Por que lutar pelo diabetes e a obesidade diante do governo brasileiro
Coordenadora de novo movimento social em prol de quem convive com essas condições explica os esforços e desafios para melhorar a assistência no país
Lutar é uma tradição brasileira que vem desde a época em que o país era colônia. Tivemos vários movimentos sociais que, desde então, trouxeram aprendizado, conhecimento e, na maioria das vezes, desenvolvimento para nossa sociedade.
Na área da saúde, os movimentos sociais aprimoraram o acesso ao tratamento adequado de inúmeras doenças. Mas a luta continua…
No caso do diabetes, a incorporação de medicamentos e a atualização dos protocolos e conteúdos dos programas de educação voltados a profissionais de saúde, gestores e pessoas com a condição estão prontos para sair desde o ano passado, mas até agora não foram disponibilizados.
Apesar da legitimidade da causa e do reconhecimento das associações de pacientes e sociedades médicas junto ao Ministério da Saúde, o governo se encontra totalmente estagnado.
Em 2021, foram feitas diversas reuniões com o Ministério da Saúde para que a insulina análoga de ação rápida, vinculada ao departamento dos produtos e recursos especializados, fosse transferida para a rede de atenção básica. Passou-se um ano e nada aconteceu.
Em março de 2019, por sua vez, foi incorporada a insulina análoga de ação prolongada no SUS. Em tese, ela deveria estar disponível aos pacientes em 180 dias. Passaram-se três anos e a medicação não chegou à população com diabetes tipo 1.
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Com a pandemia, o instituto Ipsos realizou uma pesquisa em 30 países envolvendo mais de 22 mil adultos. Uma das constatações: um em cada dois brasileiros engordou no período; o ganho de peso foi, em média, de 6 quilos.
Ainda assim, o Ministério da Saúde ainda não reconhece a obesidade como doença, recomendando apenas dieta, exercícios e adoção de chás e terapias não convencionais para o tratamento no SUS.
Até o momento, apesar dos avanços farmacológicos recentes, não disponibiliza nenhum tipo de medicamento para ajudar a população acima do peso a tratar-se de forma adequada.
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Com relação às vacinas, o governo cortou as campanhas de imunização em 2019. Como resultado, a adesão da população caiu drasticamente. Agora voltam a aparecer casos de poliomielite pelo país.
Muitos gestores públicos e profissionais de saúde, assim como as pessoas que convivem com a condição, desconhecem que há um calendário de vacinação específico para quem tem diabetes.
Recentemente, o senador Jader Barbalho (PA) colocou em debate uma proposta de fiscalização e controle a fim de apurar, com o auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU), a diminuição dos investimentos federais na cobertura vacinal, seguindo o Programa Nacional de Imunização (PNI).
Por todas essas questões e outras tantas, formamos a Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e em Obesidade, iniciativa que integra 24 organizações de pacientes e tem o apoio de sociedades médicas. O projeto tem o intuito de dar voz a todos os seus membros e viabilizar a conquista por um tratamento mais adequado para a obesidade e o diabetes no Brasil (tanto nas esferas municipal e estadual como federal).
Nosso movimento une agentes transformadores no engajamento da sociedade, em um esforço que impacta positivamente a qualidade de vida dos brasileiros. Queremos fazer diferença na vida de milhões de anônimos com diabetes, obesidade e as complicações associadas.
Afinal, a luta, o conhecimento e o acesso à evolução da medicina permitirão que mais brasileiros consigam receber tratamentos melhores e possam se engajar por mais qualidade de vida.
* Vanessa Pirolo é jornalista, coordenadora do Projeto Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e em Obesidade e coautora do livro Doenças Crônicas – Saiba como Prevenir