Tecnologia amplia possibilidades das lentes de contato
Especialista discute as tendências da categoria, das novas lentes para ceratocone às personalizadas, passando por lentes inteligentes e outros avanços
Os avanços tecnológicos em oftalmologia aumentaram as possibilidades de tratamento de diversas condições complexas, que antes eram muito limitadas.
É o que mostram as inovações apresentadas no último ICSC 2023 Meeting – Congresso Internacional de Lentes de Contato Esclerais, que aconteceu recentemente em Fort Lauderdale, na Flórida (EUA).
Além da expansão para o mercado de mundial de novidades que já eram usadas em alguns países, o foco foi para as novidades em lentes de contato esclerais – que são maiores do que as convencionais, alcançando a parte branca do olho.
No evento, foram apresentadas ainda tendências em lentes de contato para controle da progressão de miopia e para práticas esportivas.
As lentes esclerais
Antigamente, as pessoas com irregularidades na córnea causadas por acidentes, altos astigmatismos, altas miopias e ceratocone tinham como opção as lentes de contato que tocam diretamente na córnea.
Com o avanço no design e material das lentes, foram criadas as lentes de contato esclerais, com apoio na esclera, que é a parte branca do nosso olho, deixando a córnea livre e sem toque.
Esta característica confere mais estabilidade e conforto, já que a parte com mais sensibilidade nesses casos é justamente a córnea.
Personalização é tendência
No caso do ceratocone e de outras doenças, muitas vezes a solução definitiva é realizar o transplante de córnea.
Porém, com o aumento da tecnologia na confecção das lentes de contato esclerais, conseguimos personalizar cada vez melhor a lente, adiando ou até mesmo evitando a necessidade de uma cirurgia.
Neste sentido, já é possível elaborar lentes com curvaturas maiores e mais ajustadas conforme a necessidade das pessoas.
No congresso realizado nos Estados Unidos, foram apresentadas novas tecnologias com impressão 3D para replicar com perfeição o formato do olho.
Ainda podemos ver lentes com novos ajustes, com dupla curvatura, inclusão de prismas e até mesmo a multifocalidade, que permite àquelas pessoas com dificuldade de enxergar de perto pela presbiopia, boa visão para próximo e longas distâncias.
Todas estas inovações estão retirando milhares de pessoas das filas de transplante de córnea por todo o planeta.
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Smart lens e smart glasses
O foco do ICRS Meeting 2023 foi nas inovações já existentes e disponíveis para a população.
No entanto, projeções futuras foram feitas sobre as smart lens e smart glasses. Estas são as lentes de contato e óculos inteligentes, que seguem a tendência das tecnologias vestíveis.
Com a possibilidade de inclusão de chips eletrônicos e softwares, não é exagero imaginar que, em breve, teremos projeções de realidade virtual disponíveis em acessórios como esses.
E, com a recente integração ao meio virtual, esses dispositivos têm o potencial de protagonizar um contexto disruptivo.
Somados aos relógios, celulares e outros dispositivos inteligentes, em breve poderão ser incorporados a nossa vida cotidiana, facilitando o nosso dia a dia com uma ampla gama de possibilidades.
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Já imaginou ter acesso em frente aos olhos a funções como navegação por mapas, tirar fotos e gravar vídeos de maneira interativa e prática? O mecanismo funciona como uma tela translúcida, que sobrepõe os olhos com informações.
É diferente dos óculos de realidade virtual, que são usados para acessar o metaverso e criam uma série de imagens que simulam um ambiente interativo. Os óculos inteligentes sobrepõem imagens de forma integrada à realidade que já estamos vendo.
Novos desafios
Por outro lado, o cenário cada vez mais digital traz também novos desafios para a saúde ocular, como por exemplo a tendência de crescimento de casos de ressecamentos dos olhos.
Ora, smartphones e telas de computador por si só contribuem para que as pessoas pisquem menos vezes, e os smart glasses trarão esses recursos para a frente dos olhos das pessoas.
É preciso aliar a tecnologia com os cuidados com a saúde. Lembre-se sempre de piscar, dar intervalos periódicos do uso de telas e manter as visitas regulares ao oftalmologista.
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* Tiago César Pereira Ferreira, oftalmologista, professor de cirurgia oftalmológica na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Possui especialização em Harvard, no Hospital Sírio Libanês (SP) e na UNIFESP, além de ser filiado às Academias Brasileira, Americana e Europeia de Oftalmologia