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Doenças inflamatórias intestinais (DII): o que são e como tratá-las

Em meio ao aumento de diagnósticos de retocolite ulcerativa e doença de Crohn, tratamento está se tornando mais eficaz e prático

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 20 abr 2023, 16h37 - Publicado em 14 abr 2023, 16h32
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  • As doenças inflamatórias intestinais, ou DII, são crônicas, afetam muito a qualidade de vida e estão cada vez mais frequentes devido ao estilo de vida moderno. Elas se dividem em dois principais tipos: retocolite ulcerativa e doença de Crohn.  

    Calcula-se que 10 milhões de pessoas no mundo sofram com esses males. No Brasil, há uma estimativa de 100 casos a cada 100 mil habitantes – o que não é pouco. 

    “Elas eram consideradas doenças raras no passado, mas, para ter ideia, só no SUS temos 250 mil pacientes retirando remédios para tratá-las, sem contar os que utilizam a rede privada”, destaca a gastroenterologista Marta Machado, presidente da Associação Brasileira de Colite e Doença de Crohn (ABCD)

    Hoje, ocorrem mais diagnósticos e existem indícios de que fatores externos, ligados aos nosso hábitos e ao ambiente, também podem estar envolvidos no surgimento da doença.

    Estresse constante, má alimentação, sedentarismo e consumo de álcool e tabaco podem favorecer o aparecimento desses quadros”, exemplifica a cirurgiã do aparelho digestivo Vanessa Prado, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. 

    Não à toa, a população jovem, entre os 15 e 40 anos, é a mais acometida. O tratamento está mais moderno, mas, hoje, o principal desafio é chegar até ele. “É preciso procurar o médico mais rápido para fazer o diagnóstico precoce”, aponta Vanessa. 

    Conhecer esses problemas e seus sintomas é o primeiro passo para isso. 

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    O que são as DII

    São doenças do sistema imunológico. Depois de algum gatilho, ele se desequilibra e passa a provocar um processo inflamatório crônico e incurável no trato gastrointestinal.

    “Não sabemos a causa exata, mas ocorre a ativação de uma cascata inflamatória que não acaba mais”, conta Marta.

    A médica dá um exemplo. “Imagine que você vai numa festa, come uma maionese estragada e tem uma gastroenterite [inflamação do intestino]. Em três dias está melhor e vida que segue. Já a pessoa com DII pode ter isso como um gatilho inicial, e as queixas vão piorando”, completa. 

    + Leia também: Fique atento aos sintomas das doenças inflamatórias intestinais

    Eventos estressantes ou o estado emocional são outros estopins das DII. Influência genética, alimentação com muitos ultraprocessados também estão envolvidos e, muitas vezes, tudo isso está misturado. Daí porque elas são consideradas doenças multifatoriais

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    Entre os sintomas, o principal é a alteração do trato gastrointestinal, com surtos de diarreia que levam a pessoa ao banheiro várias vezes ao dia. Além disso, há dor abdominal, sensação de distensão e evacuação com sangue.

    Outras manifestações menos específicas podem dar as caras. “Estamos falando de febre de origem obscura, perda de peso e, em casos mais graves, problemas fora do intestino, como uveíte [inflamação nos olhos], lesões na pele, artrite e doenças no fígado e no pulmão”, lista Marta.

    Não à toa, hoje as DII são encaradas como condições sistêmicas, e não apenas do intestino. 

    As diferenças entre retocolite ulcerativa e doença de Crohn 

    Esses são os dois principais tipos da doença, e as principais distinções entre eles dizem respeito ao local e à intensidade da inflamação.

    A doença de Crohn atinge da boca até o ânus, além de estar mais ligada às queixas em outros órgãos, em especial a pele. 

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    “Crianças com Crohn são cinco vezes mais propensas a desenvolver psoríase do que as outras”, aponta Marcelo Formigoni, diretor médico da área de Imunologia da Janssen.

    Já a retocolite ulcerativa acomete apenas o reto e o intestino grosso, com diferentes graus de acometimento, chegando a se tornar uma doença bem debilitante.

    Existe ainda um terceiro tipo, a colite não classificada, de características mais inespecíficas, que afeta uma pequena parte dos pacientes. 

    A diferenciação é feita no momento do diagnóstico, e é fundamental na definição do tratamento. 

    Diagnóstico das DII

    Em primeiro lugar, se bate o martelo do diagnóstico com exames. Os de sangue ajudam a identificar os marcadores inflamatórios, mas é a colonoscopia que confirma o quadro, ao enxergar diretamente as condições do interior do intestino. 

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    Para algumas pessoas, pode ser necessário fazer uma endoscopia, que vê esôfago e estômago, ou ainda uma ressonância magnética ou tomografia. Mas na maioria das vezes a colonoscopia mata a charada. 

    A partir dessa investigação inicial, a doença é classificada em graus – leve, moderado ou grave.

    E, antes de entar nos medicamentos, vale dizer que controlar a doença passa necessariamente por fazer ajustes no estilo de vida e ter um atendimento multidisciplinar, inclusive com suporte psicológico.  

    Como é feito o tratamento

    Nos casos mais moderados de retocolite ulcerativa, o médico costuma começar o tratamento com remédios anti-inflamatórios específicos, em sachê, comprimido ou supositório.

    “Também são usados medicamentos para aliviar a cólica, os espasmos intestinais e a constipação ou diarreia”, comenta Vanessa. 

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    Corticoides podem ser prescritos em períodos de crise, mas essa categoria tem efeitos colaterais importantes, daí a necessidade de utilizar por um curto período de tempo.

    Na doença de Crohn, a estratégia dos imunobiológicos tem entrado cada vez mais em cena. Tratam-se de anticorpos monoclonais, classe moderna de medicamentos que cria uma versão dos nossos próprios anticorpos para buscar alvos específicos no corpo. 

    + Leia tambémO retrato das doenças inflamatórias intestinais no Brasil

    Eles são injetáveis, e mais caros do que os medicamentos antigos, então são destinados somente a casos onde há impacto significativo na saúde e na qualidade de vida, quando outros tratamentos já falharam ou não podem ser utilizados. Mas os resultados são notáveis. 

    “Há 20 anos, eles mudaram o curso da doença, porque bloqueiam a cascata inflamatória de forma duradoura. Assim, devolveram a vida a muitos pacientes”, comenta Marta.

    São cinco imunobiológicos aprovados pela Anvisa, e há ainda os biossimilares, uma espécie de anticorpo monoclonal “genérico”, considerados eficazes e seguros. 

    O ustequinumabe 

    Os primeiros anticorpos monoclonais para retocolite ulcerativa e Crohn foram os anti-TNF (fator de necrose tumoral). Eles bloqueiam uma das moléculas envolvidas na inflamação constante e ainda são muito utilizados. 

    “Entretanto, para algumas pessoas o TNF não é tão importante ou a resposta ao medicamento diminui depois de um tempo”, explica Marta.

    Nesse cenário, não havia opções de tratamento, até que há uma década chegou o vedolizumabe, que atua contra a molécula integrina. 

    Mais recentemente, o ustequinumabe, que age nas interleucinas (outras moléculas da cascata inflamatória), passou a ser usado para frear as DIIs. No mercado há décadas para o tratamento da psoríase, ele tem vantagens entre os outros biológicos. 

    Diferente dos demais medicamentos, que exigem infusões sanguíneas com intervalos de poucas semanas e sessões mais demoradas, o ustequinumabe tem uma primeira dose endovenosa e, depois, o paciente toma injeções subcutâneas a cada dois meses. A picada é como a da insulina e a seringa vem pré-preenchida. 

    “Em alguns casos, o intervalo pode ser de até três meses”, destaca Marta. A praticidade é acompanhada de estudos comprovando eficácia e segurança a longo prazo. No 18º Congresso da Organização Europeia de Crohn e Colite (ECCO), foram apresentadas dezenas de pesquisas sobre o remédio. 

    “Estudos de vida real estão mostrando poucos efeitos colaterais e eficácia a longo prazo. As respostas se mantém por mais de cinco anos, às vezes com a mesma dose, o que não costuma acontecer com os anti-TNF”, comenta Marta. 

    O ustequinumabe está incorporado no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS) – ou seja, é coberto por convênios. Ainda não está, contudo, no SUS para o tratamento das DIIs. A tecnologia custa caro: o preço na farmácia é de mais de R$15 mil por seringa.  

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