Quando a imunidade se volta contra o próprio corpo
Médica explica o que são as doenças imunomediadas, como a artrite reumatoide e a psoriásica, e alerta que elas são mais comuns do que se imagina
Já imaginou não conseguir fazer coisas simples do cotidiano, como caminhar, subir escadas ou ir ao cinema, sem sentir vergonha, desconforto ou dor? Essa é a realidade de milhares de brasileiros que convivem com doenças imunomediadas, nome dado a um conjunto de enfermidades crônicas e não transmissíveis para as quais não há cura e que, em geral, acometem pessoas no auge da vida social e profissional.
A principal característica desse grupo de doenças é o desequilíbrio no sistema imune. As defesas do corpo passam a reconhecer os próprios tecidos e órgãos como estranhos e os atacam, gerando inflamação e sintomas diversos.
As causas ainda não são totalmente conhecidas, mas podem estar relacionadas a fatores genéticos e hormonais, além de hábitos de vida pouco saudáveis e exposição a infecções, traumas ou ambiente tóxicos.
Fazem parte do rol de doenças imunomediadas, por vezes chamadas de autoimunes:
– Psoríase, condição que provoca lesões na pele;
– Artrite psoriásica, complicação da psoríase que atinge as articulações;
– Artrite reumatoide, caracterizada por dor, rigidez e inchaço nas juntas;
– Doença de Crohn e retocolite, que afetam o sistema gastrointestinal.
Em comum, essas enfermidades apresentam no início sintomas parecidos com os de outras doenças, algo que dificulta o diagnóstico precoce.
A rigidez nas articulações da artrite psoriásica, por exemplo, pode ser interpretada como resultado de esforço excessivo. A dor nos pés da artrite reumatoide, como uso de um calçado inadequado. A diarreia da doença de Crohn, como virose. E assim por diante.
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Procurar o médico e conversar abertamente com ele é, portanto, fundamental. Outra barreira comum nesse contexto é iniciar o tratamento correto quanto antes. Para isso, entender em que fase da doença o paciente está é essencial na escolha da terapia.
Tivemos avanços notáveis no tratamento nos últimos 20 anos, representados especialmente pelos remédios imunobiológicos. Eles foram desenvolvidos por meio de biologia molecular, o que permitiu estabelecer alvos específicos a serem combatidos com precisão. São medicamentos seguros e eficazes, que melhoram os sintomas e devolvem a qualidade de vida.
Também é possível observar casos em que se estabelece uma correlação entre diferentes doenças imunomediadas. É o caso da psoríase e das doenças inflamatórias intestinais. Como parte desses quadros tem efeitos sistêmicos, a manifestação pode ocorrer de maneiras variadas e se associar a múltiplas comorbidades, entre elas os problemas cardiovasculares e os transtornos mentais.
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Daí a importância de um diagnóstico e tratamento corretos mas também do cuidado multidisciplinar, com acompanhamento por nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, educador físico e terapeuta ocupacional.
Mesmo nas especialidades médicas, é crucial ter a interação de diferentes áreas, como reumatologia, dermatologia e psiquiatria. Só a assistência integral irá viabilizar a recuperação do paciente e a manutenção do sucesso do tratamento.
A sociedade precisa ter mais consciência sobre a jornada desafiadora de quem tem uma doença imunomediada. Isso passa por conhecer os sinais dessas enfermidades, não negligenciar seus sintomas, procurar o médico se houver queixas e buscar seguir o tratamento recomendado.
Aí estão as chaves para controlar o problema ou colocá-lo em remissão. Afinal, é possível viver com saúde e sem pausas!
* Carla Dionello é reumatologista, PhD e membro da comissão de artrite psoriásica da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR)