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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.
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Covid-19 revisitada

Nosso conhecimento sobre prevenção, vacinas e tratamento do coronavírus evoluíram consideravelmente desde o início da pandemia. Veja o que mudou

Por Paulo Eduardo Brandão
11 jul 2022, 09h49
Foto com máscara e autoteste negativo para covid em cima
Mudanças no uso de máscaras e nos testes são algumas das novidades. (Foto: Waldemar Brandt/Unsplash/Divulgação)
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A estimativa do impacto em saúde pública da Covid-19 não tem mais espaço para dúvidas: de quase 550 milhões de casos no mundo, mais de 6 milhões já morreram. No começo, achávamos que crianças não pegavam a doença, mas estávamos errados: crianças e adolescentes abaixo de 20 anos somam 0,4% destas mortes. Estes são dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), ambas organizações com uma história de devoção à humanidade.

Também achávamos no começo que a Covid-19 era uma doença respiratória, e aí também estávamos errados. Hoje sabemos que os sintomas agudos, iniciais, de uma “gripezinha” podem evoluir para pneumonia, problemas renais, hepáticos e cardíacos, trombose, diarréia, afecções neurológicas e mesmo doenças de pele, incluindo queda de cabelos. 

Há casos em que a dificuldade do paciente em oxigenar seu sangue levou a gangrena de dedos, mãos, pés e pernas – alguns deles foram submetidos a amputações. As famosas perdas de olfato e paladar são comuns, mas não estão presentes em todos os casos. E vale lembrar que a letalidade de cerca de 1% esconde uma armadilha: a Covid longa, que causa sintomas debilitantes e, às vezes, irreversíveis, fica de fora desse número, mas provoca estragos enormes para o indivíduo e a saúde pública.

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O período de incubação, que é aquele que vai do momento em que adquirimos o SARS-CoV-2 até o início dos sintomas, está bem estabelecido: vai de dois a 14 dias. No início dos sintomas é quando a pessoa tem maior capacidade de transmitir o coronavírus, decaindo com o desaparecimento dos sintomas agudos. 

Quanto ao tempo de isolamento de quem tem Covid-19, não há um consenso mundial, mas é razoável que o paciente fique ao menos cinco dias em casa contando a partir do início dos sintomas ou de um teste positivo.

E qual exame usar? O de PCR, ou reação em cadeia pela polimerase, era o mais utilizado até alguns meses; ele é como o Super-homem dos testes para detectar vírus: nem uma quantidade ínfima de agente infeccioso consegue se esconder da visão de raios X da PCR. 

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Mas, como o Super-homem, este teste tem sua criptonita: ele pode dar positivo mesmo meses após termos tido Covid-19 e mesmo se não temos mais o coronavírus vivo em nosso organismo. Nesses casos,  exame está pegando genomas virais “mumificados” nas nossas células. É aí que entram os testes rápidos de antígeno, hoje vendidos em farmácias: o alvo deles são as proteínas que os vírus produzem e tem mais relação com a presença do SARS-CoV-2 vivo.

O coronavírus se transmite bem por gotículas de saliva, espirros, tosse e mesmo quando falamos próximos a outras pessoas. Será que ainda é necessário explicar por que  as máscaras contém a transmissão da doença? O vírus também pega carona em mãos sem lavagem ou sem a recomendada assepsia com álcool, por exemplo. 

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Já a transmissão por aerossóis ou sprays no ar é mais comum em ambientes hospitalares com muitos pacientes de Covid-19 em internação ou entubados. Compras de supermercado e objetos do dia a dia não transmitem o vírus (ao menos não o coronavírus). Também sabemos hoje que cães a gatos não possuem papel na manutenção da pandemia e que raramente se infectam com esse coronavírus que podemos chamar de nosso agora.

Andamos rápido com o desenvolvimento de antivirais para tratar a Covid-19 também. Hoje temos medicamentos altamente eficazes para impedir que o vírus se replique ou que consiga ativar sua maquinaria proteica. Esses fármacos diminuem a severidade dos sintomas e o tempo de internação dos pacientes na fase aguda, durante a primeira semana. 

Para a fase seguinte da doença, mais ou menos a partir da segunda semana, há anticoagulantes e corticóides para impedir que o próprio organismo ataque a si mesmo e piore o quadro. Só que, ao mesmo tempo, temos ainda médicos receitando cloroquina, ivermectina e antibióticos, infelizmente ineficazes contra a doença.

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Também conseguimos desenvolver, testar e disponibilizar vacinas eficazes e seguras, destinadas a diminuir a severidade dos sintomas e o ritmo de transmissão. É para isso que vacinamos as pessoas no caso de Covid-19, e não para blindá-las completamente das infecções. É isso que a imunologia nos permite fazer e que tem sido de incondicional serventia para controlar pandemia. 

E, em termos de imunologia de coronavírus, temos que lembrar que “a imunidade é de curta duração e o padrão é a reinfecção”. É hora de pensar em como vacinar as pessoas ao menos uma vez ao ano por alguns anos que estão por vir.

Vimos além disso como uma horda de variantes do SARS-CoV-2 vem surgindo, aos poucos esgotando o alfabeto grego usado para dar nome a elas. Entretanto, não há evidências de uma variante mais letal ou que escape a um esquema vacinal completo ou com reforço. 

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E ainda temos como a explicação mais provável do SARS-CoV-2 original o contato natural entre morcegos e carnívoros criados em fazendas para alimentação humana. Isso teria levado aos primeiros casos da doença na China, o que não quer dizer que o vírus tenha surgido naquele país.

Essas são nossas certezas até o momento. Mas temos que considerar o conhecimento científico sempre inacabado. Júlio Verne, que nos levou para o espaço e nos fez viajar pelo fundo do oceano em seus livros, nos lembra que a Ciência é feita de erros, mas erros úteis, porque, pouco a pouco, nos levam à verdade.

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