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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.
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A Covid-19 e a nova Revolta da Vacina

Ataques contra a vacinação para Covid-19 ecoam episódio que marcou a história brasileira. Por que eles não fazem sentido − ainda mais no século 21?

Por Paulo Eduardo Brandão
16 fev 2022, 10h56

Altamente contagiosa, a varíola se espalhou e permaneceu por todo o mundo por milênios. Os seres humanos, únicos hospedeiros do vírus causador da doença, manifestavam pústulas na pele no corpo inteiro. Quem sobrevivia (estima-se que sete em cada dez acometidos) ficava com sequelas pela vida toda.

Não havia muita esperança para se livrar dessa infecção tão terrível. Até que, em 1796, o médico inglês Edward Jenner começou a colher o conteúdo das pústulas de vacas que estavam com sua própria forma da doença − hoje se sabe que ela é causada por um vírus aparentado com a “nossa” varíola − e a inocular em pessoas. Pois elas ficavam imunes ao problema.

Como esse material usado para a proteção humana vinha das vacas e, em latim, o que vem de vacas se denomina vaccinus, o método ganhou o nome de vacinação.

Jenner não fez tudo sozinho, claro. Observações feitas por trabalhadoras que ordenhavam vacas na Inglaterra já indicavam que esse tipo de prevenção era possível, bem como relatos vindos da China.

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+ Leia também: Tire 7 dúvidas sobre isolamento e testagem por causa da Covid-19

Saltemos para o século 21. Mesmo hoje, nem sempre a vacinação tem o objetivo de zerar uma infecção viral. No caso das vacinas para Covid-19, a meta é reduzir sintomas, impedir quadros graves e permitir que a pessoa se recupere mais rápido.

De bônus, também se produz menos coronavírus para ser transmitido por aí. A lógica é a mesma para imunizantes contra outros coronavírus usados em cães, galinhas e gados há décadas.

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É exatamente por isso − não erradicar a infecção − que não basta só se vacinar. Em um cenário de pandemia, temos que continuar utilizando máscaras e evitando aglomerações. Tudo precisa se somar se quisermos acabar com essa situação mais depressa do que o apenas possível.

Outra soma fundamental que devemos levar em conta é que as vacinas (incluindo as da Covid-19) podem despertar tanto a produção de anticorpos neutralizantes quanto a menos famosa imunidade celular. Mas para que ela serve?

+ Leia também: Variante Ômicron pode representar o fim da pandemia?

Primeiro, as células do sistema imune treinadas pelas vacinas são capazes de detectar e destruir os vírus que infectaram nosso organismo depois de escaparem da primeira barreira, os anticorpos.

Segundo, mesmo que o vírus queira escapar dos anticorpos colocando variações nas suas proteínas para as quais os anticorpos olham, como a espícula do coronavírus, outras áreas da estrutura viral que não variam são identificadas pelas células imunes que então colaboram com a operação dos anticorpos.

Assim, ter um sistema imune bem treinado, com anticorpos e células imunológicas prontos e ávidos por brigar com o vírus, nos dá a chance de nos proteger inclusive das variantes virais.

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Só que tem mais uma variável para entrar na conta da imunidade: a sua curta duração quando falamos nos coronavírus. Isso abre caminho a eventuais reinfecções. Para não perder a forma, nosso sistema de defesa precisa de um apoio de tempos em tempos, justamente os reforços de vacinação que deveremos tomar durante um período.

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Vamos relembrar alguns fatos. As vacinas aprovadas contra a Covid-19 são seguras e eficazes, em adultos e crianças. Não causam miocardite. Não matam mais que a doença. Não inserem genes virais em nossas células nem nos transformam em répteis.

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E isso se aplica às vacinas baseadas em RNA mensageiro (como a da Pfizer e a da Moderna). Na verdade, uma infecção natural pode nos legar uma maior quantidade de RNA mensageiro do vírus do que os imunizantes em questão (e por um tempo ainda mais longo).

Por que então tantas revoltas contra essas vacinas? Voltemos à varíola. Em 1904, o sanitarista Oswaldo Cruz implantou um plano de vacinação obrigatória contra a doença na cidade do Rio de Janeiro.

Parte da população, marginalizada socialmente e sem compreender o papel positivo da vacina, não só se recusou a tomar como fez protestos violentos que culminaram na morte de dezenas de pessoas. O episódio ficou conhecido como Revolta da Vacina.

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Não faz sentido repetir algo do gênero. Por isso, promover a educação científica é tão importante quanto a vacinação para o controle da Covid-19. Esclarecer a população sobre o funcionamento e o efeito inegável das vacinas nesta e em outras doenças é nosso dever e o dever dos governos, tanto quanto promover o saneamento básico e o acesso a alimentação adequada e serviços de saúde.

Esses eram, aliás, os objetivos de Oswaldo Cruz para a Saúde Pública. Concluir essa missão pode demorar, mas, como o próprio médico brasileiro dizia, devemos “não esmorecer para não desmerecer”.

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