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Autoteste de Covid-19: o que é, vantagens e limitações

Objetivo do teste é desafogar farmácias e hospitais, mas é preciso saber o momento ideal e a forma correta de realizar o procedimento

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 8 fev 2022, 16h04 - Publicado em 31 jan 2022, 19h40

Com a acelerada disseminação da Covid-19 no Brasil provocada pela variante Ômicron, muitas pessoas com sintomas suspeitos (ou que tiveram contato com alguém infectado) encontraram dificuldade para realizar testes em farmácias, laboratórios e hospitais. Em meio a esse contexto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a venda de autotestes no Brasil.

Mas, para o consumidor encontrar esses produtos nos balcões das farmácias, as empresas fornecedoras ainda precisam obter o registro e a liberação para vendas pela agência. Isso deve acontecer em fevereiro. 

A ideia é que o teste de Covid-19 — feito pela própria pessoa em casa, em poucos minutos — ajude a identificar mais rápido indivíduos infectados. Mas ele deve ser usado com cuidado. Na decisão da Anvisa, é recomendado à população que o dispositivo não seja utilizado para “definir um diagnóstico, o qual deve ser realizado por um profissional de saúde”. 

No documento de aprovação, a agência define o produto como mais uma ferramenta de enfrentamento à pandemia, porque permite “a identificação precoce e o isolamento de pessoas infectadas com o vírus Sars-CoV-2 que estão assintomáticas, pré-sintomáticas ou apenas com sintomas leves, mas que transmitem o vírus”.

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Em nota técnica, o Ministério da Saúde já tinha pontuado que o autoteste de Covid-19 deve funcionar como uma pré-triagem aos sistemas de saúde. Ele não será válido como atestado médico ou autorização para viagem.

Uma polêmica levantada durante as discussões sobre a aprovação diz respeito à notificação dos resultados. É que a venda indiscriminada desses itens pode fazer as autoridades se perderem no cálculo dos casos confirmados – já prejudicado pelo recente apagão de dados, que deixou o sistema instável desde dezembro.

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A Anvisa sugere que a população informe os casos positivos ao Ministério da Saúde por meio de um telefone que estará na embalagem dos produtos. A agência colocou essa responsabilidade na mãos das empresas, que devem criar, ainda, outras maneiras de receber informações sobre os testes. Mas há outro gargalo: só o autoteste não pode virar estatística sem um diagnóstico oficial que confirme o resultado.

Qual a opinião dos especialistas?

Muitos citam preocupação com a assertividade do processo. Afinal, se o indivíduo não fizer o teste direitinho, corre o risco de se deparar com um resultado falso-negativo e sair transmitindo o vírus por aí.

Por outro lado, a falta de testes no mercado têm sido um problema real. Por isso, ampliar a oferta é sempre positivo, na visão de David Schlesinger, neurologista, doutor em Genética pela Universidade de São Paulo (USP) e CEO da Mendelics e do meuDNA, empresas que realizam testes laboratoriais.

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“Podem ocorrer erros no processo de coleta, mas entendo que eles são menores diante do número de pessoas que se beneficiarão do produto”, defende o médico. É que, sem ter que disputar uma agenda em farmácias ou empresas de diagnóstico, indivíduos poderiam conduzir a análise por conta própria e se isolar em caso de um resultado positivo. 

Essa vantagem só será realidade se o autoteste de Covid-19 for acessível e a população estiver bem informada sobre como fazê-lo, na opinião do biólogo Daniel Marinowic, coordenador do Centro de Pesquisa Pré-Clínica do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

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“Ele é apenas uma ferramenta, mas precisa de diretrizes claras e não pode ser considerado o diagnóstico final”, resume o biológo.

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) segue a mesma linha. Em nota, seus especialistas dizem apoiar a iniciativa de liberar a venda do produto, mas relatam apreensão com a “qualidade dos dispositivos e possíveis falhas na execução dos autotestes”.

Outra questão, para eles, é como as pessoas vão reagir diante de resultados negativos, que podem não estar corretos.

O Ministério da Saúde, até o momento, não tem intenção de comprar autotestes para o SUS. O produto que custa, em média, 10 dólares nos Estados Unidos, pode chegar aqui com um valor entre R$ 70 a R$ 100.

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Entenda o autoteste: ele é semelhante às opções disponíveis hoje?

Até agora, são prevalentes os testes de RT-PCR, considerado padrão ouro, de maior confiabilidade, e o de antígeno (também conhecido como teste rápido), menos sensível. Ambos são realizados sob a tutela de um profissional, ao contrário do autoteste.

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O médico Marcelo Otsuka, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), relata que o autoteste tem a eficácia próxima de 85%.

“A possibilidade de um falso-negativo ao fazer o processo corretamente é de 15%”, reforça o médico. E olha que, para acertar em todas as etapas, não custa frisar: é fundamental estar treinado. 

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Do ponto de vista tecnológico, o autoteste de Covid-19 é similar ao de antígeno, já que detecta partículas virais. E, para ambos proporcionarem um resultado mais confiável, é preciso estar em um dia de carga viral alta.

Ou seja, além de executar o passo a passo do autoteste sem tropeços, o sujeito deve escolher a data certa para a coleta.

“Por isso ele é considerado menos sensível”, explica Marinowic. “Já o PCR identifica fragmentos do genoma do vírus”, completa o biólogo. Daí sua maior precisão.

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Como o autoteste de Covid-19 funciona?

Diferentemente dos testes de antígeno ou PCR, o autoteste surge em duas versões. Uma que depende da coleta de saliva e, outra, que se vale do material retirado do nariz.

No caso do produto nasal, não é necessário levar o swab (cotonete) até a nasofaringe, aquela região entre o nariz e a garganta, como é feito nas unidades de saúde. 

Os membros da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SMPC/ML) entendem que, por isso, o autoteste é menos invasivo, mas acaba tendo sua sensibilidade diminuída. 

Isso não significa que o de saliva seja superior. No fim das contas, ambos são bem similares: o muco nasal ou a saliva são misturados a um reagente, que vem em um recipiente. É preciso agitar o frasco para gotejar a mistura em uma palheta. 

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“Quando o reagente entra em contato com o material da palheta, primeiro se vê uma marcação que informa se a mistura deu certo e pode ser avaliada (isso costuma ser indicado pela letra C). Depois, um outro sinal aponta para o resultado do teste em si”, explica Marinowic. 

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Todo esse processo deve ser conduzido de forma acertada. É que se o reagente não funcionar de primeira, o teste tem que ser descartado e você precisa fazer outra coleta, com um novo autoteste. 

Uma empresa americana que já vende autotestes de Covid-19 no exterior afirma que todos os produtos no mercado fornecem instruções bem claras, em texto e vídeos, sobre como é cada etapa.

“Os autotestes são menos sensíveis que os exames de PCR de laboratório, mas têm a capacidade de produzir resultados mais rápidos”, defende Joe Mann, colaborador médico científico global da BD, empresa de tecnologia diagnóstica americana.

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Por que não dá para confiar totalmente no resultado?

Como adiantamos, um dos receios dos especialistas é que os testes caseiros levem a conclusões erradas devido a alguns detalhes, como ser feito no momento errado.

Marinowic lembra que, em artigo publicado pela Scientific Reports, um braço da revista Nature, foi concluído que testes caseiros têm uma sensibilidade elevada em indivíduos com a carga viral mais alta.

“Quando a gente entra em contato com o vírus, ele não é detectável naquele momento exato. É preciso ter um número mínimo de partículas na mucosa para ele ser identificado”, esclarece o professor da PUC-RS.

“Dessa forma, se uma pessoa encontrar com alguém doente, já sentir uma leve coriza e fizer o autoteste de forma apressada, há a chance de o resultado ser um falso-negativo”, completa o especialista.

Outro detalhe: indivíduos sem sintomas apresentam, naturalmente, uma carga viral menor, o que também pode levar a uma conclusão precipitada.

Além disso, o trabalho da Scientific Reports aponta que a eficácia do teste tende a diminuir quando ele é executado pelo próprio usuário. Afinal, o indivíduo deve coletar a própria secreção, sem erros.

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Quando, então, seria o ideal realizar o autoteste?

A Anvisa divulgou algumas instruções sobre quando usar o teste: 

  • Indivíduos sintomáticos: fazer o autoteste a partir do 1º ao 7º dia do início dos sintomas.
  • Em indivíduos assintomáticos: realizar o autoteste a partir do 5º dia do contato com indivíduo infectado. Especialistas indicam, no entanto, que o teste aconteça entre o 3º e o 4º dia após o contato.
  • Se houve sintomas graves (como falta de ar, febre alta, letargia, confusão mental, sinais de desidratação), não faça o autoteste. Procure imediatamente um atendimento médico

O que fazer se o resultado der…

…positivo

Independentemente dos sintomas, a Anvisa recomenda que a pessoa procure o serviço de saúde para confirmação e notificação do caso. Mas deixa aberta a possibilidade de a pessoa fazer apenas o isolamento se não precisar de atendimento médico. 

Porém, para Otsuka, da SBI, mesmo sem sintomas é preciso buscar ajuda profissional até para saber o período correto de isolamento.

…negativo, e não há sintomas

Se houve contato com alguém contaminado, repita o teste um ou dois dias depois disso. Por precaução, isole-se durante cinco dias.

…negativo, com sintomas

Também é indicado repetir o autoteste um ou dois dias depois, mas, nesse caso, é preciso ficar de olho nos sintomas. Se começarem a se agravar, é indicado buscar um médico para confirmar o diagnóstico e receber orientações de cuidados.

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