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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.
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O sarampo voltou. O que está por trás disso?

Ressurgência do vírus no Brasil levanta ameaça de surto. Vacinação é a única medida efetiva para conter o problema

Por Paulo Eduardo Brandão
21 abr 2022, 10h56
vírus do sarampo
Representação do vírus do sarampo. Uma pessoa pode transmiti-lo para outras 18! (Ilustração: Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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Febre, tosse, coriza e irritação nos olhos. Começa assim, como se fosse uma gripe ou até mesmo Covid-19. Mas não é nem uma coisa nem outra. Neste texto, vamos falar sobre sarampo.

Ah, tudo bem, é só sarampo? Aquela doença que causa pintinhas engraçadas na pele e que todo mundo tem quando era criança? Nada demais, certo? Errado! O sarampo pode ser letal!

A infecção consegue se alastrar para os olhos, o ouvido, os pulmões e o cérebro. E levar crianças e adultos à morte.

O vírus do sarampo está entre nós há uns 10 mil anos. É um vírus de tamanho discreto, embrulhado em um envelope − alguém já disse que vírus nada mais são do que más notícias embrulhadas em um envelope, mas já tratamos disso neste espaço −, com um genoma bem econômico feito de RNA, capaz de codificar apenas oito proteínas.

Ele não tem parentesco com o coronavírus, mas sim com outro agente infeccioso comum em cães, o vírus da cinomose − a doença provoca, entre esses animais, sintomas mais ou menos compatíveis com o nosso sarampo. Mas as semelhanças param por aí: o vírus do sarampo só infecta pessoas, não é uma zoonose.

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Uma pessoa infectada com o vírus do sarampo o transmite a outra pelo ar e por contato direto também. Pode disseminá-lo para outras 18 pessoas, uma taxa de transmissão de causar inveja a qualquer micróbio. O vírus penetra pelo sistema respiratório, se reproduz e se espalha pelo corpo humano.

+ LEIA TAMBÉM: Por que não faz sentido contestar as vacinas?

Passado e presente

Até o início dos anos 1960, tínhamos mais de 2 milhões e meio de mortes anualmente no mundo todo por sarampo. Hoje, esse número baixou para algo como 140 mil. Como fizemos isso? Com campanhas de vacinação!

Não há tratamento específico para a doença. Só treinando nosso sistema imune por meio de vacinas eficazes e seguras, como aquelas disponíveis em campanhas públicas de imunização e em clínicas de vacinação privadas, podemos diminuir a transmissão e o impacto do sarampo e, quem sabe um dia, erradicá-lo.

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Não é só vacina: sabemos que a desnutrição aumenta significativamente o risco de morte por sarampo e a pandemia de fome joga a favor da doença.

Tem mais más notícias envelopadas aqui: a cobertura vacinal, ou seja, o número de pessoas imunizadas, vem caindo há alguns anos, resultado da falta de conscientização sobre a importância dessa proteção e de movimentos antivacina pelo planeta.

O resultado disso? A ressurgência do sarampo em países diversos, incluindo o Brasil.

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Nosso país já foi considerado livre da doença de 2016 a 2017, mas aí o vírus voltou a aparecer. Neste ano, foram registrados casos no estado de São Paulo e no Amapá. Pouco para se preocupar? De jeito nenhum! Lembre-se: uma pessoa passa para outras 18 e nem todas estarão imunizadas.

É um surto em formação. Mais um. Mais uma doença que, como a Covid-19, poderia ser contida rapidamente. De mais quantos vírus precisamos para nos convencer de que vacinação e saúde pública não são um custo, mas um investimento? A resposta está soprando ao vento.

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