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Terapias de conversão provocam traumas em pessoas LGBTQIA+

Tentativas de promover a atração heterossexual aumentam sintomas de depressão, transtorno de estresse pós-traumático e tentativas de suicídio, mostra estudo

Por Lucas Rocha
Atualizado em 18 nov 2024, 09h24 - Publicado em 18 nov 2024, 09h17
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Pessoas LGBTQIA+ submetidas a "terapias de conversão" sofrem danos profundos e duradouros (Foto: D-Keine/Getty Images/Veja Saúde)
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Na adolescência, Héder Bello, do Rio de Janeiro, percebeu que sua identidade e orientação sexual não se encaixavam no ambiente em que vivia. De família evangélica, partiu dele a busca por mudar a própria sexualidade.

Ao todo, foram 12 anos envoltos em diferentes técnicas de conversão. Além de consultas com psicólogos e rituais religiosos, ele chegou a morar seis anos em uma casa mantida por instituições com esse objetivo.

Nada surtiu efeito — pelo contrário, as consequências foram duras. “Tive dismorfia corporal, estresse pós-traumático, depressão, além de ideações suicidas”, relata.

Para o carioca, o ponto de virada surgiu com a graduação em psicologia. Ao longo do curso, ele passou a entender melhor o processo vivenciado e a se aceitar.

Hoje, aos 38 anos, atua como psicólogo e atende pacientes com histórico semelhante, além de ter sido um dos organizadores do livro Tentativas de Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs.

+ Leia também: Os desafios da população LGBTQIA+ no acesso à saúde

Terapias de traumatização

Rituais religiosos, aconselhamento comportamental e técnicas de aversão são alguns dos métodos utilizados pelas chamadas “terapias de conversão”, que buscam promover a atração heterossexual ou alinhar a identidade de gênero de uma pessoa com seu sexo atribuído ao nascer.

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Apesar dos avanços em termos de aceitação, respeito e inclusão, essa é uma realidade presente ainda hoje — e com implicações bastante nocivas.

Medidas do tipo estão ligadas ao aumento de sintomas de depressão, transtorno de estresse pós-traumático e tentativas de suicídio. É o que revela um novo estudo liderado por especialistas da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e publicado no periódico The Lancet Psychiatry.

“Em última análise, essas práticas são influenciadas por uma combinação de pressões religiosas, culturais e sociais que visam manter padrões heteronormativos ou cisnormativos”, resume o médico Mitchell Lunn, coautor do trabalho.

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Clique para ampliar (Editoria de Arte/Veja Saúde)
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A análise mostra ainda que os danos foram mais significativos entre indivíduos submetidos à dupla modalidade, que aborda orientação sexual e identidade de gênero.

Os estudiosos destacam que essas tentativas devem ser chamadas não de terapias, mas de práticas de conversão ou esforços de mudança, considerando que não foi demonstrado nenhum benefício terapêutico.

Nos EUA, os impactos negativos dos métodos para a saúde mental têm sido bem documentados. Entidades como a Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente e a Associação Psiquiátrica Americana denunciaram seu uso. Contudo, não há uma proibição nacional por lá.

+ Leia também: Sorofobia: entenda como a discriminação impacta pessoas que vivem com HIV

“Embora não esteja totalmente claro por que alguns países continuam a permitir práticas de conversão, normas sociais podem contribuir para sua persistência. Em alguns casos, crenças religiosas ou culturais também desempenham um papel na perpetuação”, pontua Lunn.

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Os voluntários também foram questionados sobre pontos como nível educacional, origem étnica e detalhes sobre a infância.

Das 191 pessoas que se lembraram das tentativas de conversão de orientação sexual, 100 disseram que o procedimento foi comandado por um líder ou organização religiosa. Enquanto 55 afirmaram que o condicionamento foi facilitadas por um profissional ou organização de saúde mental.

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Clique para ampliar (Editoria de Arte/Veja Saúde)

Para os autores, o combate ao problema exige uma abordagem multifacetada, envolvendo investimento em saúde, educação e mudanças na legislação.

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“Reformas legais podem desempenhar um papel relevante, com países potencialmente promulgando leis que vetam essas práticas. A educação também pode ajudar a mudar atitudes sociais, por meio de campanhas de conscientização pública sobre os danos potenciais dessas medidas e educação inclusiva sobre orientação sexual e identidade de gênero“, destaca Lunn.

Para o epidemiologista Nguyen Tran, pesquisador de Stanford e autor do estudo, são necessárias ações de apoio às pessoas afetadas.

“Existem várias estratégias-chave, incluindo conectar indivíduos com redes LGBTQIA+ de apoio, fornecer cuidados de saúde mental afirmativos, que respeitem identidades de gênero e orientações sexuais diversas e promover a autoestima, à medida que os indivíduos abraçam seus verdadeiros eus”, pontua.

“Nossas descobertas podem ajudar a informar formuladores de políticas públicas, gestores de saúde e grupos de defesa sobre a necessidade de intervenções direcionadas a reduzir os danos dessas ideias e ações”, conclui Tran.

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