Assine VEJA SAÚDE por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Alimente os músculos: a dieta ideal para brecar a sarcopenia

A perda de massa muscular é inevitável com o avanço da idade, mas ajustes na dieta ajudam a espantar a ameaça da sarcopenia

Por Regina Célia Pereira
Atualizado em 1 fev 2023, 18h21 - Publicado em 1 fev 2023, 18h21
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Considerada uma das esculturas mais famosas do mundo, o Davi de Michelangelo (1475-1564) tem a mão direita desproporcional em relação ao resto do corpo. O exagero no tamanho seria referência a um dos significados do nome do herói bíblico, que, no latim, foi traduzido como fortis manu, ou mão forte.

    Publicidade

    Diferentemente da colossal obra de arte, é justamente a fraqueza das mãos que, junto de outros sinais, dá pistas da sarcopenia — condição marcada pela redução significativa de massa, força e função muscular, e que pode inclusive derrubar a qualidade de vida.

    Publicidade

    O envelhecimento é o principal fator por trás dessa perda progressiva, que atinge entre 11 e 17% da população mundial com mais de 60 anos e bate 50% em indivíduos acima dos 80.

    Acontece assim: com o avanço da idade, ocorrem naturalmente alterações fisiológicas que afetam o trabalho e as características das fibras musculares. Os processos biológicos responsáveis por tonificar pernas, braços e companhia passam a não ser tão eficientes como na juventude.

    Publicidade

    BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

    DISTRIBUÍDO POR

    Consulte remédios com os melhores preços

    Favor usar palavras com mais de dois caracteres
    DISTRIBUÍDO POR

    A perda de massa e força desencadeia um quadro que, quando não é detectado e revertido a tempo, aumenta o risco de queda e instabilidade postural, gerando insegurança para a prática de exercícios e tarefas simples do cotidiano. E a inatividade, por sua vez, cria um círculo vicioso prejudicial ao organismo.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    O diagnóstico da sarcopenia vem à tona após um profissional de saúde avaliar a marcha do indivíduo e a presença de sintomas como cansaço, lentidão ou dificuldade ao subir escada ou levantar-se da cadeira, medir a circunferência da panturrilha e solicitar exames como a densitometria. Perda de peso não intencional é outro motivo de suspeita.

    Mais um parâmetro, que nos remete à estátua de Michelangelo, é a força da mão, mensurada com o auxílio de um aparelhinho chamado dinamômetro (ou handgrip). Para esse último critério, inclusive, os cientistas estão pedindo a revisão das métricas.

    Publicidade

    É que novas medidas para referência surgiram em um estudo internacional, com dados de 6 182 pacientes britânicos acompanhados por 14 anos, conduzido pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a University College London, no Reino Unido.

    O trabalho comparou os pontos de corte de preensão palmar encontrados entre os voluntários e os de pesquisas anteriores. “Nossa conclusão e sugestão é aumentar o valor mínimo, tornando o teste mais preciso e melhorando o diagnóstico da sarcopenia”, conta o fisioterapeuta Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e líder do trabalho.

    Publicidade
    Alimentação para os músculos
    alimentação para os músculos (Estudio Coral/SAÚDE é Vital)

    Quanto mais cedo se descobre a perda de massa e força muscular, maiores as chances de intervir com sucesso e estender a autonomia, a disposição e os anos pela frente.

    Continua após a publicidade

    “Hoje se sabe que garantir a saúde do sistema musculoesquelético é fundamental para diversos processos vitais”, diz o nutricionista Hamilton Roschel, do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física e Esporte e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

    Nesse sentido, a obra de outro mestre renascentista pode ser útil para entender tantas atribuições da musculatura. Estudioso do corpo humano, Leonardo da Vinci (1452-1519) deixou uma porção de desenhos que detalham a beleza da engrenagem que compõe esse maquinário.

    Além das funções nos movimentos e na postura, como a estabilização do tronco, músculos vigorosos protegem as articulações e os ossos dos impactos. Não bastassem as funções conhecidas há séculos, a ciência moderna tem mostrado que preservar a musculatura repercute na imunidade, no coração e até no cérebro. E não param de surgir notícias de que a famosa dobradinha dieta e exercício tem um peso enorme no vigor muscular.

    Embora a proteína continue sendo o ingrediente de destaque nesse cenário, é bom saber que outros nutrientes dão um apoio para a musculatura se manter em cima e não desmoronar

    A palavra “sarcopenia” é originária do grego sarx, que significa carne, e penia, perda. Foi Irwin Rosenberg, professor do Centro de Pesquisa de Nutrição Humana sobre Envelhecimento, da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, que cunhou o termo em 1989.

    Continua após a publicidade

    Antigamente, o conceito se referia apenas à redução de massa magra, ou seja, não incluía força e desempenho físico. Aliás, no dicionário dos experts, há um verbete exclusivo para a fraqueza da musculatura, que é dinapenia. Consta ainda osteosarcopenia, que junta o decréscimo ósseo ao muscular.

    De fato, músculos e ossos estão em constantes trocas de informações — e ambos são impactados com o avançar dos anos. “Assim, a tendência é que prejuízos ocorram simultaneamente”, explica a geriatra Maisa Kairalla, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

    Quando há déficit na síntese proteica, processo natural no envelhecimento, observam-se prejuízos tanto na densidade do esqueleto quanto nas fibras musculares. Daí que sarcopenia e osteoporose costumam andar lado a lado.

    Mesmo que os declínios sejam inevitáveis, caprichar no cardápio e evitar o sedentarismo (quanto antes, por favor!) contribui para minimizar os estragos. Embora o ideal seja adotar tais hábitos ainda na infância, os experts garantem que sempre há tempo para correr atrás do prejuízo.

    Não é nenhuma novidade que mexer o corpo provoca uma série de efeitos benéficos. A lista é enorme. Independentemente da atividade escolhida, a tendência é de redução da gordura corporal e aumento da densidade óssea e massa muscular. Sem contar as repercussões no cérebro, algo também mediado, quem diria, pela musculatura.

    Continua após a publicidade

    + Leia também: Os efeitos do colágeno e quando realmente vale suplementar

    Cientistas têm desvendado o papel de determinadas moléculas derivadas do músculo esquelético na regulação do humor e na cognição. “Conhecidas como miocinas, elas são liberadas nas contrações musculares e se comunicam com regiões cerebrais”, revela o médico do esporte Fabrício Buzatto, do Hospital Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo.

    Mas nunca é demais ressaltar que a prática de exercícios deve ser algo prazeroso, quase um momento de lazer, só assim vai gerar adesão e trazer saúde em um sentido amplo, proporcionando tanto bem-estar físico quanto mental. Ninguém que já passou por tanta coisa na vida merece sofrer em cada sessão, concorda? O mesmo recado vale para o que vai ao cardápio. É preciso ajustar as coisas, mas sem desrespeitar as preferências.

    Idosos tendem a apresentar alterações na mastigação e no paladar, além de certas dificuldades digestivas. Por tudo isso, não é raro que rejeitem carnes, por exemplo. Essas situações pedem um olhar ainda mais zeloso a fim de adequar as quantidades de nutrientes, sobretudo em relação às necessidades proteicas.

    Formada a partir da combinação dos aminoácidos, a proteína é comparada aos tijolos que formam as paredes. Isso porque tem papel fundamental na constituição dos órgãos e demais tecidos. Ela é indispensável na formação e reparação das fibras musculares, colaborando para o incremento da massa magra.

    E, aqui, outra vez vamos bater na tecla da dupla ginástica e dieta. Afinal, de nada adianta levantar os halteres se não abastecer o organismo adequadamente. O resultado depende dessa combinação.

    Continua após a publicidade

    As recomendações diárias variam de acordo com o perfil e a idade, mas, entre os mais velhos, geralmente os valores ficam entre 1 e 1,5 grama de proteína por quilo de peso corporal. Exemplo: um indivíduo de 80 kg requer 120 g diários.

    “Para suprir essa demanda, o ideal é apostar na variedade, alternando fontes proteicas vegetais e animais”, sugere a nutricionista Celma Muniz, do Ambulatório de Cardio-Oncologia da Unifesp.

    Ovos, peixes, carnes magras, além de leite e seus derivados, fornecem diversos tipos de aminoácidos. Já no reino vegetal, o grupo das leguminosas faz bonito: ervilhas, lentilhas, soja, grão-de-bico, além dos inúmeros tipos de feijões.

    Deslizes por trás da fraqueza
    Deslizes por trás da fraqueza (Estudio Coral/Divulgação)

    Dar um chega pra lá na monotonia alimentar só traz vantagens — e em todas as fases da vida. Em se tratando de proteína, a alternância de fontes e receitas acrescenta sabores e pode fazer toda a diferença para a saúde muscular. De um lado, temos os redutos de origem animal, que são badalados por apresentarem um perfil de aminoácidos de excelente aproveitamento pelo organismo.

    Do outro, destacam-se as leguminosas (soja, ervilha, feijão, lentilha), que têm a vantagem de, além do conteúdo proteico, oferecer fibras, ingrediente crucial para a microbiota e o bem-estar intestinal.

    E até isso tem reflexos na musculatura. Estudos mostram que, quando há desequilíbrio da flora, a tal disbiose, ocorre o aumento da permeabilidade intestinal, levando substâncias inflamatórias a viajar pela corrente sanguínea e deixar um rastro de encrencas pelo organismo.

    “Observa-se, na população idosa, que quadros de inflamação sistêmica de baixo grau, batizados de inflammaging, estão associados a doenças crônicas, incluindo a sarcopenia”, conta a nutricionista Natália Magalhães, do Centro de Gasto Energético e Composição Corporal da Faculdade de Medicina da USP.

    Compartilhe essa matéria via:

    É justamente por esse elo que o ômega-3, gordura encontrada em peixes e sementes, desponta como protetor dos músculos — ora, ele atua contra a inflamação. Garantir que não faltem antioxidantes no dia a dia é mais uma atitude nesse sentido. Tais substâncias, encontradas em frutas e hortaliças, neutralizam os radicais livres, moléculas que, em excesso, estão por trás da atrofia.

    A nutricionista Natália Lopes, do mesmo grupo de estudos da USP, reforça a importância do balanço entre nutrientes. “Embora a proteína tenha destaque, se faltam carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais, o estímulo para a síntese de massa muscular é prejudicado”, justifica a pesquisadora.

    + Leia também: O que é creatina e para que serve esse suplemento famoso em academias

    Mas há situações em que a comida já não dá conta do recado, e os suplementos precisam ser convocados. O uso deve ser feito sob supervisão profissional, já que alguns grupos pedem maior cautela na ingestão, como hipertensos e portadores de doenças renais.

    “Antes de qualquer indicação, avaliamos o perfil e a rotina do paciente, e são feitos ajustes no cardápio com atenção para as calorias”, esclarece a nutricionista Myrian Najas, professora da Unifesp.

    Com o envelhecimento, além da propensão à magreza e à desnutrição, os decréscimos hormonais favorecem o acúmulo de gordura na região abdominal. A escolha e a dose, portanto, devem ser individualizadas. Suplementos de aminoácidos, com leucina, creatina e proteína do soro de leite, estão entre os mais prescritos.

    “De alto valor biológico, o whey protein contribui para a recuperação e a manutenção da massa muscular, desde que associado ao exercício físico”, afirma o médico Nelson Iucif Junior, do Departamento de Geriatria da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

    Geralmente, esses produtos são combinados com a vitamina D, grande aliada do sistema musculoesquelético. Um trabalho recente do grupo do professor Tiago Alexandre, na UFSCar, comprova esse papel.

    Sinergia conta muitos pontos quando o assunto é afastar a sarcopenia — e isso envolve a combinação de exercícios, dos suplementos e até dos ingredientes das refeições. Daí a razão de a festejada dieta do Mediterrâneo ser tida como exemplo para resguardar os músculos e a saúde, como confirma um estudo da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos.

    Afinal, mais que um cardápio, trata-se de um estilo de vida. Mas, como estamos do lado de cá do oceano, nada melhor do que valorizar o arroz com feijão de cada dia e lançar mão daquilo que nossa terra dá.

    Jabuticaba, amendoim, pitanga, baru, pequi, ora-pro-nóbis, mandioca são só alguns exemplos de comidas de berço brasileiro com um mix interessantíssimo de nutrientes — e que podem ter feito parte da infância de muita gente mais madura. Que tal sair da inércia, resgatar tudo isso e dar aquela força ao prato?

    Covid-19 e os músculos

    O grupo do professor Hamilton Roschel avaliou o impacto da doença na musculatura de 80 pacientes internados no Hospital das Clínicas de
    São Paulo. A infecção e a cascata de inflamações desencadeadas pelo vírus provocam alterações metabólicas prejudiciais aos músculos.

    O estudo constatou que a perda de massa magra na hospitalização está relacionada com a Covid longa, isto é, com sintomas persistentes como fadiga e dores. Entre aqueles que perderam mais massa, maior foi a dificuldade para a recuperação da musculatura anterior à internação.

    + Leia também: Como recuperar os músculos perdidos por causa da Covid-19?

    Treinar para ficar forte e longevo

    Durante décadas, a musculação carregou o peso do preconceito. Havia uma ligação com malefícios à saúde porque muita gente associava a prática aos marombados e fãs de anabolizantes. Nos últimos anos, entretanto, diversas pesquisas desfazem essa injustiça.

    Além de fortalecerem o tônus muscular, os exercícios resistidos contribuem para regular os níveis de glicose, melhoram o sono e espantam o mau humor. Mas é essencial adequar a carga, o número de séries e o tempo de recuperação para alcançar bons resultados. Orientação especializada, portanto, é bem-vinda.

    causas da sarcopenia
    (Estudio Coral/SAÚDE é Vital)
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 12,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.