Com o envelhecimento, as linhas de expressão ficam mais aparentes no rosto e, pelo corpo, os ossos que nos sustentam se tornam mais frágeis. Isso é resultado da perda progressiva de massa óssea, que deixa o esqueleto mais suscetível a fraturas. Diante da pandemia de Covid-19, faço uma reflexão sobre a importância de cuidar dos ossos e controlar a osteoporose na maturidade. É uma questão de qualidade de vida.
No período sem precedentes que estamos vivendo, precisamos pensar nos riscos a que estão expostos os idosos. Além de terem de permanecer mais tempo em casa por estarem no grupo de risco do coronavírus, eles precisam continuar tomando os devidos cuidados dentro de seus lares a fim de evitar fraturas ósseas — muitas vezes um sinal de osteoporose.
A osteoporose é uma doença silenciosa que afeta uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens a partir dos 50 anos. A grande maioria dos casos só é identificada após a primeira fratura. Por isso, fazer o acompanhamento médico e a realização de exames como densitometria óssea é fundamental para evitar o agravamento do problema.
Mas, enquanto muitas pessoas não podem fazer a densitometria em função do isolamento social, existe uma alternativa para identificar o risco de fraturas. Trata-se da aplicação, no consultório ou via telemedicina, de uma metodologia conhecida pela sigla FRAX, de Ferramenta de Avaliação do Risco de Fratura.
Por meio de um questionário, ela estima a probabilidade de o paciente sofrer uma fratura nos próximos dez anos. Para tanto, se vale de informações sobre fatores de risco como baixo peso, tabagismo, ingestão excessiva de álcool etc. A ferramenta avalia tudo isso e identifica rapidamente aquelas pessoas que precisam de mais atenção e tratamento específico. Além disso, preenche a lacuna da falta de acesso à densitometria, que não está amplamente disponível no Brasil.
Percepções, hábitos e consultas
Um fato que deixa a situação preocupante é que os pacientes não reconhecem a osteoporose como doença crônica e acabam tendo fraturas sem obter o diagnóstico e o acompanhamento adequado. Com os idosos em casa, reconhecemos uma realidade ainda mais alarmante, pois existe a chance de ocorrer alguma fratura sem que eles tenham conhecimento da patologia ou, no caso dos já diagnosticados, pode-se deixar de seguir as recomendações médicas por medo ou dúvida.
Mesmo antes da pandemia, as fraturas por osteoporose já eram trágicas. Apresentam alta taxa de mortalidade e são a principal causa de perda de independência funcional entre os idosos. É uma situação que se agrava com o distanciamento social imposto pela Covid-19. As pessoas mais velhas passam a maior parte do tempo em casa e sem assistência médica, já que muitas consultas acabaram canceladas no primeiro semestre.
Estima-se que uma fratura por osteoporose aconteça a cada três segundos no mundo — as mais comuns envolvem quadril, coluna, punho e braço. Quanto maior a idade do indivíduo, maior a probabilidade de o problema ocorrer. Não podemos negligenciar o fato de que, com o isolamento, o número de acidentes domésticos pode aumentar e que, devido ao medo da exposição ao vírus, muita gente diminua a rotina de acompanhamento médico.
O ponto é que cuidados simples fazem total diferença para prevenir fraturas especialmente neste momento. Uma das nossas prioridades é evitar quedas. Então livre-se dos tapetes que podem deslizar, não deixe fios espalhados pelo chão, não coloque móveis em áreas de grande circulação, mantenha os cômodos bem iluminados… Essas precauções reduzem o risco de tombos e outros acidentes capazes de culminar em dias de hospital.
Para as pessoas que já têm o diagnóstico de osteoporose, nada de abandonar o tratamento em meio à pandemia. Continue em contato com seu médico, ajuste a rotina para se exercitar e ter uma alimentação equilibrada e jamais interrompa os medicamentos prescritos sem orientação. Prevenir fraturas é um assunto urgente. Elas derrubam a qualidade de vida e trazem complicações como restrições de mobilidade, internação e até óbito.
Por isso tudo, não deixemos de lado a preocupação com outros problemas de saúde durante a pandemia. É preciso prestar atenção aos ossos e dar continuidade ao apoio e aos tratamentos médicos. Na hora que você for dar os parabéns a seus familiares pelo Dia dos Avós, lembre-se desses conselhos e estimule os idosos a se cuidar e a ter uma vida livre de fraturas.
* Dr. Ben–Hur Albergaria é ginecologista e vice-presidente da Comissão Nacional de Osteoporose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)