Coronavírus pode ser mais grave em pessoas com doenças no coração
Um médico explica o porquê de o novo coronavírus causar sintomas mais sérios em pacientes com problemas cardiovasculares. Saiba como se prevenir
Pessoas com doenças cardiovasculares e idosos são mais propensos a desenvolver complicações da Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Segundo dados do Colégio Americano de Cardiologia (ACC), em fevereiro de 2020, 40% dos hospitalizados com resultado positivo para essa infecção apresentavam alguma patologia cardiovascular ou cerebrovascular prévia. Além disso, 6,7% dos pacientes manifestaram arritmia e 7,2%, uma lesão no miocárdio.
De acordo com relatos, além de insuficiência respiratória, o desenvolvimento de insuficiência cardíaca contribuiu para a primeira morte registrada associada ao Covid-19. Já no Brasil, o primeiro caso confirmado, também no final de fevereiro, é de um homem de 61 anos, hipertenso e cardiopata.
Mas como explicar essa maior vulnerabilidade à nova epidemia? De maneia geral, indivíduos com doenças crônicas, como os acometidos por problemas no coração, apresentam deficiência no sistema imunológico. Uma vez infectados, eles correm um maior risco de exibir complicações sérias em relação a uma pessoa saudável.
No entanto, esse “privilégio” não é apenas para o coronavírus. Qualquer infecção terá mais chances de afetar gravemente pacientes com enfermidades que comprometem as defesas do corpo. Um exemplo é a mortalidade relacionada à gripe (provocada pelo vírus Influenza), que é maior em pessoas com histórico de doenças cardiovasculares.
Outro fato que precisamos destacar — mas cujo papel em relação ao novo coronavírus ainda não está claro — é de que vários pacientes com males cardiovasculares usam medicações que podem favorecer sangramentos. Dessa forma, contribuiriam para o agravamento da Covid-19.
O perfil incerto dessa doença ainda não permite traçar paralelos com outros tipos de infecções virais. Mas a miocardite — uma inflamação no músculo do coração às vezes desencadeada pela dengue —, teoricamente também poderia ser provocada pelo novo coronavírus. Obviamente, pesquisas na área são de muita importância para entender o potencial impacto cardiovascular desse vírus emergente.
O fato de o coronavírus ainda ser pouco conhecido, com pesquisas desenvolvidas em tempo real enquanto acompanhamos sua propagação pelo mundo, traz insegurança para afirmações categóricas dos pesquisadores. Mas a correlação desse agente infeccioso com o coração já não pode ser descartada.
Se a população, de maneira geral, precisa seguir as orientações das autoridades sanitárias para se precaver, os portadores de cardiopatias devem estar ainda mais atentos, redobrando cuidados para minimizar a probabilidade de contágio. Uma das orientações do ACC, inclusive, é que a triagem e o tratamento de pacientes com Covid-19 sejam priorizados na presença de diabetes e doenças cardiovasculares, renais, respiratórias e outras crônicas. Mas esse importante ponto de debate ainda não foi detalhado pelo Ministério da Saúde do Brasil.
Como já destaquei, os idosos também estão entre o “público-alvo” do vírus. E não apenas pela fragilidade imunológica ocasionada pela idade, como também pela série de doenças que acometem essa faixa etária — incluindo as complicações cardíacas.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os óbitos relacionados ao novo coronavírus estão mais presentes a partir dos 70 anos: 8% dos indivíduos com doenças crônicas entre 70 e 79 anos não resistiram à infecção. Dos 80 anos em diante, o número sobe para 14,8%. Na população em geral, a taxa fica em torno de 2%.
Aos pacientes com problemas cardíacos crônicos, vale redobrar os cuidados, comunicar ao médico sobre possíveis sintomas e, principalmente, investir em uma vida saudável, com boa alimentação e exercícios físicos. Uma coisa podemos afirmar: nenhum vírus se sente em casa em um corpo saudável.
*Luciano Drager é cardiologista, diretor científico da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) para o biênio 2020-2021 e professor associado do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).