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Baricitinibe: remédio pode ajudar em casos graves de covid-19

Criado para tratar artrite reumatoide, o composto demonstrou, em estudo, reduzir a mortalidade em pacientes internados com o coronavírus

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 10 set 2021, 17h13 - Publicado em 10 set 2021, 16h59

O baricitinibe, comprimido utilizado no tratamento da artrite reumatoide, pode se juntar em breve ao seleto grupo de remédios que demonstrou ação contra a covid-19. Em um estudo recém-publicado, ele reduziu a mortalidade de indivíduos com quadros graves da doença provocada pelo coronavírus.

A pesquisa de fase 3 (a última antes da aprovação) incluiu 1 525 pacientes internados, recebendo suplementação de oxigênio e com níveis elevados de substâncias inflamatórias pelo corpo. Eles foram divididos em dois grupos: metade ficou com a terapia convencional mais um placebo e a outra parte recebeu o complemento de um comprimido de baricitinibe.

Ao fim de 28 dias, período pré-determinado pela análise, a mortalidade foi de 8% entre os voluntários que tomaram o remédio real, e 13% entre o pessoal do placebo. Ou seja, o baricitinibe reduziu a mortalidade em 38%. Esse valor significa que, na prática, uma morte é evitada a cada 20 pacientes tratados com medicamento.

Os achados foram publicados no periódico Lancet Respiratory Medicine. O fato de o estudo ter passado pelo crivo de outros pesquisadores, contar com uma boa quantidade de participantes e comparar diretamente o fármaco com um placebo faz com que os resultados sejam considerados animadores.

“É um medicamento com potencial. O número de mortes evitadas não é excelente, mas é bom, especialmente no contexto da covid-19”, aponta o infectologista Alexandre Zavascki, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre/RS.

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A divulgação preliminar dos dados já havia motivado a aprovação para uso emergencial da droga nos Estados Unidos. No Brasil, a utilização do medicamento contra a infecção está sob análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que pode conceder a aprovação neste mês, informa a fabricante, Eli Lilly.

Como funciona o baricitinibe

O remédio é um inibidor das janus quinase (JAK), enzimas que interagem com receptores na superfície das células e participam da troca de informações entre elas, incluindo a entrada e saída de substâncias inflamatórias, como as citocinas, e de fatores de crescimento.

“Basicamente, ao inibir estas enzimas, interferimos na cascata inflamatória. Seria uma ação mais específica do que a dos corticoides, como a dexametasona, que suprimem o sistema imune de modo mais genérico”, explica o pneumologista Rodolfo Bacelar Athayde, do Complexo Hospitalar Clementino Fraga, em João Pessoa (PB).

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É a mesma linha de raciocínio do tofacitinibe, que demonstrou potencial contra a covid-19 em um estudo brasileiro pequeno, e do tociluzumabe, anticorpo monoclonal de ação ainda mais específica, contra uma molécula apenas, a interleucina-6. Os três já são aprovados para o tratamento da artrite reumatoide e outras condições autoimunes que desencadeiam inflamações exageradas.

“Embora diferentes, todos pretendem combater a tempestade inflamatória, que acomete um número pequeno de indivíduos infectados pelo coronavírus, e leva às complicações mais conhecidas e sérias da doença”, comenta Athayde.

Nessa situação, que atinge algo entre 10 e 15% das pessoas, a resposta do sistema imune ao coronavírus sai do controle, levando a um aumento de citocinas e outras substâncias inflamatórias, que passam a lesar os órgãos do corpo.

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Mas atenção: a vantagem desses fármacos é notada só para esse pessoal. O uso em casos leves não é indicado.

“Antes disso, o organismo produz uma quantidade suficiente e controlada de citocinas, necessárias para conter o vírus e evoluir para a cura natural, que acontece com a grande maioria das pessoas”, explica o infectologista Adilson Cavalcante, que coordenou o estudo com o baricitinibe no Hospital Anchieta da Faculdade de Medicina do ABC, em São Bernardo do Campo/SP.

Vantagens e questões em aberto sobre o uso do medicamento

Um diferencial do barecinitibe é sua apresentação: o tratamento é feito com um comprimido ao dia. Outro é o preço, maior do que o dos corticoides, mas um pouco mais acessível do que o tocilizumabe e outros anticorpos monoclonais já aprovados no Brasil, que podem atingir a casa das dezenas de milhares de reais.

Se aventa ainda uma possível atuação direta contra o invasor. “Pesquisas anteriores indicaram ação antiviral do baricitinibe, ao inibir a entrada do vírus nas células”, destaca Athayde. Mais estudos deverão explorar a questão.

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Outro ponto a ser compreendido é o próprio benefício. Primeiro, porque o trabalho recém-publicado, apesar de ter dados robustos, tinha como principal objetivo verificar o efeito do remédio na progressão da doença. E, para esse ponto, não houve diferença. A mortalidade era um desfecho secundário.

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É um detalhe técnico, mas digno de nota. “Toda vez que o estudo encontra algo que não era seu objetivo primário, aumenta a chance de um achado positivo ser fruto do acaso”, pontua Zavascki.

Por fim, é preciso entender se o composto funciona bem sem a dexametasona, já que, no estudo, muitos indivíduos já estavam fazendo uso dela. Este novo achado indica que sim, pois uma parcela dos voluntários não tomou o anti-inflamatório tradicional, mas será preciso conduzir análises específicas antes de bater o martelo.

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Outras drogas já aprovadas no Brasil

Se a Anvisa emitir um parecer favorável e incluir o uso contra covid-19 na bula do baricitinibe, ele se juntará a outros cinco medicamentos já aprovados pela Agência. São eles:

  • Remdesivir: antiviral registrado em março, mas cujo efeito ainda é incerto
  • Regn-Cov2: associação dos anticorpos monoclonal casirivimabe e imdevimabe, aprovada para uso emergencial em abril
  • Coquetel de anticorpos banlanivimabe e etesevimabe: liberado para uso emergencial em maio
  • Regdanvimabe: também um anticorpo monoclonal, autorizado sob regime emergencial em agosto
  • Sotrovimabe: da mesma categoria dos anteriores, aprovado emergencialmente no início de setembro

Os anticorpos monoclonais aprovados até o momento imitam o funcionamento dos nossos próprios anticorpos. Portanto, são indicados para casos ainda leves, mas em alto risco de progressão da doença.

Seu uso, contudo, ainda é controverso, uma vez que o benefício não foi demonstrado por estudos robustos, e são medicamentos caros, cuja produção não é feita em grande escala.

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