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Cientistas descobrem elo genético entre vitamina D e TDAH

Mas calma: o achado não quer dizer que a deficiência da substância causa o transtorno

Por Cibele Edom Bandeira, bióloga*
20 out 2024, 07h00
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Salmão e ovo estão entre os alimentos que podem fornecer vitamina D (VEJA SAÚDE/SAÚDE é Vital)
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A deficiência de vitamina D é uma condição de saúde global, que tem sido relacionada a várias condições psiquiátricas e comportamentais, incluindo o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Além disso, alguns estudos têm mostrado que a suplementação de vitamina D pode melhorar os sintomas do TDAH, quando utilizada em conjunto com os tratamentos clássicos.

Uma pesquisa conduzida por mim e pelo psiquiatra Fernando Neves, liderada pela Profa. Verônica Contini e publicada no Nutritional Neuroscience, explorou como genes relacionados à vitamina D podem influenciar também no surgimento de desatenção, hiperatividade e impulsividade.

O estudo envolveu dois grupos de indivíduos adultos, e é produto de uma colaboração científica entre pesquisadores da Univates, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e da Universidade de São Paulo (USP).

Nós analisamos tanto o impacto de genes específicos, envolvidos na metabolização da vitamina D, quanto da variabilidade do genoma que modula os níveis desse hormônio no sangue. Para isso, calculamos um escore poligênico, um cálculo que estima os níveis de vitamina D de acordo com todas as variantes do nosso genoma que impactam nessa medida.

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Como resultado, encontramos uma relação entre menores escores poligênicos para vitamina D e mais sintomas de desatenção. Para hiperatividade, a associação foi na direção oposta: a arquitetura genética relacionada a menores níveis de vitamina D estava associada à menor hiperatividade.

+ Leia também: Quem precisa tomar vitamina D? Diretriz atualiza recomendações

Esse estudo abre novas perspectivas sobre como a substância pode influenciar no transtorno e enfatiza a necessidade de mais pesquisas para explorar essas complexas interações. Vale destacar que a pesquisa não sugere que a deficiência de vitamina D cause o TDAH, mas sim o que chamamos de pleiotropia, onde os genes estão relacionados a várias características, e não só a uma, como vemos nas famosas ervilhas de Mendel.

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Esse conceito é muito importante, pois muitas pessoas confundem pleiotropia com causalidade. Em outras palavras, alterações genéticas que já nascem com a gente podem, ao mesmo tempo, desregular os níveis de vitamina D e aumentar sintomas de depressão, ansiedade, desatenção, hiperatividade, etc.

Os dados disponíveis na literatura científica também não apoiam a ideia de que o déficit seja a causa do TDAH. De forma geral, os resultados sugerem que a substância se correlaciona de forma diferente com cada sintoma, inclusive em indivíduos sem diagnóstico clínico.

Devido à heterogeneidade clínica, muitos estudos podem perder nuances importantes do transtorno, como sintomas mais ou menos exacerbados em cada indivíduo.

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Pesquisa brasileira sobre TDAH busca voluntários

Atualmente, sigo investigando o TDAH como pesquisadora de pós-doutorado na USP, na Rede de Pesquisa TDAH Brasil. O estudo desenvolvido pela rede envolve importantes financiamentos nacionais e internacionais, e avalia a diversidade genética do transtorno em brasileiros, bem como suas relações com sucesso acadêmico, profissional e outros transtornos psiquiátricos.

No momento, precisamos de voluntários do sexo masculino, pois tivemos anteriormente uma maior participação e engajamento de mulheres. Interessados de São Paulo e região metropolitana devem entrar em contato pelo e-mail tdahbrasil@usp.br, e os de Porto Alegre e região metropolitana pelo e-mail tdahbrasil@ufrgs.br.

Os trabalhos citados neste artigo tiveram apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

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*Cibele Edom Bandeira é bióloga e pesquisadora em Genética e Biologia Molecular da Universidade de São Paulo (USP)

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