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Quando a “slow medicine” abraça o tratamento do câncer

Oncologista brasileira é autora do primeiro livro a trazer a abordagem da "medicina sem pressa" para o acolhimento e o tratamento do paciente com câncer

Por Ana Coradazzi, oncologista*
29 out 2021, 10h20
medicina humanizada
Slow medicine prega mais tempo e envolvimento do paciente com a família e a equipe de saúde.  (Ilustração: Veridiana Scarpelli/SAÚDE é Vital)
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Um diagnóstico de câncer. Uma infinidade de exames. Quimioterapia. Cirurgia. Radioterapia. Mais exames. Uma recidiva. Mais sessões de químio, mais exames, outros procedimentos. E um paciente perdido, quase invisível em meio a tudo isso, assistindo às angústias dos seus familiares e ao imenso distanciamento com que a equipe de saúde lida com as questões mais delicadas.

Esse é o cenário desolador que vem sendo desenhado pela oncologia praticada em ritmo acelerado – e, por que não dizer, insano? – nos tempos atuais. O caminho foi longo até aqui. Foram descobertas científicas impressionantes, que transformaram o câncer avançado, há pouco tempo considerado uma sentença de morte, numa doença crônica com a qual muitos pacientes podem conviver por anos ou até décadas.

Ganhamos muito. Ganhamos tanto que não sobrou tempo para nos darmos conta das perdas que tivemos no caminho. É sobre essas perdas (e sobre como minimizá-las) que escrevi o livro De Mãos Dadas – O Olhar da Slow Medicine para os Pacientes Oncológicos (MG Editores).

Inspirado pelo best-seller My Mother, Your Mother, do médico americano Dennis McCullough, meu livro percorre os percursos pelos quais pacientes com câncer e seus familiares podem passar, expondo as fragilidades e os desafios com os quais temos lidado no campo da oncologia.

O termo Slow Medicine, que pode ser traduzido como Medicina Sem Pressa, surgiu na Itália, em 2002, quando o cardiologista italiano Alberto Dolara escreveu um artigo nos convidando a exercer a medicina de uma forma mais sóbria e respeitosa, valorizando o tempo necessário para avaliar um paciente, pensar sobre o diagnóstico e estabelecer com ele uma relação mais profunda do que a visão atual, que se baseia quase exclusivamente nas doenças a serem combatidas.

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+ LEIA TAMBÉM: O câncer de mama de volta ao alvo

Foi essa proposta de uma medicina na qual o paciente (e não sua doença) é o centro do cuidado que inspirou Dennis McCullough a escrever sobre quanto uma postura mais slow poderia beneficiar nossos idosos, respeitando sua biografia, seus valores, suas expectativas, suas limitações e, principalmente, alertando sobre os excessos de exames e tratamentos nesse contexto.

Como oncologista, decidi trazer essa abordagem para o cenário do enfrentamento ao câncer. De Mãos Dadas está organizado em oito estações, que vão do diagnóstico até o período após a morte, e perpetua uma mensagem: não estamos sozinhos. Em cima de histórias reais de pacientes, procurei ser honesta quanto às muitas limitações e falhas do nosso sistema de saúde atual e expor as deficiências na formação técnica que resultam em profissionais pouco capacitados para acolher demandas que estejam além das mazelas físicas.

Também discuto a tendência perigosa de se analisar apenas dados científicos de forma superficial e seguir indiscriminadamente protocolos de condutas sem o questionamento necessário, podendo colocar em risco a segurança e o bem-estar dos pacientes. Mas, o principal, o livro busca iluminar uma via alternativa para lidar com tudo isso.

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Trabalhando princípios como o tempo de cada um, a individualização, a autonomia, a segurança, o uso consciente e parcimonioso das tecnologias, a paixão e a compaixão, meu objetivo é mostrar como os pacientes oncológicos e seus familiares podem identificar fragilidades e atuar sobre elas, aprimorando inclusive a relação com a equipe de saúde, numa parceria mútua. Essa é a filosofia da Slow Medicine.

Quando o câncer é compreendido como responsabilidade de todos, quando seu peso é carregado por muitos braços, quando ele deixa de ser apenas uma doença para se tornar uma experiência compartilhada, a neblina se dissipa e a vida reaparece no horizonte. De Mãos Dadas, portanto, é uma obra aberta a pacientes, familiares, amigos, cuidadores e profissionais de saúde. Afinal, temos muito a aprender caminhando juntos.

* Ana Coradazzi é oncologista, responsável pela equipe de oncologia clínica da Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp e autora do recém-lançado De Mãos Dadas – O Olhar da Slow Medicine para o Paciente Oncológico (MG Editores)

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