços notáveis na ciência, centenas de milhares de brasileiros ainda adoecem todos os anos por falta de acesso ao saneamento básico. Um novo levantamento do Instituto Trata Brasil aponta que, em 2019, foram 273 mil internações e 2 734 mortes provocadas por doenças de veiculação hídrica.
A categoria abrange as mazelas transmitidas por meio da água contaminada. É uma lista longa: diarreias, dengue, malária, hepatites, cólera, esquistossomose… Quase 35 milhões de pessoas vivem em locais sem acesso à água própria para consumo e 100 milhões sem coleta de esgoto. Portanto, estão em maior risco de ter uma dessas infecções.
Há anos, a incidência dessas doenças, que são um problema de saúde pública antigo, vinha diminuindo. O estudo, que usou dados do Ministério da Saúde e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) indica uma reversão de tendência. Houve incremento de 30 mil internações entre 2018 e 2019.
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As crianças de 0 a 4 anos correspondem a 30% do valor total de internações. No período, 81 mil foram hospitalizadas.
Desigualdades regionais
Levando em conta a taxa de incidência por 10 mil habitantes, são 22,9 internações no Norte (onde só 12% da população tem acesso ao saneamento básico); 19,9 no Nordeste; 17,2 no Centro-Oeste; 9,26 no Sul; e 6,99 no Sudeste (onde a cobertura alcança 79%).
“Os dados deixam claro que qualquer melhoria no acesso da população à água potável, coleta e tratamento de esgotos traz grandes ganhos à saúde pública. Por outro lado, o não avanço faz perpetuar essas doenças e mortes de brasileiros por não contar com a infraestrutura mais elementar. São hospitalizações que poderiam estar sendo destinadas a doenças mais complexas”, afirmou em comunicado à imprensa o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.
Uma lei de 2020 estipula a meta de levar água tratada a 99% da população até 2033, e esgoto a 90% dos brasileiros. Mas o ritmo dos programas de ampliação da rede deve ser acelerado para alcançar o objetivo, alerta a entidade.
Pandemia pode levar a subnotificação
Segundo o Trata Brasil, dados preliminares apontam para uma redução de 35% nas internações por doenças de veiculação hídrica em 2020.
No entanto, a entidade explica que os dados precisam ser analisados pelas instituições médicas, já que a queda pode estar relacionada ao afastamento das pessoas dos hospitais por medo de contaminação por Covid-19. Isso aconteceu com outras doenças, vale dizer.
*Com informações da Agência Brasil