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Pandemia aponta urgência no tratamento da obesidade

O fato de indivíduos obesos serem as grandes vítimas da Covid-19 evidencia que o excesso de peso não é um problema estético, e sim de saúde

Por Luiz Alfredo Vieira d’Almeida, médico-cirurgião*
Atualizado em 18 dez 2021, 11h25 - Publicado em 18 dez 2021, 11h25

A despeito de todas as consequências graves da Covid-19, alguns aprendizados podem e devem ser absorvidos como uma oportunidade efetiva de compreensão sobre a obesidade – até para não continuarmos errando no presente e, principalmente, no futuro.

Uma das lições mais importantes, sem dúvida, é a necessidade de entendermos essa doença – sim, ela é reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde desde 1985 – como um quadro crônico e incurável. Infelizmente, até hoje esse problema sério é comumente associado a um “desleixo” por parte do paciente.

Quem convive com indivíduos obesos há um bom tempo (no meu caso, essa relação já dura 20 anos) sabe que esse “conceito” está errado. Na verdade, é mais um preconceito da própria sociedade, que não tem o conhecimento de que a obesidade mórbida não tem cura, apesar da existência de cirurgia e muitos medicamentos.

Dito isso, algo tem que ser feito. Em primeiro lugar, esses pacientes necessitam ter ciência de sua doença e tratá-la pelo resto da vida – mesmo aqueles operados com a cirurgia bariátrica. O que esse pessoal não precisa, com certeza, é de julgamentos.

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+ LEIA TAMBÉM: Novos rumos para a perda de peso

Um dos legados dessa brutal pandemia é justamente jogar luz sobre esse tema. Desde o início da quarentena, em março de 2020, foi nítida a mudança no entendimento sobre quais eram os fatores de risco associados ao agravamento da Covid-19.

Logo de cara, eles ficavam restritos à idade e presença de comorbidades, como diabetes e hipertensão. Com o avanço de casos, viu-se que o obeso faz parte de um dos grupos com maior risco de morte diante de complicações.

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Pessoas com obesidade têm duas vezes mais chance de serem hospitalizadas por agravamento da Covid-19, de acordo com a Federação Mundial de Obesidade. Além disso, os dados mais recentes da entidade, divulgados em março deste ano, apontam que 90% das mortes pela doença ocorrem em países com graus elevados de sobrepeso.

Os números indicam ainda que as taxas de mortalidade pela infecção são 10 vezes mais altas nas nações em que mais de 50% da população apresenta obesidade.

Esses resultados foram mapeados e divulgados em um amplo estudo chamado ‘COVID-19 and Obesity: The 2021 Atlas’, em que a Federação aponta que a obesidade não recebe priorização proporcional ao seu impacto, e que é imperativo que haja uma resposta mundial coletiva no mesmo tom para o combate à doença – em especial nos países emergentes, com alto crescimento no número de obesos, caso do Brasil.

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+ LEIA TAMBÉM: Não se trata a obesidade sozinho, é preciso envolver quem está ao redor

Por aqui, a doença tem sido a principal causa de morte por consequência do coronavírus em pessoas consideradas jovens desde o começo da pandemia.

Um boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde em abril do ano passado já mostrava que a taxa de letalidade de jovens obesos era de 60%, enquanto em idosos com mais de 60 anos essa mesma base era de 43%.

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Deveríamos fazer desse momento um marco para o combate da obesidade. Não podemos deixar passar essa oportunidade de atualizar entendimentos e diretrizes.

E agrego um exemplo. Muito se fala sobre os prejuízos em longo prazo do confinamento para a nossa saúde mental e da exaustão da rotina de home office e videoconferências. Mas, para quem luta contra a obesidade, esse resultado pode ser ainda mais alarmante.

Muitos obesos já têm dificuldades de mobilidade, o que retroalimenta sua própria incapacidade de perder peso. E para quem margeia esse quadro, o isolamento dificulta o hábito do exercício e provoca ansiedade, um combustível da compulsão alimentar.

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Destaco ainda que a própria obesidade, em si, já é um forte fator indutor de distúrbios psicológicos e doenças psicossomáticas.

Uma pesquisa publicada em 2018 pela University of South Australia (UniSA) e pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, apontou que o IMC elevado pode estar associado ao desenvolvimento da depressão. É a “tempestade perfeita”. Não tenho dúvidas de que esse público será o mais prejudicado no futuro.

É preciso avançar de verdade nessa questão. Retirar a venda, derrubar rótulos. Desassociar o tema do culto ao padrão de corpo, que marginaliza quem não se enquadra.

Obesidade não é questão de estética. Se não incluirmos hoje os nossos obesos nas estratégias de saúde pública e atenção primária em saúde, teremos perdido uma importante batalha. E essa não depende da guerra contra o vírus.

*Luiz Alfredo Vieira d’Almeida, médico-cirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e diretor do Núcleo de Tratamento da Obesidade

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