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Tá na internet, tá na TV, tá nos livros... tá no nosso dia a dia. O jornalista André Bernardo mostra como fenômenos culturais e sociais mexem com a saúde — e vice-versa.
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A geração ansiosa de “Depois a Louca Sou Eu”

Filme baseado em best-seller de Tati Bernardi entra em cartaz retratando a "geração Rivotril" e o boom de ansiedade que afeta os brasileiros

Por André Bernardo
25 fev 2021, 16h07

Tati Bernardi não esperou Depois a Louca Sou Eu (Companhia das Letras – clique para comprar) ser publicado para enviar uma cópia, ainda em pdf, a Júlia Rezende. O ano era 2014 e as duas tinham acabado de rodar Meu Passado Me Condena 2 —Tati como roteirista e Júlia como diretora. Quando recebeu o arquivo, Júlia não conseguiu parar de ler e ficou a madrugada acordada.

Ao terminar a leitura, disse para si mesma: “Tenho que fazer esse filme! É a história da minha geração: a geração Rivotril”, pensou a cineasta, referindo-se ao nome comercial do mais famoso ansiolítico do mercado, o clonazepam, prescrito em quadros de insônia, ansiedade e depressão.

Dois anos depois, por ocasião do lançamento do livro, a atriz Débora Falabella também leu e adorou. E, em um encontro com a autora, revelou que tinha se identificado com a protagonista. “Sou superansiosa. Já tive crise de ansiedade e fui parar no hospital”, relata. “Se um dia o livro virar filme, gostaria que você fizesse”, convidou Tati.

Mais cinco anos se passaram, o projeto saiu do papel e chega agora às telas do cinema. Júlia chamou o roteirista Gustavo Lipsztein para “costurar” as muitas situações, entre trágicas e hilárias, descritas no livro e transformá-las numa narrativa linear, com começo, meio e fim. Para a diretora, o maior desafio foi tratar de um tema delicado e doloroso — a ansiedade e suas agruras emocionais — com leveza e humor.

Público interessado não falta: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ansiedade atinge mais de 9% da nossa população, ou 18,6 milhões de brasileiros. “Tomamos muito cuidado para não tratar o assunto de maneira desrespeitosa. O filme diverte mas também faz pensar. Está difícil viver. A protagonista está tentando sobreviver a si mesma. E dar nome ao que está sentindo é o primeiro passo para encontrar ajuda”, afirma Júlia.

A geração Rivotril

Na comédia dramática, essa geração é representada por Dani Teixeira, um publicitária com pretensões literárias que sofre de crises de ansiedade e ataques de pânico. “Meu coração acelera, não consigo respirar, parece que vou morrer…”, descreve a personagem interpretada por Débora Falabella logo no comecinho do filme, durante uma de suas crises.

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Nessas horas, Dani se deita no chão do banheiro mais próximo, estica as pernas em cima do vaso sanitário e, com a respiração ofegante e as mãos úmidas, espera a crise passar. “Tudo no filme é levado muito a sério. Não tiramos sarro do problema. Muita gente vai se identificar, acredito. Mas a maioria tem vergonha de admitir. Isso não precisaria ser um tabu”, analisa Débora.

Tudo o que Dani mais quer é levar uma vida normal: ir à balada com os amigos, viajar no réveillon com o namorado, não passar mal no lançamento do próprio livro, e por aí vai. Só que nem sempre consegue. “Não vou deixar quem eu sou sabotar quem eu tenho que ser”, professa em determinada cena. Dani já tentou de tudo: Freud, Jung, Lacan… Nada parecia surtir efeito.

Até o dia em que começa a fazer uso de remédios tarja-preta… “Tem hora que a minha cabeça parece uma chaleira que vai esquentando, esquentando, esquentando…”, desabafa a protagonista. Filha única, ainda era criança quando os pais se separaram. A mãe, interpretada por Yara de Novaes, não lidou bem com a separação e, para dizer o mínimo, tornou-se superprotetora.

Diante das primeiras crises da filha, que tinha pavor de achar barata na comida, não hesitou em levá-la a uma benzedeira. “Eu só estou tentando ajudar”, explicou a mãe à certa altura do filme. “Então, ajuda um pouco menos que você vai ajudar bastante”, rebateu Dani.

As duas faces da ansiedade

A estreia de Depois a Louca Sou Eu no cinema estava prevista para 23 de abril de 2020. Mas, por causa da Covid-19, o lançamento foi adiado por tempo indeterminado. Enquanto o filme não chegava às telas, Júlia e Débora resolveram produzir o Diário de Uma Quarentena, websérie em sete episódios que mostrou a protagonista em situações de isolamento social.

Os vídeos foram gravados pela atriz em casa, com seu celular. O primeiro episódio foi escrito por Tati e os demais por Gustavo. “Quanto tempo mais de quarentena? Dois, três, quatro meses? Ninguém diz por que ninguém sabe”, queixa-se Dani no primeiro episódio, acrescentando que, para passar o tempo, tem arrumado os livros na estante, comprado coisas esdrúxulas na internet, feito chamadas de vídeo com amigos de quem nem gosta tanto…

Nesse cenário instável por natureza, o consumo de clonazepam, o princípio ativo do Rivotril, aumentou 13% durante a pandemia. De acordo com relatório do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), passou de 27,6 milhões de caixas, em 2019, para 31,3 milhões, em 2020. “A experiência trágica da pandemia provocou ansiedade em muita gente. Vimos que tratar desse tema era mais necessário e importante do que nunca”, observa Júlia.

Autora do livro que deu origem ao filme, Tati Bernardi admite que, durante boa parte do confinamento, sentiu dificuldade para escrever. “Além da cabeça exausta de tanta notícia ruim, acho que o peso de algo mortífero e sem controle transformou boa parte das histórias que eu gostaria de contar em algo menos importante e entrei numa crise”, diz.

Mas as emoções desencadeadas pela crise podem ter um ângulo bem-vindo. O psiquiatra Daniel Martins de Barros, autor de O Lado Bom do Lado Ruim (Sextante – clique para comprar), é um dos especialistas que argumentam que sentimentos como medo, tristeza e raiva têm sua face positiva. E a ansiedade, também teria? “A ansiedade, sobretudo para a psicanálise, é sinônimo de angústia. E a angústia, quando bem usada, pode mover a gente a mudar de emprego, de cidade, de profissão”, observa a escritora.

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