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A natureza das pandemias: está tudo conectado!

Varíola dos macacos, hepatite misteriosa, vai e vem de gripe, dengue e Covid-19... Edição de julho de VEJA SAÚDE examina a nova era das epidemias

Por Diogo Sponchiato
15 jul 2022, 14h01
Destruição do meio ambiente é um dos principais fatores por trás de novos surtos e epidemias.  (Ilustração: Estúdio Coral/SAÚDE é Vital)
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Não, não é teoria da conspiração. O assunto tem cada vez mais provas reunidas pela ciência — e algumas pistas já haviam sido decifradas há alguns séculos. O mundo conectado e globalizado arma, sem querer querendo, uma arapuca com a emergência e reemergência de doenças infecciosas de potencial epidêmico.

Estou falando de Covid-19? Sim, mas não só. Pare e pense na quantidade de viroses que tomaram de assalto as manchetes: varíola dos macacos, gripe, hepatite misteriosa, dengue, sem falar nos patógenos que se alastraram pelas creches e escolas — aqui em casa todo mundo foi vítima de mal-estar, coriza, diarreia e afins.

O universo está conspirando a favor dos vírus. E os cientistas já não falam mais em “se” haverá uma nova pandemia, mas “quando” — e olha que esta nem acabou.

Entre as peças que formam o quebra-cabeça do Pandemiceno, como alguns já falam, vou me concentrar num dos fatores mais críticos: a destruição da natureza.

O conceito de natureza tal qual o conhecemos, e o respeito que se passou a dedicar gradualmente a ela, foi formulado no final do século 18 pelo alemão Alexander von Humboldt. Como relata sua biografia, A Invenção da Natureza (Crítica), de Andrea Wulf, o explorador foi um dos primeiros a enxergar que, no meio ambiente, tudo está conectado, e a alertar sobre o risco de desrespeitar a fauna e a flora, como andavam fazendo os empreendimentos coloniais europeus.

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capa do livro citado
(Capa: Crítica/Divulgação)

A Invenção da Natureza
Autora: Andrea Wulf
Editora: Crítica
Páginas: 600

Essa concepção avançou, apesar de boa parte da humanidade ignorá-la (ainda hoje) diante de suas “prioridades econômicas”. Mas a vida se guia pela lei da ação e reação. E o colapso dos ecossistemas, reduzindo habitats, espécies e variabilidade genética, cobra um preço que começa em escala microscópica e resulta em consequências terrivelmente visíveis.

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+ LEIA TAMBÉM: O que mudou na compreensão da Covid-19?

Ao desmatar e despovoar a natureza, encurtamos a rota para vírus e outros patógenos chegarem até nós. Um roteiro convertido em história real com o coronavírus. Como mostra a reportagem de capa de Chloé Pinheiro, não se trata de nós ou os vírus, mas de nós e eles.

Isso posto, está ficando nítido até demais que as coisas precisam mudar se quisermos sobreviver a uma era de pandemias. E essa é uma virada de chave que exige um pensar e um agir ainda mais interconectados.

Como defende o filósofo martinicano Malcom Ferdinand em Uma Ecologia Decolonial (Ubu), “não se poderá enfrentar a crise ecológica e restabelecer coletivamente uma relação matricial com a Terra sem se desfazer da constituição colonial da modernidade, sem confrontar seus racismos, suas desigualdades e seu patriarcado”.

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Do contrário, o mundo segue do jeito que está. Bom para os vírus!

capa do livro citado
(Capa: Ubu/Divulgação)

Uma Ecologia Decolonial
Autor: Malcom Ferdinand
Editora: Ubu
Páginas: 320

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