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Virosfera

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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.

Vírus sem fronteiras: o impacto dos ataques à OMS

Organizações internacionais tem que ser aprimoradas, não abandonadas

Por Paulo Eduardo Brandão
22 fev 2025, 09h00
nova variante deltacron
Colaboração é preciso para estudar em detalhes os vírus (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Sessenta milhões. Esta é uma estimativa conservadora para o número de mortos durante a Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, entre combatentes militares, integrantes de resistências e civis.

Balas, bombas, mísseis e tudo o que a humanidade tem de pior foi usado parta matar gente diretamente. Muita, muita gente morreu também de fome, porque os exércitos destruíam as provisões de civis, porque a produção de alimentos foi arrasada em alguns lugares e porque a fome como método levou a milhões de mortes nos campos de concentração tanto dos alemães quanto dos russos.

Mas, em todos estes níveis de assassinato , a conexão com esta coluna é que milhões morreram por doenças infecciosas, muitas delas causadas vírus, como sarampo, varíola, gripe e diarreias.

O horror da Segunda Guerra Mundial tornou necessário um esforço dos países em construir uma entidade que permitisse que outros caminhos que não a guerra fosse tomados para resolver interesses internacionais, surgindo a Organização das Nações Unidas (ONU) e, dentro dela, nosso foco: a OMS, Organização Mundial de Saúde.

A missão da OMS é atuar na direção e coordenação em questões de saúde humana em seus países membros, em colaboração com autoridades e profissionais de cada país.

Esta organização conta com experts e comitês que fornecem orientação técnica usando de poder brando para auxiliar no controle de endemias (as doenças que sempre estão aí) e as pandemias (aquelas que vem de surpresa).

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A varíola foi erradicada da Virosfera graças a OMS. A poliomielite está quase lá. A raiva transmitida por cães está no caminho, mas vai demorar um pouco. Campanhas globais de vacinação salvaram 154 milhões de vidas nos últimos 50 anos!

Mas agora quem está doente é a OMS. O virulento Donald J. Trump retirou seu país da entidade. Javier Milei, infectado por Trump, tirou a Argentina. Um dos sintomas iniciais será a diminuição da presença de pessoal de saúde e de cientistas destes dois países do quadro de colaboradores da OMS.

EUA e Argentina tem excelentes profissionais destas áreas e o corte desse aporte enfraquecerá um organismo como a OMS. E tem a questão do dinheiro: 988 milhões de dólares entre 2024 e 2025 só dos EUA, a maior contribuição dentre os países membros (um valor insignificante frente aos 1.71 trilhões de dólares com seus gastos bélicos).

A Argentina colaborava com 10 milhões de dólares ao ano e o Brasil colabora com 14,1 milhões de dólares. Sem dinheiro, sem vacina, sem pessoal, sem remédios, sem Organização.

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Sem a OMS, endemias, doenças ligadas diretamente a pobreza, não deixam que possamos dar as pessoas ” um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”, a definição de saúde usada pela instituição. E, quanto as pandemias, por definição internacionais, uma OMS adoecida nos torna mais vulneráveis a não detectá-las antes que fujam do controle e menos capazes de combatê-las.

+Leia também: Ann Lindstrand, da OMS: “Ninguém está seguro até todos estarmos seguros”

E há mais: quem saiu da OMS não contará mais com a ajuda dela em seu território. Estes países, sejam grandes ou pequenos, ricos ou pobres, não podem prescindir da presença da OMS, sobretudo em casos de pandemias e isso pelo simples motivo de que vírus e outros microrganismos que causam doenças não são barrados por fronteiras, ordens executivas ou etnias.

E que dizer da concentração de migrantes em prisões e a expulsão de pessoas “indesejadas”? Primeiro, estas pessoas ficam sem atendimento médico e, segundo, concentrá-las é um prato cheio para os vírus se transmitirem e daí pegarem carona para viajar.

Os virologistas estão alertas para o que está acontecendo exatamente agora nos EUA: o vírus da gripe de galinhas chamado de H5N1 pulou para vacas leiteiras e delas para funcionários das fazendas, que adoeceram; mas ele ainda não aprendeu a pular direto de uma pessoa a outra (aviso importante: leite pasteurizado mata qualquer microrganismo, podem tomar sem medo).

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Opino, com base em dados, que a próxima pandemia será de gripe. Se será este H5N1, ainda não sei.

E vejam só: o vírus da gripe chamado H1N1 da pandemia de gripe de 1918, que matou cerca de 50 milhões de pessoas, originou-se nos EUA vinda de porcos. Notem: isso também foi na ausência da OMS, já que ela não existia na época.

Cento e vinte milhões. Esta é a estimativa de pessoas desalojadas em 2024, segundo a Organização das Nações Unidas. Duzentas mil pessoas morreram pelos conflitos armados neste período.

E há 14.690 espécies virais na Virosfera. Alguns destes vírus não querem nem saber de humanos e vivem em hospedeiros pendurados em toda a Árvore da Vida. Mas, de alguns, nem sabemos bem do que gostam.

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Aí as coisas se complicam um pouco mais para nós: 70% das doenças emergentes de seres humanos tem origem em outros animais e quase todas as doenças infecciosas que são agora puramente humanas tem sua raiz em outros animais também.

Organizações internacionais tem que ser aprimoradas, não abandonadas. Como bem sabem os vírus, a união faz a força.

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